Capítulo 05

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Tomé Gomes

Encaro o teto branco, os móveis caros que aumentavam a beleza desta mansão, estranhamente me fez lembrar do dia que o conheci.


Era uma tarde bem agitada por ser o meu primero semestre na faculdade de artes e eu estava tão feliz por visitar um exposição de arte pela primeira vez na minha vida.

As luzes brancas criavam um contraste perfeito com os inúmeros quadros penduras nas paredes pintadas a branco.

Eu sonhava em um dia depois de concluir a faculdade poder pintar vários quadros e fazer uma exposição como aquelas que sempre via na televisão junto da mulher que sempre me apoiou.

— Gostando do que vê? — uma voz grave me tirou do meu estupor. Inclino um pouco a cabeça para poder encontrar os olhos do estranho, ele era tão atraente e tinha um aroma tão viciante que o meu coração falhou uma batida.

Ele vestia um terno caro que não escondia a sua estatura robusta e as tatuagens ainda eram visíveis no seu pescoço e mãos, o piercing no seu nariz e orelhas o tornavam tão sexy que no fundo desejei que ele estivesse interessado em mim.

— Amo. Este sítio é o paraíso para mim — respondi inocentemente enquanto ainda olhava fascinado para aquele lugar.

— É mesmo? Eu tenho alguns quadros interessantes em casa, acho que vais gostar, senhor… — fez uma pausa.

— Tomé Gomes mas pode tratar por Tomé e você é… — pelo seu cheiro reconheci logo que ele era um alfa e sorri internamente, talvez fosse o meu destinado.

— Leonel Sanz Carter — estendeu a mão para mim e eu aceitei o cumprimentando sem fazer a mínima ideia que aquele seria o meu pior pesadelo.

Depois daquele dia não demorou muito para o Leonel mostrar as suas verdadeiras intenções comigo e me sinto tão estúpido por ter permitido que ele entrasse na minha vida.

Solto um suspiro quando vejo o último quadro que desenhei antes de conhecer o Leonel, as cores vivas que transmitiam a alegria que não sinto faz tanto tempo mas tudo desmorona e eu sou o culpado.

Virando para o lado, encontro o alfa que me está deixando louco. Três dias passaram desde o dia que tentei tirar a minha própria vida naquela praia.

Eu queria odiar o homem que me salvou a vida porém agradeço ao mesmo tempo, eu estava numa montanha russa de emoções que acabei esquecendo da minha própria mãe.

Hyun Jung.

Ele tem um nome adequado para a sua personalidade, não que eu saiba alguma coisa sobre coreano ou cultura deles mas andei pesquisando e descobri o significado do seu nome.

— Pode devolver, estou sem fome — a Kayla tentou retrucar ao meu pedido mas ela sabia que eu não mudaria de ideia tão facilmente.

A ruiva deixou a comida em cima da mesa e se ajoelhou na minha frente ignorando completamente a presença de Hyun na sala.

— Entendo perfeitamente como te sentes mas precisas te alimentar e não comes nada desde ontem, isso não é o que a sua mãe quereria, é? — ela falou tentando me convencer.

— Se você entende, então me ajuda a sair daqui. Eu não aguento mais ficar trancado aqui e apanhando por qualquer coisa — digo calmamente.

— Kayla! — um dos homens do Leonel chamou atenção dela antes que pudesse me responder, provavelmente um aviso para ela se manter calada e não me escutar.

— Eu vou ajudar, pode ir tranquila — a sua voz grave me deixou arrepiado. Encolho os meus pés descalços quando ele se ajoelha na minha frente com o prato de comida e uma colher nas mãos.

— O que você quer? — perguntei sem rodeios. Em toda a minha vida nunca conheci um alfa que me ajudasse sem querer alguma coisa em troca e ele não seria uma exceção.

— Quero cuidar do senhor. Se não comer vai ficar doente e eu não quero isso. Eu alimento você se quiser — franzi o cenho quando ele respondeu com mansidão e ainda mostrou um sorriso fraco que formou uma covinha na bochecha direita.

