Estava indo para casa e vi aquela menina de cabelos pretos novamente, pensei que talvez ela soubesse de algo, tinha que perguntar, dúvidas me corroíam eu precisava de respostas. Eu não confiava naquelas pessoas, mas algo nela me dizia que podia contar com ela, que podia confiar nela. Ela percebeu novamente minha ida a seu encontro, e dessa vez ela me deu um sorriso verdadeiro, e eu sorri de volta.
-Conseguiu achar a delegacia?- ela disse.
-Achei bem mais que isso, muito obrigada!- eu falei e ela entendeu o que eu disse, olhei seus olhos verdes que me fitavam como se me mandasse parar de tentar procurar respostas. Como se achar as respostas me expusesse em mais perigo. Mas eu achava mais perigoso não saber, ela tinha que me falar.
-Eu sei o que está pensando. Não posso dizer as coisas que quer saber, você não pode procurar essas respostas.- ela falou como se eu estivesse pensando alto.
-Me desculpe, mas eu sei que você as tem. E eu preciso delas, realmente preciso.
-Acredite, você viverá mais tempo se não as souber.- ela falou se afastando e entrando em sua casa, olhou pela última vez em meus olhos e disse- para o seu próprio bem, deixe sua mente como ela está.- fechou a porta e eu saí de lá, as pessoas só conseguiam me confundir mais. Alguém naquela cidade tinha que me dizer o que estava ocorrendo, por bem ou por mal.
Alguns minutos depois estava em casa, resolvi limpar toda aquela bagunça, retirei os tapetes e juntei todos os cacos e papéis espalhados, mas não entendi o que eles queriam dizer. Só sabia que não importava onde eu fosse, ele ou ela me encontraria.
Tinha que arranjar um relógio e uma arma. Subi as escadas em busca de dinheiro e tinham 367 dólares na caixa de sapatos em cima do meu guarda roupa, onde eu costumava deixar meu dinheiro. Peguei tudo e saí de casa, atravessei a rua e andei alguns quarteirões em busca de alguém para me dar informações, já havia anoitecido, o que era estranho pois não demorei muito para arrumar a casa. Avistei um jovem senhor sentado vendo sua filha brincar e chegando mais perto dele falei:
-Sabe onde posso encontrar uma relojoaria senhor?
-Sim minha querida, atravesse a rua, ande três quarteirões e vire a direita.- ele disse sorrindo amplamente, parecia jovem e casto, bonito até, olhos azuis e loiro.
-Ando meio perdida ultimamente, gostaria de alguém para me ajudar sempre.
-Oh, se quiser eu poderei ajudar.
-Faria isso?- perguntei curiosa e feliz
-Sim, ficaria feliz em ajudar.- ele disse sinceramente. Alguém finalmente iria me dar o que eu precisava.
-Agradeço tanto. Quando podemos nos ver para me apresentar a cidade?- disse empolgada.
-Amanhã mesmo, querida.- disse sorrindo. Eu gostava dele, era um bom homem.
-A qualquer hora?
-De preferência a tarde.
-Senhor?- esperei para que dissesse seu nome.
-Wilton. E você?- pensei em dizer meu nome verdadeiro, mas preferi o que todos pareciam conhecer.
-Sten.- confiava nele, mas não queria que as pessoas ali soubessem meu nome, por algum motivo que nem eu mesma conhecia.
-Sim srta. Sten. Até amanhã então.
-Até Wilton.- ninguém tinha sido tão gentil comigo, nem mesmo o meu homem de olhos castanhos mel. Meu homem.
Andei sorrindo e fui em direção a relojoaria que havia e entrei, o homem de cabelos grisalhos porém jovem me atendeu educado.
-Boa noite, srta. Como posso ajudá-la?
-Boa noite. Gostaria de um relógio simples e confiável.
-Tenho um que combina perfeitamente com o seu estilo.- disse pegando uma caixa com um relógio prata, fino, bem sofisticado, mas simples, ele era um relógio de bolso, arredondado, tinha um corrente nele e uma pequena peça para abri-lo. Era um modelo antigo. Sim, aquele era meu estilo.
-Exatamente o meu estilo, quanto custa?- disse sorrindo.
-25 dólares, minha querida.
-Vou levar. Poderia ajustar as horas agora? Por favor.
-Sim, só um minuto.- exatamente um minuto depois ele voltou com o relógio que marcavam 6:34.
-Obrigada, aqui está.- disse mostrando o dinheiro. Ele pegou, conferiu e sorriu educadamente.
-Obrigada você.- lembrei que queria uma arma mas preferi deixar que Wilton me levasse a uma loja do que perguntar a aquele homem, ele desconfiaria das minhas intenções com uma arma e eu não precisava disso agora.
Saí de lá e chegando em casa fui direto para o quarto, queria reorganizar meus pensamentos saber com o que eu trabalhava, como era a minha vida antes disso acontecer.. Apaguei as luzes para a escuridão me dar sensação de segurança e me ajudar a lembrar. Afinal, foi assim que isso tudo começou.
Relâmpagos de memórias começaram a aparecer e lembrei de quando eu trabalhava no escritório da justiça e um homem estranho ficava me encarando por horas, lembro-me também de olhar meus cabelos ruivos e cacheados no espelho, vendo sua medida abaixo da cintura. Eu me sentia estranha perto daquelas pessoas, meus pais me abraçando e o homem de olhos castanhos mel me dando um beijo casto na buxexa. Então adormeci, queria sonhar com aqueles olhos.

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Universo paralelo
Mystery / ThrillerSinopse: Eu não tinha uma noção de tempo, muito menos de onde estava. A escuridão parecia mais uma estrada na minha mente confusa, eu me lembrava das últimas 24 horas e me lembrava de um homem que tinha brilho no olhar quando falava comigo. Mas não...