Fuga Sob a Lua Azul

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Naquela noite fria e chuvosa, eu corria pelas ruas desertas da cidade, me esgueirando pelos becos escuros, sujos e molhados para não chamar atenção. Minha única preocupação era escapar da situação indesejada em que me encontrava.

Enquanto fugia, tirei os sapatos para facilitar minha corrida e os joguei numa lixeira que encontrei pelo caminho. Estava sendo forçada a casar com um homem cruel e desconhecido, um pesadelo que eu estava determinada a evitar ao fugir no dia do próprio casamento.

Tenho certeza de que meu noivo ficou furioso ao ser deixado no altar, arruinando sua reputação, não que eu me importasse com aquele homem desprezível. Meus passos ecoavam nos becos, meus pés molhados pelas poças d'água da chuva, misturando-se ao cheiro de terra molhada e lixo espalhado.

Ouvia vozes familiares gritando meu nome, guardas que protegiam minha casa e que certamente estavam determinados a me encontrar. Eu me movia sorrateiramente pelos becos, tentando não chamar atenção, embora os sons das poças d'água sob meus pés fossem inevitáveis.

Meu vestido de noiva estava completamente encharcado pela chuva, agora marrom de lama e sujeira, mas eu estava decidida a não desistir da minha liberdade.

Meu vestido de noiva estava completamente encharcado pela chuva, agora marrom de lama e sujeira, mas eu estava decidida a não desistir da minha liberdade

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Após uma longa corrida, avistei uma porta entreaberta. Poderia ser uma armadilha naquele beco escuro e deserto, mas, impulsivamente, entrei.

Ao adentrar a casa, fui imediatamente envolvida por um forte cheiro de mofo, meus olhos cegados pela escuridão repentina. Uma aura sinistra se fazia presente, arrepiando meu corpo e enchendo-me de medo enquanto tentava me acostumar com a completa escuridão.

Vaguei perdida na escuridão, ouvindo o rangido da madeira sob meus pés, perdendo completamente o senso de direção. Em um descuido, bati a cabeça numa parede, sujando meu cabelo com poeira. Soltei um leve gemido de dor, lágrimas escapando dos meus olhos, aterrorizada sem saber como sair dali.
Aos poucos, meus olhos foram se acostumando com a escuridão, e finalmente consegui me localizar naquela casa assustadora. A primeira coisa que percebi foram ratos mortos, o que me fez abafar um grito com as mãos para não ser descoberta pelos que me procuravam.

Aterrorizada, desejava sair dali o mais rápido possível. Caminhei em direção à porta, tentando não vomitar diante da cena grotesca.

Enquanto andava, ouvia o som da chuva e dos trovões lá fora, com os raios iluminando os céus noturnos. Estava ficando com frio, encharcada dos pés à cabeça.

Decidi esperar um pouco na casa, na esperança de que a chuva desse trégua. Enquanto rezava para isso acontecer, decidi explorar a casa abandonada. Mesmo com medo, entrei cautelosamente em alguns cômodos. O ambiente era grotesco e sujo, com paredes antes brancas agora manchadas de verde, de algo desconhecido.

Ao passar a mão pelos móveis, percebi o quão velhos e deteriorados estavam, indicando que ninguém vivia ali há anos. A casa ecoava com os ruídos dos ratos, embora eu não pudesse vê-los.

Continuei pelos corredores estreitos, receosa de que alguém pudesse aparecer a qualquer momento. Em certo ponto, encontrei uma grande escada de madeira, deteriorada e com degraus comprometidos.

Decidi subir cuidadosamente, segurando no corrimão gosmento e de odor podre para manter o equilíbrio. A casa estava mal iluminada, dificultando a visão dos detalhes, mas ao alcançar o segundo andar, vi que estava iluminado pelo brilho da lua refletido por uma enorme janela do chão ao teto. Aquela lua azul me hipnotizou, envolvendo-me em uma calmaria inexplicável.

Naquele momento, esqueci meu casamento arranjado, a fuga e o medo da casa assustadora. Apenas observando aquela lua, descobri uma coragem que nem sabia possuir.
Continuei explorando os corredores da casa, agora com minha confiança renovada. No segundo andar, me deparei com um lindo papel de parede que retratava um céu noturno, com uma lua dourada e redonda, lembrando um queijo, e um mar ao fundo. A pintura refletia um desejo de liberdade, belo e melancólico ao mesmo tempo.

Desviando meu olhar do papel de parede, adentrei outro corredor vazio, com paredes brancas e iluminação precária. No canto do olho, avistei um baú amarelado que me intrigou, embora sua cor apagada o camuflasse no ambiente deserto.

Caminhei com cautela até o baú coberto de poeira e teias de aranha. Com curiosidade, abri-o esperando encontrar algo útil ou interessante. Para minha decepção, só havia algumas roupas masculinas velhas, sapatos e acessórios quebrados.

Entre as peças, destaquei uma camisa de linho bege, uma calça de lã marrom, um cinto de couro preto e sapatos do mesmo material, todos maiores que meu corpo pequeno de 1,57m. Decidi vestir as roupas masculinas para substituir as minhas molhadas, mesmo sabendo que minha mãe ficaria chocada se me visse assim.

Despi-me lentamente, sentindo o frio arrepiar minha pele. Ao vestir as roupas quentes, respirei aliviada apesar do tamanho desproporcional. Saí do cômodo branco e voltei para o anterior, onde a grande janela permitia ver que a chuva finalmente cessara, minha chance de escapar.

Desci as escadas apressadamente e abri a porta lentamente, verificando se o beco estava vazio antes de sair da casa abandonada. Continuei pelos becos, alerta a qualquer barulho suspeito.

Após uma breve caminhada, cheguei a uma doca onde navios desembarcavam, sabendo que muitos levavam mulheres para serem vendidas em prostíbulos. O medo retorna ao imaginar ser capturada por um desses navios.

Perdida em pensamentos sombrios, fui notada pelos guardas da minha casa, que me perseguiam desde antes. A fuga se intensifica quando, reconhecida mesmo com as roupas masculinas, começo a correr entre os navios do porto, evitando criminosos.

Os guardas continuam no meu encalço, e as minhas tentativas de despistá-los falham. Vejo um grande navio de madeira vermelha diferente dos demais, saindo do porto. Impulsivamente, pulo a bordo, sem imaginar como essa decisão mudaria a minha vida completamente.

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