Capítulo 3 - Lightning Bolt

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Shoreline Anphiteater ,WA - 25 de outubro de 2014

A turnê Lightning Bolt se estendeu por um ano e a melhor maneira do Pearl Jam encerrá-la foi no evento beneficente que sempre contava com a presença da banda, a Bridge School Benefit que atendia crianças com deficiências especiais.

Mesmo estando todos cansados, os membros da banda concordaram em dar uma entrevista coletiva falando sobre o ano de turnê que compreendeu não somente os Estados Unidos mas também parte da Europa. Não quiseram deixar para o dia seguinte, estavam loucos para voltar para casa e descansar. Com os eventos beneficentes sempre acabavam cedo, todos aceitaram que a coletiva fosse assim que o show acabasse.

Repórter: Depois de mais de 30 anos saindo em turnê, ainda existe algo diferente com que a banda se depare?

Jeff Ament, baixista: Sim, notamos que o nosso público continua fiel a ponto de aumentar em tamanho quando vejo pais que trazem seus filhos ao nosso show. Antes, eles iam solteiros agora se casaram, tiveram filhos, e a família está toda lá nos prestigiando.

A concordância era notável a partir do momento que todos da banda consentiam com a cabeça e sorriam ao mesmo tempo.

Repórter: A Pearl Jam é mais conhecida por letras com tons agressivos e não é uma banda que faz referência a baladas românticas. No entanto, não é possível deixar de citar Black. Por que depois dela, não houve mais baladas do tipo, falando sobre o amor? Devemos entender que os componentes da banda não são nada românticos a ponto de se negarem a escrever algo nessa linha?

Eddie Vedder: Não! Vocês devem entender que gostamos apenas de escrever sobre outros assuntos e deixamos esse tipo de letra romântica para as bandas que insistem em ser tachadas como glam metal. - ironiza

Repórter: Eddie, vamos lá! Você tem uma sólida e linda família. Vai dizer que sua esposa, Jill McCormick, não lhe inspira músicas assim?

Eddie fitou o repórter por alguns segundos e depois olhou para o teto como costumava fazer cada vez que procurava elaborar uma resposta prática e objetiva.

Eddie Vedder: Nem sempre precisamos trazer a público em forma de música, aquilo que vivemos ou sentimos. Basta algumas filosofias de vida e está tudo certo!  Compreender que a felicidade a dois existe e nem sempre ela será perfeita, já dá uma boa música... E compreender também que as coisas não são imutáveis... Às vezes, o que menos se espera pode, de repente, mudar completamente. Ter um conceito de felicidade que se teve uma vida toda pode vir a mudar.

Repórter: Conceito de felicidade?

Eddie Vedder: Sim. Às vezes, você passou a vida inteira acreditando que a sua felicidade estava ligada a algo como um relacionamento, ou ter muito dinheiro, ou ter uma família grande, ou ainda ser próspero na sua carreira. Mas, de repente, você pode chegar a um nível de maturidade que te faça pensar que tudo que você acreditou na vida inteira era banal. Não sei se usei a palavra certa, eu não quis dizer que não era nada importante mas, às vezes, podemos achar que nossa felicidade é muito mais do que aquilo que se achava que tinha. Ser feliz é uma conquista para poucos.

Repórter: E você é feliz?

Eddie manteve um sorriso tímido mas permaneceu mudo. Não respondeu de imediato. Também não procurou palavras práticas e objetivas. Olhou para o chão, refletiu por alguns segundos, deu um sorriso anasalado e se virou para o repórter novamente:

Eddie Vedder: Eu...acho que sou! Não tenho do que reclamar. Levo um casamento de muitos anos, tenho uma filha adulta e outra adolescente, uma carreira estável, amigos fiéis, um público fiel... Acho que posso dizer que sou feliz!

Após responder essa pergunta, Eddie pareceu sentir-se desconfortável. Alegou cansaço, deu um tapinha no ombro de Jeff e pediu que ele comandasse a entrevista coletiva junto com os demais. Adentrou novamente os bastidores do último show, cumprimentou amigos, tomou alguma cervejas conversou com novos produtores e, por fim, pediu ao segurança que chamasse o motorista, pois ele queria voltar para casa.

- Eddie, avisamos a Jill que você só voltaria amanhã. Não vai participar da confraternização que sempre acontece após esse evento?

- Não, Bob! Ainda está cedo, Seattle fica a meia hora daqui...Eu, sinceramente, gostaria de dormir na minha cama hoje...

- Como quiser!





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