"É difícil perder-se. É tão difícil que provavelmente arrumarei depressa um modo de me achar, mesmo que achar-me seja de novo a mentira de que vivo."
- Clarice Lispector
Cansado do estigma que carrega, Alexei, o "garoto GAY" do Santa Edwiges, de...
" Pode contar seus segredos ao vento, mas depois, não vá culpá-lo por contar tudo às árvores."
- Khalil Gibran.
Chegamos ao refeitório, um salão vasto e repleto de cadeiras e mesas. Algumas com quatro lugares, outras com dúzias. Bem climatizado (devido às inúmeras janelas) e uma com uma mesa extensa, onde os garotos passavam com suas bandejas e serviam-se do palpite que Pierre havia feito; purê de batatas e bife.
- Na mosca! Não disse? - Falou conforme pegávamos nossas bandejas e seguíamos:
- Como sabia? - questionei, pegando um suquinho de caixa e pondo na bandeja.
Será que era bom?
- Eles sempre servem bife com purê de batatas no primeiro dia. Pode pôr mais um pouco? - perguntou, ao passo que a funcionária acrescentava uma porção extra do purê em seu prato.
Eu estava com tanta fome que quase cogitei pedir um pouco mais também.
Só não tinha a cara de pau do Pierre pra isso.
Localizamos uma mesa vazia e nos sentamos, deixando dois lugares vagos. O clima era sereno, poucos garotos comiam calmamente enquanto outros conversavam.
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Tudo estava tão tranquilo que resolvi puxar assunto:
- Então, qual é a das câmeras? - Indaguei, trazendo o episódio à tona.
Tudo aquilo me parecia muito intrigante.
- Digamos que eu apenas descobri o real valor dos segredos (e o quanto os meninos aqui fazem de tudo para mantê-los seguros), e é aí que entram as câmeras... - interrompeu para encher a boca de comida. Enquanto eu tentava assimilar tudo, tentei não observar no seu prato, que mais parecia o monte Evereste. - Com as minhas câmeras, descubro até os segredos do nosso precioso diretor! enquanto pequenas chantagens me garantem uma grana ou alguma troca de favores.
- Nossa... Isso é...
- Esperto, eu sei.
- E BASTANTE ANTIÉTICO - pensei.
Estava mastigando um pedaço de bife quando a ficha me caiu: eu era gay, isso era um segredo!
Fiquei visivelmente sem jeito.
- O que foi? - perguntou.
- Nada, eu só... mordi a língua! - Respondi, sem graça diante das circunstâncias nada agradáveis.
- Não satisfeito com a sua confissão ardilosa sobre as câmeras, prossegui com os questionamentos.
- E as garotas, como elas entram aqui?
- Não perde tempo hein novato?! Mal chegou e já quer saber como botar as minas aqui dentro. Bom, só te digo uma coisinha; o túnel.
O comentário sobre as garotas me fez corar um pouco.
