Capítulo 13

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Realmente algo era estranho, porque eu sentia a necessidade de ter aquele relógio comigo. Mas como poderia dar algo que nem mesmo eu sabia onde estava, muito menos para o que ele iria usar.
-Para que você quer o relógio? Se me disser eu o darei.
-Primeiro terá que mostrar que está com ele, minha querida. E segundo, depois que souber você não dará.- odiava o jeito íntimo que ele me tratava.
-Por que não me diz logo?!
-Depois que me entregar posso dizer.- Danny entrou e caminhou lentamente em minha direção, seus punhos estavam preparados para qualquer movimento que alguém desse contra mim ou contra ele. Ele não estava apenas com raiva, havia algo bem pior que escorria sobre todo seu corpo, e não era suor, era mais como vingança.
Ele olhou para o homem ruivo a minha frente e eles se conheciam muito bem, senti um clima muito pior do que tensão ali.
-Ela não dará nada a você.- a voz dele era ameaçadora, naquele momento eu senti um calafrio passando pelo meu corpo, o homem ruivo estava segurando com uma mão meu ombro, e eu senti um choque era como se o toque dele me imobilizasse, meu corpo ficou rígido, alguma coisa muito errada tinha acontecido. E pelo jeito ele era o causador.
-Não toque-a!- ele avançou tirando a mão dele de mim. E ele deu um sorriso de canto se afastando um passo para trás.
-Certo senhor, como sempre a protegendo. O que eu nunca consegui fazer. Acho que devo muitos agradecimentos a você, pena que nos encontramos em um momento tão ruim para isso.
-Me proteger? O que ele quer dizer com isso Danny?- eu o olhei assustada, era constrangedor não saber de nada, eu me sentia uma completa idiota.
-Vamos embora, não devemos nada a ele. Como ele não tem direito a nada aqui.
-O que?! Me expliquem o que está acontecendo agora, caramba!- eu gritei e todos olharam pra mim, os homens caídos já estavam se levantando.
-Eu posso te dizer quando sairmos daqui, por favor.
-Por que tem tanta certeza que deixaremos vocês saírem sem dar o que queremos?
-Porque não precisamos que deixe. Nós sairemos e você não fará nada, sabe por que?- ele o olhava com desconfiança.- porque sabe que podemos matar todos vocês.
-Você sempre foi muito otimista e protetor Danny. Mas acho que dessa vez não será tão fácil.
-Para vocês não!- ele apertou a alavanca do calibre e mirou no homem ruivo. Os 3 homens que ainda estavam armados fizeram o mesmo apontando para nós.
Mas ele mandou eles abaixarem.- Caiam fora! Agora!!- apenas um homem ficou com o ruivo e Danny continuava com a arma apontada para ele.
-Você não ouviu?- eu disse com raiva por ele não ter saído. Ele estava muito próximo e levantou a mão para bater em meu rosto, eu rapidamente a segurei com força, cravando minha unhas nele e coloquei minha outra mão em seu pescoço.- Ele mandou você sair!- eu o soltei, empurrando ele com força para longe de mim.- Nunca mais tente tocar em mim, cretino.- Danny colocou a arma em seu peito e fez um movimento com a cabeça para que ele saísse.
-Uma coisa nunca muda. Você sempre tem as melhores pessoas ao seu lado querida, é uma pena que não teve os melhores pais.- ele disse e saiu, meu coração ficou a mil com aquelas palavras. Pais??! Eu olhei para Danny.
-Pais?!- ele me abraçou e eu só conseguia ficar ali em seus braços.
-Ele é seu pai Carrie.- ele acariciava meu cabelo.
-Eu realmente preciso saber o que aconteceu Danny, você é a única pessoa que eu confio aqui.
