**Elyzia**
A chuva batia com força na janela da minha cabine, os pingos formando pequenos rios que escorriam pelo vidro. Enquanto o navio balançava violentamente sob a força dos ventos cortantes. O ar frio só me faziam querer me enterrar ainda mais fundo na cama, embaixo dos cobertores que me aqueciam. Meus olhos mal se abriam, e o conforto da cama era irresistível, como se estivesse sobre uma nuvem acolhedora.
Suspirei e me virei para o outro lado, buscando a melhor posição para voltar a dormir. Do lado de fora, o mundo poderia estar se despedaçando, mas aqui, naquele instante, tudo parecia tranquilo.
**Jasper**
A tempestade sacudia o navio com uma fúria implacável, o vento soprando com força como se o próprio oceano quisesse engolir nossa embarcação. A visibilidade era quase nula, e o céu parecia um manto negro sem fim. No meio do caos, pensei amargamente em como seria útil ter trazido Jeffrey, o único que sabia nos guiar por águas desconhecidas mesmo em condições tão terríveis.
- Vamos, marujos! - minha voz soou acima do rugido da tempestade. - Façam de tudo para manter o navio de pé!
Enquanto a tripulação corria de um lado para o outro, tentando segurar tudo o que pudessem, eu estava agarrado ao leme, lutando para manter o navio no curso. Mas era uma batalha desigual; cada vez que o navio subia com a onda, meu corpo recebia uma nova ducha de água salgada, que ardia nos olhos e parecia querer me cegar.
- Maldita água - murmurei, secando os olhos o melhor que conseguia. Mas logo em seguida, mais uma onda quebrava sobre mim.
As ondas cresciam cada vez mais, colossais, arremessando-se contra o casco. Era um milagre o navio ainda estar inteiro. "Maldita hora para decidir essa aventura," pensei, com uma pontada de arrependimento. Seria impossível alcançar a caverna subaquática nas condições atuais, a menos que quiséssemos ir direto para o fundo do mar. Mas agora era tarde demais para arrependimentos.
Com a força das ondas nos golpeando sem descanso, a única coisa a fazer era resistir. A tempestade poderia durar horas, e estávamos todos à beira da exaustão. Quando, finalmente, as ondas foram enfraquecendo e os trovões cessaram, senti o alívio me invadir.
- Finalmente... - murmurei, com o corpo exausto e o gosto salgado da água nos lábios.
Com as roupas encharcadas e os músculos tensos, caminhei pelo convés. A água se acumulava em poças ao longo do piso, misturando-se com o suor dos homens. Ao meu redor, os marujos estavam jogados pelo convés, exaustos, mal conseguindo levantar. Olhei em volta, querendo descansar, mas sabia que não podia me dar ao luxo. A tempestade poderia recomeçar a qualquer momento, e precisávamos estar prontos.
**Elyzia**
A tempestade finalmente dava sinais de trégua, mas eu nem pensava em deixar a cabine. O clima lá fora só fazia o ambiente na cabine parecer mais aconchegante, e, envolta em cobertores, sentei-me para ler um livro que encontrara jogado por ali. Abri as páginas e comecei a mergulhar em uma história dramática que parecia combinar perfeitamente com o som ritmado da chuva batendo na janela.
Ainda enrolada nos cobertores, decidi pegar um livro largado ao meu lado. Era uma história dramática e combinava perfeitamente com o clima. Mergulhei na leitura, sentindo o mundo exterior desaparecer aos poucos, minha atenção toda voltada para as páginas. A narrativa seguia uma jovem escritora buscando seu lugar no mundo, enfrentando problemas pessoais e desilusões. A medida que lia, me identificava com ela - a busca por um propósito, a tentativa de entender onde realmente pertenço.
Apesar de ser uma princesa, não me via voltando para Fay-Eryndell. Sentia saudade de minha terra, mas meu lugar era aqui, no mar, junto a Jasper e nossa tripulação. Era uma escolha consciente, minha verdadeira liberdade.
**Jasper**
O peso da exaustão me dominava, mas eu insistia em manter-me em pé. Precisava ser forte pelos meus homens. Eles contavam comigo. Eu era o capitão, e a última coisa que podia fazer era mostrar fraqueza. Mas meu corpo dava sinais de que estava no limite, e antes que percebesse, senti minhas pernas cederem e desabei sobre o chão do convés.
Minha mente ainda resistia, tentando manter-se lúcida. Quando foi a última vez que realmente dormi bem? Meus olhos queriam se fechar, mas meu dever gritava que não podia. Será que, por uma vez, eu poderia confiar que eles cuidariam de tudo sem mim?
A escuridão foi me envolvendo lentamente, e senti minha consciência esvair-se, cedendo à exaustão. Foi nesse sono inquieto que memórias começaram a me assombrar.
**Passado**
Eu nasci na capital de Lythin-Seryn, um reino cercado por música e pesca, conhecido pela sua cultura exuberante e tranquilidade. Meu pai era capitão da marinha e costumava me levar a bordo de seu navio, ensinando-me o básico sobre o mar. Além dele, havia minha mãe e minha irmã mais velha, Ho-on. Ho-on era o oposto de uma dama convencional; era independente, com uma personalidade forte que eu admirava profundamente.
Lembro-me das nossas brincadeiras no jardim. Ho-on, sempre com uma energia inigualável, escalava as árvores e ria enquanto eu tentava alcançá-la. Com seis anos de diferença entre nós, ela me protegia de tudo e de todos, sem nunca se importar com as provocações das outras crianças. Eu a via como uma heroína, alguém que eu queria proteger um dia.
Eu sabia que era um alvo fácil para aqueles que zombavam de mim por depender de uma mulher, mas ela era minha irmã, minha protetora. Um dia, prometi a mim mesmo que me tornaria forte o suficiente para proteger não só Ho-on, mas todos ao meu redor. A marinha parecia o caminho natural, uma forma de retribuir o que ela fazia por mim.
Mas então... tudo mudou. Meu amor pelo reino se converteu em algo sombrio, em uma raiva amarga, e o que antes era um desejo de proteger tornou-se um anseio de destruição.
**Presente**
Acordei com alguém me sacudindo levemente. Minha visão estava turva, e demorei para reconhecer Joshua e outros marujos ao meu redor, todos com expressões de alívio e preocupação.
- Capitão, está tudo bem? - Joshua perguntou, sua voz carregada de apreensão. - Pensei que estivesse...
Ainda meio confuso, forcei um sorriso.
- Não morro tão fácil assim - falei, tentando parecer confiante. - Só estou exausto.
Meus homens relaxaram, mas ainda percebi a preocupação em seus olhos. Quando tentei me levantar, senti minhas pernas cederem novamente, mas Joshua e outros me seguraram antes que eu caísse.
- Capitão, precisa descansar - disse Josh com firmeza.
Os demais acenaram em concordância, e, sem escolha, deixei que me conduzissem para a cabine. Era estranho ser cuidado por eles, uma inversão completa do que costumava ser. Mas não podia mais lutar contra a exaustão, e logo apaguei novamente, rendido ao cansaço acumulado.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Red Storm
AventureFugindo de um casamento arranjado, uma jovem destemida embarca em um navio, sem imaginar que essa decisão mudaria sua vida para sempre.