2 - PIERRE, PEITÕES E FORTALEZA HÉTERO

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"Esta é a verdade: a vida começa quando a gente compreende que ela não dura muito."

- Millôr Fernandes.

Meu pai estacionou numa vaga próxima entre dois carros e eu rapidamente desci. Eram tantos e tão diversificados os garotos que eu sequer sabia como agir:

- Vai precisar de ajuda com as bagagens? - perguntou conforme descia:

- Acho que não, não devem estar muito pesadas. - Respondi enquanto abria o porta malas e retirava minha mala e uma outra mochila de lá. - Com certeza não! - completei, deixando a mala no chão e lançando a mochila nas costas.

Meu pai mapeava toda a extensão do internato, impassível. Lhe conhecendo bem, deduzi que pensava algo na linha de: - Então é isso? garotos e mais garotos? Não me parece algo bom, mas entendo por que quis entrar aqui...

- Quer que eu procure o seu alojamento com você? - Indagou.

Mas de alguma forma, algo em mim - muito mal por sinal - não desejava meu pai por perto, não mais. Sentia que a partir dali eu estava por minha própria conta, nos braços do imprevisível:

- Não precisa, pai. - Respondi, tentando ao máximo não soar arrogante.

- Bom, sendo assim... - Murmurou sem jeito, algo que fez com que me arrependesse da resposta anterior - acho que agora é a hora de deixarmos você voar sozinho. Será que mereço ao menos um abraço? Ou seria uma exposição desnecessária de afeto?

- Não diga bobagens - Falei, abrindo os braços e indo de encontro a ele, sendo envolvido pelo mais reconfortante abraço de todos.

Um abraço bastante demorado, como se ele tivesse guardando aquela sensação para os próximos meses que passaríamos distantes:

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Um abraço bastante demorado, como se ele tivesse guardando aquela sensação para os próximos meses que passaríamos distantes:

- Tudo bem... Melhor pararmos antes que alguém perceba essa dramalheira toda! - Disse, recuando levemente e disfarçando as poças que se formavam em seus olhos. - Promete que vai ligar e nos contar tudo? todos os dias?

Sim e... Não.

- Eu ligarei. - Assegurei, contendo as minhas próprias lágrimas:

- Então é isso... - respirou fundo, enchendo os pulmões de ar para logo em seguida esvazia-los. - Te vejo no dia de visitas, filhote!

- Até mais, pai. - Pontuei, com certa dificuldade na fala.

Despedidas são sempre ocasiões complicadas, mesmo quando não se tem absolutamente nada a perder, ainda é algo bem difícil.

Antes de entrar novamente no carro, meu pai pareceu esquecer-se de dizer algo, então se virou e disse:

- Eu te amo e vou estar sempre aqui, mesmo quando nada e ninguém estiver.

Alojamento dos Héteros (Versão Definitiva)Onde histórias criam vida. Descubra agora