-Tudo bem, meu amor.- era a primeira vez que ele me tratou dessa forma e meu coração acelerou tanto que eu achava que ia sair pela boca. Ele olhou para mim demonstrando preocupação mas em momento nenhum me soltou, isso me fazia o amar mais. Ele era a única pessoa que me contava tudo que sabia.
A verdade sobretudo, me machucava e me dava esperança, era exatamente dela que eu precisava.- Seu pai é muito forte, ele era do exército, e quando falo de força, não é apenas física, mental também. Ele sabe de algumas coisas que aconteceram no passado, memórias que quase nenhum de nós consegue ter, ele sabe que torturava você. E eu sei, porque ele me fez questão de lembrar.- ele virou e mostrou algumas queimaduras que haviam na pele de suas costas. Passei a mão por elas e tive vontade de chorar.
-Como?- minha voz falhou.
-Olhe para mim, não chore okay? Por favor.
-Uhum- eu disse com os olhos cheios de lágrimas, ele sentou e me puxou para si. Era ruim ter de lidar com tudo isso, mas eu era a culpada, se alguém tinha que pagar era eu.
-Quando ele causou as queimaduras em mim eu consegui me lembrar do que ele fazia com você, nós namorávamos desde os 15 anos, sua mãe tinha falecido com câncer de pulmão.- ele olhou para mim, vendo se eu tinha alguma demonstração de choro, ou tristeza mas permaneci como se não doesse, de qualquer forma ele me apertou mais contra si.- ela deixou esse relógio para você, porque sabia que você usaria com sabedoria. Sua mãe lutava por você todas as noites, apanhava em seu lugar, até ela adoecer e morrer. Seu pai a amava, do modo dele. E isso o fez chorar por noites, mas a melhor forma dele desaparecer desse mundo era batendo em você, era como ele esquecia dos problemas e descontava a raiva.. Mas no dia em que eu entrei na sua vida, eu não deixei mais aquilo acontecer. Eu o enfrentava, e ele batia em mim muitas vezes mas nós costumávamos fugir, meus pais não sabiam que isso acontecia, eu o odiava tanto quanto você, mas acima de tudo tentava compreender a situação dele, por isso nunca contei. E você queria que fosse assim. Mesmo com tudo isso nós éramos felizes. O relógio tinha um segredo que apenas você conseguiria desvendar, e Carrie nós nunca conseguimos descobrir. Nem seu pai, precisamos encontrá-lo antes dele.- ele falou segurando a minha mão.- ele contém algo precioso, sua mãe sabia disso, foi por isso que ela deu a você, não a ele.
-O que estamos esperando?
-Não iremos hoje Carrie, está tarde e você precisa descansar. Sem mais.
-Ah não!
-Psiu! Sem mais Carrie.- eu parecia a criança discutindo com ele. Ele pegou meu braço que contia algumas marcas e os vermelhões continuavam lá, levantou um pouco minha blusa acariciando onde estava vermelho.
-Vê isso Carrie?- ele falou passando o dedo pela minha barriga onde havia a cicatriz de um corte reto.
-Como aconteceu?
-Ele te acertou com uma faca de raspão por sorte. Foi assim que aprendemos a lutar, tínhamos que nos defender dele. Você ficou em coma por dois dias, mas parecia a eternidade para mim, meu peito doía tanto que eu não sabia se conseguia respirar, ainda posso sentir, eu sempre soube que tinha que proteger você. Eu só queria que você acordasse.- ele falou e seus olhos encheram de lágrimas. Eu não aguentava vê-lo assim.
Imediatamente segurei seu rosto com as mãos, e o beijei profundamente, esquecendo o mundo, esquecendo os problemas, não queria saber de mais nada naquele momento.. Apenas sentir ele e eu em um movimento juntos, como se fóssemos apenas um. Foi um beijo de desejo, ele tinha necessidade de mim, e ele demonstrava isso pela forma q me beijava e me tocava, me apertando e sempre pedindo mais.