— Acha que vou confiar em ti depois de me trazer de volta? — eu sei que ele é o mesmo alfa que vi no parque entretanto não consigo confiar nele mesmo sabendo que a minha loba o reconheceu com o meu destinado.

— Como posso chamar o senhor? — questionou. Os seus olhos negros acompanhando subtilmente cada movimento que eu fazia, aquilo me fez sentir estranho.

— Tomé. Diz logo o que você quer — respondi sem rodeios.

— Não foi minha intenção fazer-te sentir desconfortável, Tomé. E mesmo eu não concordando com a maneira como ele o trata, vou julgá-lo por casar com o sr. Carter, mas saiba que eu farei o meu melhor para manter você em segurança — mordi o lábio inferior. O sabor amargo na minha boca aumentou ao escutar o homem que deveria ser o meu marido dizendo aquelas palavras para mim.

— Você pretende me proteger mantendo preso ao homem que me maltrata, bate e me humilha todos os dias? Que tipo de proteção é essa? — não consigo esconder as lágrimas que caíram dos meus olhos.

— Olha, saí da minha frente se você não tiver mais nada para dizer — digo limpando o meu rosto com raiva, odeio quando choro na frente de estranhos.

— Tomé. Podes pedir ao seu marido para comprar roupa nova para mim, estou realmente precisando mudar o meu visual — O meu avô interrompeu Hyun quando ele fez menção de falar e para ser sincero acho que é melhor assim.

— E nem respondas mal ao teu marido, sabes que ele não gosta — como o meu próprio avô pode ser tão indiferente ao sofrimento que eu passo por culpa do maldito vício dele em jogos de azar?

— As vezes eu tenho a certeza que morto estaria mil vezes melhor — digo me levantando. Saí da presença deles antes que voltasse a surtar.

Só dei alguns passos antes de ser traído pelas minhas próprias pernas. Eu odeio o Leonel por me tornar assim, tão fraco e incompetente.

— Confia nele — a Sky pediu quando me afastei do meu segurança. Não queria um alfa me tocando, o único que me toca só me machuca, porque ele seria diferente?

O meu avô não moveu nem um músculo mesmo vendo que eu tremia e Hyun se aproximou de mim tão rápido que nem escutei os seus passos.

— Isso é coisa de branco e nem sei porque continua fingindo que tem isso — Hyun tentou me ajudar mas eu me afastei dele como se estivesse pegando fogo, não gosto que me toquem quando tenho as minhas crises de ansiedade.

Arrasto o meu corpo de volta ao sofá esperando impaciente para a Kayla trazer os meus comprimidos, ela fica com eles, segundo o Leonel para evitar que alguma burrice.

E não é que ele estivesse errado, eu já tentei me entupir de remédios para ver se acabava com esse vida miserável que tenho, enfim, não funcionou e ele bateu mais depois que me recuperei.

Fecho os olhos tentando controlar os tremores, eu odeio quando isso acontece, mas é o preço a pagar pelo bem da minha mãe.

Escuto passos rápidos ao longe traz em mim o alívio. Sinto as mãos frias tocando a minha testa e as suas palavras reconfortantes que eu mal percebia.

— Tome devagar, ok — ela colocou um comprimido na minha boca e logo senti a água doce descendo pela minha garganta.

Abro os olhos lentamente e vejo Hyun me observando a distância, os seus olhos numa mistura de preocupação e medo? Porque ele sentiria medo por uma pessoa que mal conhece.

Eu ainda não senti nem um resquício dos seus feromônios desde que o incidente aconteceu, ele deve ser bom a controlar ou me enganei e ele não é quem eu penso ser?

Não importa. Destinado ou não, nós nunca teremos nada, pelo menos enquanto o meu marido viver então porque me preocupar com coisas que não posso mudar?

Breaking ChainsOnde histórias criam vida. Descubra agora