Capítulo 9

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Uma enfermeira veio ao meu encontro:
-Como se sente srta. Sten?
-Estou bem, só gostaria de ir embora.- Já me sentia bem melhor e desejava sair do hospital, queria apenas estar em algum lugar que podesse chamar de casa.
-Não sei se pode Srta., ainda não está totalmente recuperada, e eu tenho que terminar por aqui, não é mesmo? Não parecer competente não é o meu tipo.. E alguém tem que terminar o trabalho para todos, afinal.- ela falou com sarcasmo, percebi o que ela estava tentando terminar, o que o estrupador começou.
-O que pensa que está fazendo?!
-O que parece, vadia? Estou matando você.- ela injetou um líquido no soro que eu estava utilizando.- parecerá um descuido pequeno de muita morfina, mas ninguém investigará, todos querem você morta, e pense em como estou sendo amigável com você. Existem muitas formas cruéis para se matar alguém e estou dando a você a vantagem de não sentir nada.- A voz dela me causava calafrios e minha vista estava escurecendo.
-Ainda posso gritar!- falei com a força que me sobrava.
-Pode tentar querida. Desejarei sorte.- ela falou saindo da sala, e deu um sorriso caloroso. Sorte era o que eu parecia ter menos naquele mundo. Ramon havia saído para assinar alguns papéis, eu precisava tirar a agulha que estava injetando a morfina, mas minha força tinha desaparecido e quando levantei minha mão, eu não estava exercendo controle sobre ela, empurrei a agulha forçando a sair do meu corpo, estava lutando contra um objeto, mas não sabia se teria melhores chances naquele momento. Só podia confiar em uma pessoa naquele hospital, e ele não estava comigo, se eu gritasse outros poderiam vir e dessa vez para ter certeza que eu iria morrer calada. Eu inspirava com dificuldade enquanto tentava tirar a agulha, e minha vista só escurecia ainda mais. Só haviam passado alguns segundos desde então. Onde diabos estaria Ramon?! Minha mão deixou de obedecer aos meus comandos, mas a agulha não estava mais conectada a minha veia ela havia caído e foi a última coisa que vi.
Acordei como se tivesse levado um susto, me sentado imediatamente, respirava com dificuldade e rapidamente. Olhei para os lados e não havia sinal do Ramon. Me sentia tonta.
-Onde eu estou??!- gritei com força, raiva era tudo o que eu tinha e iria manifestá-la. Havia um eco e apenas minha voz se estendia sobre ele, eu não estava presa. Havia algo errado, devia ser algum tipo de armadilha, alguém podia estar me observando. Quem quer que fosse não ia me matar, tinha me deixado para morrer.
Comcei a bater descontroladamente no portão enorme que havia na minha frente, e por alguns minutos nada aconteceu e eu desisti.
-Olá?!- alguém gritou do lado de fora.
-Socorro!!!- berrei, queria sair daquele lugar logo.
-Vou tirá-la dai.- eu não fazia a menor ideia de quem poderia ser, mas se estava disposto a ajudar não havia tempo para discutir.- Afaste-se do portão. Em 3! 2! 1!- O som do portão explodindo foi enorme, recuei com o instinto de me proteger e caí involuntarimente no chão.
-Como sabia que eu estava aqui?
-Eu não sabia.
-Oh, e porque tem explosivos com você?
-Porque eu poderia precisar caso a encontrasse.
-Está tentando ter para si o prazer de me matar? Ou quer me salvar?
-Na verdade, preciso de um favor.
-E por que exatamente você acha que eu faria?
-Por que precisa de mim senhorita Carrie. Querendo, ou não.- arregalei os olhos, como esse homem poderia saber o meu nome?!
-Todos aqui sabem o meu nome?
-Não. Apenas 5 pessoas. E acho que são suficientes! Você não?
-E quem é você?
-Alguém que você reconhecerá muito em breve.
-Como sobrevivi as doses de morfina?
-Alguém trouxe você para cá e injetou adrenalina ou cafeína que combate o efeito dela, e seja lá quem for confia em mim para protegé-la mesmo sabendo que quero algo de você. Tem noção de quem poderia ser?
-Na verdade, sim. Onde ele estará agora?
-Talvez tenha sido caçado.
-Precisamos ir atrás dele! Agora!- falei gritando.
-Não podemos! Não hoje.
-O que? E se matarem ele hoje?!
-Querem ele porque sabem que você irá buscá-lo. Então hoje não, seria muito óbvio. Quando estiver pronta, iremos.
-Pronta? Para o que?! Não confio em você, não darei nada do que quer, você pode ser apenas mais um que quer me matar!- mas a verdade é que eu confiava nele, como confiava no Ramon mas não sabia o porque.
