∆ Capítulo| 2

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Yve Gordon

Parei de andar bruscamente quando me deparei com uma placa. Já fazia horas que eu andava sem parar, e a sensação de não chegar a lugar nenhum era esmagadora. A chuva finalmente havia se dissipado, ainda que o clima não se tornasse mais ameno. Aproximei-me da placa com hesitação, tentando decifrar o que estava escrito no grande letreiro coberto de ferrugem e desgastado pelo tempo: Bem-vindos a Silent Hill!

Franzi o cenho, intrigada. Que lugar era aquele? Eu cresci nas proximidades e nunca tinha ouvido falar de Silent Hill. A ideia de uma cidade desconhecida tão próxima da minha realidade parecia uma piada de mau gosto. Olhei em volta, procurando sinais de vida, mas tudo que vi foi escuridão e neblina. A noite parecia interminável, e a névoa densa dificultava ainda mais minha visão. O meu instinto me dizia para voltar, mas a curiosidade e a necessidade de encontrar ajuda me impulsionaram à seguir em frente. Talvez fosse uma cidade antiga, esquecida pelo tempo e não reconhecida pelo estado. Eu já havia ouvido falar de vilarejos perdidos e lugares assim, onde o progresso não chegara e a modernidade parecia um conceito distante para o povoado. Seja lá como chamavam as pessoas presas à lugares assim.

Enquanto caminhava, os sons ao meu redor se tornavam cada vez mais surreais. O silêncio era quebrado apenas pelo som ocasional de algo se movendo na neblina. A estrada se tornara terra batida, mal iluminada pelo brilho tênue de um luar obscuro, parecia se estender infinitamente à minha frente. Os meus passos ecoavam de maneira perturbadora no vazio ao redor, aumentando a minha sensação de solidão e vulnerabilidade. Não havia sequer um animal por perto, um único gorjeio de corvos ou cantos de corujas.

À medida que avançava, pequenas casas começaram a surgir à beira da estrada. Suas janelas estavam quebradas, as portas escancaradas, e a vegetação crescia descontroladamente, invadindo o que um dia deveria ter sido um lugar habitado e com inúmeras histórias para contar. A arquitetura tinha um estilo antigo, quase vitoriano, como se a cidade tivesse parado no tempo há décadas, ou talvez séculos. O meu coração batia mais acelerado do que nunca, e um frio gélido subia pela minha espinha. Havia algo inquietante no ar, uma sensação de ser observada que eu não conseguia sacudir. A cada esquina que virava, esperava encontrar alguém - qualquer um - para explicar onde eu estava e como sair dali. No entanto, a cidade permanecia deserta, como se os seus habitantes tivessem desaparecido misteriosamente.


Já devia passar das uma ou duas da manhã, quando finalmente cheguei à uma praça central. Um antigo relógio de torre marcava meia-noite, as suas engrenagens paradas e cobertas de musgo. Bancos de madeira podres e um chafariz seco completavam o cenário, evocando uma atmosfera de abandono e desolação. Olhei ao redor, tentando encontrar algum indício de vida, mas tudo que vi foram sombras e silhuetas indistintas. Meu corpo tremia, mas eu não conseguia distinguir se era de frio ou hesitação. Tentava fingir que não, mas o medo era palpável em cada expressão que deixava escapar.

Foi então que percebi uma figura se movendo ao longe, na periferia da praça. Senti um alívio imediato. Não estava sozinha naquele deserto de ruínas, o que parecia engraçado. Como nenhum empresário comprou isso tudo e transformou numa grande indústria ou num museu requintado? Hesitei por um momento, considerando a possibilidade de ser apenas um jogo da minha mente, claramente cansada. Eu não dormia há horas, e possivelmente, poderia ser a necessidade de não estar sozinha por alguns momentos. Com passos cuidadosos, comecei a caminhar em direção à figura, esperando que finalmente encontrasse alguém que pudesse me oferecer ajuda. A medida que me aproximava, a figura parecia ganhar forma e detalhes. Era uma mulher, com roupas rasgadas e sujas, cabelos desgrenhados caindo sobre o rosto. Ela se virou lentamente, revelando olhos vidrados e uma expressão vazia. Um arrepio percorreu meu corpo, mas antes que pudesse reagir, ela abriu a boca e emitiu um som gutural, como um grito distorcido. Congelada de medo, fiquei ali, incapaz de me mover ou falar. A mulher começou a se aproximar, os seus movimentos erráticos e descoordenados. Ela não parecia assustada ou surpresa em me ver, ao contrário de mim, que estava apavorada naquele mesmo momento. Cada passo que ela dava aumentava a minha sensação de pavor, mas algo dentro de mim me dizia que fugir seria inútil. Silent Hill, com todos os seus mistérios que pareciam ainda mais assustadores neste momento, parecia ter me engolido por completo. Em que merda eu havia me metido?

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