{24} A audiência prt.1

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Narrador on 

— Testemunha de defesa, Alvo Percival Wulfric Brian Dumbledore — disse uma voz baixa atrás de Harry e ele virou a cabeça tão rápido que estalou o pescoço.

Ao ver Dumbledore, uma intensa emoção despertou no peito de Harry, um sentimento de fortalecida esperança muito semelhante à que o canto da fênix lhe propiciara. Ele queria chamar a atenção de Dumbledore, mas o diretor não estava olhando para o seu lado; continuava com os olhos erguidos para o obviamente constrangido Fudge.

— Ah — exclamou Fudge, que parecia completamente desconcertado. — Dumbledore. Então, você... hum... recebeu a nossa... mensagem que a hora e... local da audiência foram mudados?

— Não chegou a tempo — respondeu Dumbledore animado. — Porém, graças a um feliz engano cheguei ao Ministério três horas mais cedo, por isso não houve prejuízo.

Fudge permaneceu em silêncio; de fato, esperava que tanto Dumbledore como Potter perdessem a audiência, mas parecia ter subestimado os dois.

— Ah... bem... suponho que iremos precisar de mais uma cadeira... eu... Weasley, será que você poderia...?

— Não se preocupe, não se preocupe — disse Dumbledore gentilmente; puxou então a varinha, fez um breve aceno, e uma confortável poltrona de chintz apareceu ao lado de Harry.

Dumbledore se sentou, juntou as pontas dos longos dedos e ficou olhando Fudge por cima deles com uma expressão de educado interesse. Os bruxos da corte continuaram a murmurar e a se inquietar; somente quando Fudge retomou a palavra é que eles se aquietaram.

— Sim — repetiu Fudge, folheando suas anotações. — Bom, então. Portanto. As acusações. Sim.

Ele retirou um pergaminho da pilha à sua frente, inspirou longamente e leu:

— As acusações são as seguintes: "Que ele intencionalmente, deliberadamente e com plena consciência da ilegalidade dos seus atos, já tendo recebido anteriormente um aviso do Ministério da Magia, por escrito, por uma acusação semelhante, executou o Feitiço do Patrono em uma área habitada por trouxas, na presença de um trouxa, no dia dois de agosto às nove horas e vinte e três minutos, o que constitui uma violação ao parágrafo C do Decreto de Restrição à Prática de Magia por Menores, de 1875, e também à Seção 13 do Estatuto de Sigilo da Confederação Internacional dos Bruxos." O senhor é Harry Tiago Potter, da Rua dos Alfeneiros, número quatro, Little Whinging, Surrey? — perguntou Fudge, lançando a Harry um olhar penetrante por cima do pergaminho.

— Sim, senhor — respondeu Harry.

— O senhor recebeu um aviso oficial do Ministério por ter feito uso ilegal de magia há três anos, não foi?

— Sim, senhor, mas...

— E ainda assim conjurou um Patrono na noite do dia dois de agosto? — perguntou Fudge.

— Sim, senhor, mas...

— Sabendo que não tem permissão para usar magia fora da escola enquanto for menor de dezessete anos de idade?

— Sim, senhor, mas...

— Sabendo que se encontrava em uma área povoada por trouxas?

— Sim, senhor, mas...

— Inteiramente consciente de que estava muito próximo de um trouxa naquele momento?

— Sim, senhor — disse Harry zangado — mas só usei magia porque estávamos...

A bruxa de monóculo interrompeu-o com uma voz trovejante:

— Você produziu um Patrono inteiramente desenvolvido?

— Sim, senhora, porque...

— Um Patrono corpóreo?

— Um... o quê? — perguntou Harry.

— Sim, senhora — disse Harry, sentindo-se ao mesmo tempo impaciente e levemente desesperado. — É um veado, sempre foi um veado.

— Sempre? — trovejou Madame Bones. — Você já havia produzido um Patrono antes?

— Sim, senhora. Venho fazendo isso há um ano.

— E o senhor tem quinze anos de idade?

— Sim, senhora, e...

— O senhor aprendeu isso na escola?

— Sim, senhora, o Prof. Lupin me ensinou a produzir um Patrono no terceiro ano, por causa do...

— Impressionante — disse Madame Bones, olhando-o com altivez — um Patrono verdadeiro na sua idade... realmente impressionante.

— O seu Patrono tinha uma forma claramente definida? Quero dizer, era mais do que vapor ou fumaça?

Alguns bruxos e bruxas ao redor dela recomeçaram a murmurar; alguns faziam sinais de concordância, outros franziam a testa e sacudiam a cabeça.

— A questão não é até que ponto a mágica é impressionante — lembrou Fudge num tom rabugento. — De fato, quanto mais impressionante for, pior é, penso eu, uma vez que o rapaz realizou o Patrono bem à vista de um trouxa!

Os que tinham franzido a testa havia pouco agora murmuravam sua concordância, mas foi a visão do virtuoso e discreto aceno de cabeça de Percy que compeliu Harry a falar.

— Fiz isso por causa dos dementadores! — disse em voz alta, antes que alguém pudesse interrompê-lo.

Harry esperava que houvesse mais murmúrios, mas o silêncio que sobreveio pareceu-lhe de alguma forma mais denso que antes.

— Dementadores? — exclamou Madame Bones passado um momento, suas espessas sobrancelhas se erguendo até o monóculo parecer que ia cair. — Que quer dizer com isso, garoto?

— Quero dizer que havia dois dementadores na travessa, e que eles atacaram a mim e ao meu primo!

— Ah — disse Fudge mais uma vez, olhando os membros da corte a toda volta com um sorriso antipático, como se os convidasse a compartir com ele o gracejo. — Sim. Sei. Pensei ter ouvido alguma coisa assim.

— Dementadores em Little Whinging? — exclamou Madame Bones extremamente surpresa. — Não estou entendendo...

— Não está, Amélia? — respondeu Fudge, ainda sorrindo. — Deixe-me explicar. O garoto andou pensando e decidiu que dementadores dariam realmente uma bela reportagem de capa. Trouxas não podem ver dementadores, não é mesmo garoto? Muito conveniente, muito conveniente... então é apenas a sua palavra e nenhuma testemunha...

— Eu não estou mentindo — disse Harry em voz alta, abafando mais um surto de murmúrios entre os membros da corte. — Havia dois, vindos de lados opostos da travessa, tudo ficou escuro e frio, e meu primo sentiu a presença deles e procurou fugir...

— Basta, basta! — disse Fudge, com uma expressão de grande superioridade no rosto. — Lamento interromper o que certamente seria uma história muito bem ensaiada...

Dumbledore pigarreou. Os membros da corte tornaram a fazer silêncio.

— Na realidade, temos uma testemunha da presença dos dementadores naquela travessa, além de Duda Dursley, quero dizer.

A cara gorda de Fudge pareceu murchar, como se alguém a tivesse esvaziado. Ele encarou Dumbledore por alguns momentos, dando a impressão de alguém que procura se controlar, e disse:

— Receio que não tenhamos tempo para ouvir mais lorotas, Dumbledore. Quero cuidar desse caso sem delongas.

— Posso estar errado — disse Dumbledore agradavelmente — mas tenho certeza de que, pela Carta de Direitos da Suprema Corte dos Bruxos, o acusado tem direito a apresentar testemunhas para a defesa do seu caso, não? Não é essa a diretriz do Departamento de Execução das Leis da Magia, Madame Bones? — continuou ele, dirigindo-se à bruxa de monóculo.

— É verdade. Inteiramente verdade.

— Ah, muito bem, muito bem — retrucou Fudge. — Onde está essa pessoa?

Perguntou impaciente 

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