-No momento Srta. sou o único que pode ajudar você.
-E o que você quer de mim?
-Isso não vem ao caso agora.
-Aaaaargh!! Nada vem ao caso agora e mesmo assim estou indo com você e sinceramente ainda não entendo o porque, se posso correr!- eu sabia que havia algo nele que iria me ajudar, meu pulso estava acelerado, ele causava sensações dentro de mim que nem mesmo Ramon conseguia, calor se expandia pelo meu peito. Isso não vinha ao caso, engoli em seco.
-Porque posso proteger você. Mas não pense que estou pedindo que confie em mim. Não pode confiar em ninguém aqui, apenas em você mesma, nos seus instintos.- ele me olhava de um jeito caloroso, tínhamos um passado e seja lá o que tenha acontecido aquele homem já havia me amado. Fitei ele, tentando me lembrar de algo, mas não conseguia era como se não houvessem memórias dele em mim, mas eu sabia que eu o conhecia.
Ele era de uma pele morena clara, olhos azuis e cabelos loiros, um sorriso perfeito como o corpo. O que havia nessa cidade com homens bonitos?!
-Para onde estamos indo?- estávamos no meio da floresta, ele tinha uma lanterna e uma mochila que devia ter suprimentos ou algo do tipo, eu estava com a sede oscilando sobre mim.
-Para um lugar seguro.
-Por que confio em você?
-Não confia.- mas havia sido uma pergunta sobre o passado. Resolvi não falar mais sobre, talvez ele também não se lembrasse, apenas sentisse como eu.
-Você tem água?- ele abriu a mochila e tirou uma guarrafa térmica de mais ou menos 2 litros. E ao me entregar a garrafa nossos dedos se tocaram fazendo todo meu corpo vibrar com a sensação e olhei nos seus olhos, podia ver que ele sentia o mesmo quando me tocava. Recuei imediatamente, abrindo a garrafa, retirando a tampa que servia como copo e bebendo a água, agora estava me recusando a olhá-lo, e ele percebeu. Parecia que quanto mais eu evitava o assunto mais ele vinha a mim, ele também estava evitando e com certeza sabia de algo que eu não, como todos. Agora eu realmente me sentia confusa com respeito a Ramon.. Por que um homem que eu nem mesmo lembrava a voz causava sentimentos conflitantes comigo assim? Me sentia indefesa perto dele, como se minha vida dependesse da sobrevivência dele.
-Obrigada.- disse entregando a garrafa, e dessa vez ele não encostou os dedos sobre os meus. Guardando a garrafa de volta a mochila. Ele estava procurando perigo ao redor, eu olhei para o meu pulso que contia a marca X, gostaria muito de saber o que significava. Será que somente eu a tinha? Tentei olhar para seus pulsos mas não havia nada, e se houvesse eu não veria.. Estava escuro demais e ele não estava colaborando muito. Então os pensamentos escorregaram sobre mim, soando as palavras: "Para o seu próprio bem, para o nosso futuro." Eu estava ofegante e ele parou me olhando, eu estava fora de mim, pois a voz dele soava distante.
-Rei??- ele passou a mão sobre meu rosto, mas eu continuava distante, como se a lembrança enjaulasse minhas memórias.- Rei, responda!- ele gritou e dessa vez, inspirei profundamente e coloquei minhas mãos sobre os joelhos tentando me recompor.- O que houve? Está tudo bem?- ele tinha um tom realmente preocupado em sua voz, e seus olhos estavam empalecidos como se estivesse com medo. Medo de memórias sobre ele? O que ele estava escondendo?
-Sim, só algumas lembranças voltando.- ele me olhou com medo.- O que há com você? Se me lembrasse o que aconteceu conosco seria tão ruim?
-Não! Mas eu não quero que você fique confusa sobre qualquer coisa, você não precisa disso agora. Você precisa viver.
-Então ajude-me a saber como cheguei aqui, o que eu fiz e o que há com tudo e todos.
-Isso realmente não irá ajudar.
-A mim? Com certeza irá, porque eu cansei disso! Cansei de não saber de nada e de ter esse fragmentos em mim, e não entendê-los!- eu soei firme e ele entendeu.- Que seja para nosso próprio bem, para o nosso futuro, não é? Que não saibamos de nada para sobreviver.- eu consegui tocá-lo dessa vez, porque ele olhou com os maiores olhos que já havia visto alguém arregalar.
-Quando ouviu essa frase?- ele falou me encurralando. E seja o que fosse tinha um grande significado, porque a sua mandíbula havia ficado tensa e seu corpo todo estava rígido.
-Eu não sei. Mas consigo lembrar de alguém me dizendo isso.
-Quem? Consegue lembrar?
-Esse é o ponto que quero descobrir. Aposto que a tal pessoa está me atormentando.
