∆ Capítulo| 1

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Yve Gordon

Por um instante, pensei que estivesse morta. O meu corpo inteiro doía e tudo girava ao meu redor. O sangue subia para minha cabeça, apenas ressaltando o fato de que eu estava de ponta cabeça. O carro estava virado. A dor que se instalava por todos os membros era dilacerante, e o medo de uma explosão iminente do veículo me consumia como uma faísca em meio a gasolina.

— S-socorro... — Murmurei, com a voz falha e embargada.

Lágrimas escorriam pelo meu rosto enquanto a chuva entrava pelas janelas estouradas do carro, molhando todas as minhas coisas — agora espalhadas por todo canto — Estava presa apenas pelo cinto de segurança, que impossibilitou que meu corpo fosse arremessado durante o acidente. Rapidamente, o soltei. Caí com um baque no teto do carro, sentindo uma dor imensurável me preencher ao bater com a cabeça novamente. Por que essas coisas só aconteciam comigo? O carro rangia com meus movimentos, e o cheiro de fumaça misturado com gasolina era, ironicamente, o combustível para que eu me apressasse a me arrastar para fora. Por sorte, não havia vidros para impedir, apenas cacos pelo chão que cortavam a minha pele.

Aos poucos, consegui me levantar. Eu não havia quebrado nenhum osso, mas havia luxações e hematomas pelo meu corpo, além de arranhões. Estava molhada e dolorosamente machucada. Olhei em volta, procurando qualquer sinal de vida para recorrer ajuda. A estrada estava vazia e completamente escura. Ótimo! O cenário era como um filme de terror, enviando arrepios pelo meu corpo e me fazendo encolher contra os meus próprios pensamentos, que vacilaram naquele momento. Eu me sentia como uma criança medrosa. Afinal, Dylan nunca me deixava fazer nada sozinha. Talvez, agora, eu entenda o porquê.

— Droga... Meu celular. — Bati com as mãos nos bolsos da calça jeans. Nada.

Olhei novamente para o carro virado na beira da estrada. A minha bolsa estava no banco de trás, e mesmo com a fumaça e as faíscas que escapavam pelo capô, eu sabia que precisaria do meu celular para chamar ajuda. Mas não demorou muito até que um incêndio se iniciasse — mesmo com a chuva molhando tudo em seu caminho — eliminando, assim, a minha última alternativa. Esforcei-me ao máximo para correr e me afastar do carro, quando uma explosão repentina iluminou toda a estrada, levando consigo uma fumaça preta e densa, que se misturava com a forte neblina ao meu redor.

— Porra! — Gritei assustada, protegendo o rosto, já sujo de fuligem e sangue.

Agora, sem carro, machucada e sem celular, eu sabia que precisaria voltar. Sentar e esperar resgate não era uma alternativa. Ou talvez, era. Logo viriam, seria impossível não ver a fumaça ou não ter ouvido a explosão. No entanto, o frio me fazia bater os dentes, e a dor em minhas costelas fazia todo o meu corpo se arquear em resposta. Sentei-me no acostamento, próxima de uma árvore, e resolvi esperar pelo resgate. A chuva ainda caía como um dilúvio, molhando toda a estrada e formando poças fundas. Abracei o meu próprio corpo, tentando ao menos me oferecer um pouco de calor, e de preferência, não morrer congelada enquanto esperava, o que era ridículo. Onde estava a polícia rodoviária?

...

As horas se arrastavam e, com elas, o meu desespero aumentava. O silêncio era cortado apenas pelo som da chuva e do vento uivando. O incêndio já havia sido apagado, eliminando a minha única fonte de calor. Sim, o meu carro pegando fogo. As minhas roupas encharcadas colavam-se à pele, intensificando o frio. A solidão daquela estrada deserta era avassaladora. Cada farfalhar das folhas, cada ruído indistinto na escuridão fazia o meu coração disparar. Aquilo era sinistro, e a falta de gente me fazia questionar se realmente eu ainda estava na estrada principal, onde peguei caminho quando saí da cidade.

Me levantei, farta de esperar e já sentindo as pontas dos dedos dormentes. Era hora de fazer alguma coisa ou realmente morrer aqui. A polícia nunca fora tão inútil quanto agora, e quando eu fosse resgatada, iria abrir um boletim de ocorrência no primeiro momento. Contra quem? Eu não faço ideia. A dor já estava me fazendo delirar.

Olhei para os dois lados da estrada, eu não enxergava ao menos as luzes da cidade. A neblina era tão densa, que me assustava. Quando foi a última vez que uma neblina tão forte tomou Pensilvânia? Me virei para à direita e deixei as minhas pernas me guiarem. Era o mais prático a se fazer, voltar por onde eu vim. Logo, eu estaria de volta à cidade e pediria ajuda, havia muitos estabelecimentos em beiras de estradas que funcionavam durante vinte e quatro horas. Eu poderia usar um telefone, só teria de rezar para não haver tarados lá. Já bastava a frustração de descobrir que o meu marido era um pervertido e traidor.

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