-Eu estou aqui agora.- eu sorri com a boca ainda esconstada na sua, meus olhos ainda estavam fechados. Senti seu sorriso contra o meu, o que me fez sentir mais vontade de o beijar, e o fiz.
Depois de muitos beijos, acaricei seu cabelo, sua cabeça estava deitada em meu colo e conversámos sobre coisas bobas e ríamos.
Ele tinha preparado ovos, bacon e salsicha para comermos, ele era um cara realmente preparado, sorri com esse pensamento sabendo que ele veria como eu era boba, sorrindo sozinha, mas ele era tão bobo quanto eu, porque ele me via assim e começava a gargalhar. Parecíamos tão novos assim, e me lembrei de uma música: Somos tão jovens. E comecei a cantar e ele me acompanhou.
-Somos tããããão jovens.
-Tããão joveeeeens.- começamos a gargalhar.- algumas coisas nunca mudam.- ele segurou minha mão e a beijou.
Aquela noite era realmente especial, pela primeira vez desde que eu chegava aquele lugar, Danny me trazia novamente uma sensação diferente, a de esquecer o mundo, ele realmente me fazia bem.
Armamos com os seus suprimentos de caça uma pequena barraca e outra fogueira, como fazíamos todas as noites. Deitamos lá e ficamos observando a lua, eu estava aconchegada a ele e depois de tanta coisa acontecendo, eu sabia que não podia fugir da realidade do que eu havia feito e nem do que estava por vir, mas apenas por esta noite eu faria isso.
-Deixe-me perguntar.
-Sim?
-Aqui não tem celular certo?
-Celular? O que é isso?- ele sorriu.- não meu amor, aqui somos restringidos, porque? Quais eram os seus planos?
-Queria muito dançar, memórias de algumas músicas estão passando por mim, é triste não ter uma música para escutar..
-Você vivia de música.- eu sorri.- Podemos dançar com elas no pensamento. Ele se levantou e saiu da barraca dando a mão para me levantar. Segurei e disse:
-Primeiramente, você lembra de uma chamada give me love??
-Oh meu Deus, como esquecer?! Era a nossa música.
-Então! Vamos dançar time our lives.- eu falei e ele começou a rir.
-Engraçada.
-É, algumas coisas nunca mudam.- imaginamos a música tocando e começamos a dançar e cantar:
"I knew my rent was gon' be late about a week ago.
I worked my ass off, but I still can't pay it though.
But I got just enough.
To get off in this club.
Have me a good time, before my time is up.
Hey, let's get it now.
Ooh I want the time of my life.
Oh baby ooh give me the time of my life.
Let's get it now.*" Só sabíamos essa parte e começávamos a rir mais.
Por último, dançamos nossa música, give me love, abraçados e eu citei a única parte que me lembrava para ele:
"You know I'll fight my corner.
And that tonight I'll call ya
After my blood, is drowning in alcohol
No I just wanna hold ya."
Ele me olhou e disse:
-Lembra o que significa?- Seus olhos azuis queimavam com a chama.
-Não. Conte-me!- e ele citou palavra por palavra.
-"Você sabe que eu vou lutar pelo meu canto. E que esta noite vou chamar você. Depois que o meu sangue estiver se afogando em álcool..
Não, eu só quero segurar você."- eu sabia que ele estava se referindo a Ramon.
-Você não precisa lutar Danny, você já ganhou a muito tempo.

*Tradução da parte cantada da música time of our lives:
"Melhores momentos da nossa vida."
Sabia que ia atrasar meu aluguel há uma semana.
Trabalhei pra caramba, ainda assim não consigo pagar.
Mas eu tenho o bastante.
Para me divertir nessa boate.
Aproveitar ao máximo o tempo restante.
Ei, vamos viver agora
Oh, eu quero me divertir como nunca
Oh baby, me dê os melhores momentos de minha vida
Vamos viver agora.

Universo paraleloOnde histórias criam vida. Descubra agora