-Estão deixando avisos a você?
-Acho que se trata apenas de uma pessoa. Mas não sei quem é. Alguma sugestão de quem possa ser?
-Não, mas vamos descobrir.- ele realmente estava sendo sincero, porque seu olhar não vacilou o meu, e havia muita raiva os cobrindo.
-Fez a mesma coisa a você?
-Não.. Mas me tirou tudo o que eu tinha!
-Oh, sinto muito, espero que algum dia façamos o necessário para que ele pague e você recupere o que perdeu.
-Não posso recuperar você, nunca mais.- olhei para ele, minha boca havia caído com o choque das palavras e a veracidade com que meu coração estava oscilando era demais. Fechei de volta me recompondo. Ele olhou para mim, sem expectativas ou qualquer objetivo, a única coisa que podia ser vista em seus olhos eram tensão e medo. Com o impulso de agarrá-lo ou me jogar em seus braços andei em sua direção, mas parei um passo a sua frente, lembrando de Ramon. Ainda sim, peguei o seu rosto com minhas duas mãos e o analisei, ele ficou me olhando com o desejo subindo aos seus olhos, e lágrimas escorrendo por seu rosto.
-O que aconteceu entre nós?
-Eu não podia fazer nada, apenas a deixei com Ramon para cuidar de você. Eu sabia que ele daria o seu máximo, porque ele a amava, mas não tanto quanto eu. Eles achavam que eu tinha morrido, todos vocês achavam, mas eu passei no teste e sobrevivi. Eu estava aqui, mas ninguém sabia. Até agora.
-Você foi o primeiro a chegar aqui?
-Talvez. Mas não me deixaram escolha. Ou você, ou eu. Eu não aguentaria sua morte, e eles me prometeram nunca machucá-la se eu fizesse o que eles queriam. Então eu fiz, e estive me escondendo todo esse tempo, mas no momento em quem soube que estava aqui, deixei minha promessa de lado, de nunca mais vê-la para não a ferirem ou mata-la, afinal se está aqui, uma dessas coisas vai acontecer, ou as duas.- ele realmente estava sendo sincero, e ainda me amava. Eu não sabia como reagir a tudo isso. Agora eu realmente não sabia o que fazer.
-Você se lembra o que aconteceu antes de chegar aqui?
-Não muito, quando estamos passando nossas lembranças são quebradas para que, "recomecemos uma nova vida".- Ele disse fazendo o gesto de aspas.
-Passamos de onde?
-Isso não importa agora. Precisamos achar um lugar para nos proteger e treiná-la.
-Você está bem com isso?
-Eu estou ótimo com o fato de você estar viva. Com o fato de estar aqui, comigo. Mesmo que não seja mais minha, cada esforço, cada sacrifício, é compensado se eu souber que você está bem. Não importa com quem ou onde. E é por isso que você tem que viver. Por todos nós.- ele falou caminhando e segurando minha mão o mais forte que podia e eu apertei de volta. Ele me fazia bem, e eu precisava me controlar e me concentrar perto dele, cada parte de mim queria ser irracional. O toque dele me fazia parecer viva, uma vibração intensa, eu não queria viver sem aquilo de novo. Não havia mais nada para falar, seguimos com apenas o barulho de nossos pés andando sobre as folhas secas do chão, estava muito escuro mais eu não tinha medo. Depois de alguns minutos que pareceram horas, encontramos um lugar pequeno que podia ser chamado de casa, feito de madeira e revestido com cimento. Entramos sem pensar duas vezes, estava frio aquele noite e precisávamos de um lugar.
A casa não possuía móveis ou qualquer objeto, estava ali por algum motivo, mas não sabia qual.
-Sua casa?
-Não. Mas precisaremos ficar aqui durante esta noite.- ele falou trancando todas as possíveis entradas e armando um colchão enorme que cabia duas pessoas.
-Você foi com o objetivo de me encontrar?
-Sim, eu sabia que estaria lá.
-Como?
-Fui avisado por um velho amigo que estaria presa, mas tinha que encontrar o lugar.
-Por que ele queria que você me encontrasse? Por que ele me trancou?
-Por que os lobos estão sempre esperando do lado de fora para atacar e eu posso proteger você.- ele deitou tranquilamente na cama armada e colocou ao lado uma arma calibre 12, como se fosse a coisa mais natural do mundo.- não vai se deitar?- Olhei para ele por alguns instantes, seus olhos azuis analisavam cada movimento meu e praticamente me joguei e afundei no colchão, não queria pensar mais em nada.
-Realmente não confia em mim?
-Eu só estava assustada. E mesmo assim confiava em você. Do que você precisa de mim?
-Que fique viva. E como eu disse, confie apenas em si mesma.

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