"É difícil perder-se. É tão difícil que provavelmente arrumarei depressa um modo de me achar, mesmo que achar-me seja de novo a mentira de que vivo."
- Clarice Lispector
Cansado do estigma que carrega, Alexei, o "garoto GAY" do Santa Edwiges, de...
Recobrei os sentidos, me endireitei e voltei à caminhar pelo corredor, seguindo - novamente - um grupo de garotos que pareciam ir ao auditório.
Tentei afastar da minha mente aquele primeiro encontro com o tal príncipe (que no fim das contas se mostrou um autêntico sapo) e cheguei à conclusão de que às vezes, virar alguém ao avesso e tentar ver seu interior pode se mostrar algo bem desagradável.
Refiz parte do caminho que havia feito durante meu percurso até o dormitório. Quando finalmente cheguei ao auditório (8) (com todas aquelas cadeiras e um número incontável de garotos sentados nelas), me caiu a ficha de que seria complicado encontrar um semelhante.
E não é como se eu estivesse generalizando nem nada do tipo, mas vários garotos - sentados ou em pé - se mostravam realmente entediados enquanto batucavam nas cadeiras, atiravam bolinhas de papel, trocavam socos ou conversavam entre si.
Agh, voltem já para as suas cavernas!
Avistei uma cadeira vazia e me esgueirei até ela (sob o olhar de dezenas de garotos). Apesar de tudo, aquilo era o paraíso para qualquer garoto gay.
Pequenos deleites visuais.
Me acostumaria fácil...
...
Toda algazarra estava começando a me tirar do sério. Àquela altura, já perguntava se era realmente obrigatório permanecer ali - pois cogitava a ideia de levantar e ir embora.
Foi quando todo o barulho cessou repentinamente.
Olhei para os lados, não havia sido só o barulho; nada de bolinhas de papel, troca de socos ou conversas paralelas, apenas o silêncio infindável.
Todos os olhares se voltaram ao palco à frente, ao me virar, notei que um homem se encaminhava (totalmente inexpressivo) até o microfone.
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Vestia-se com um terno impecável, o corpo - bem robusto - denunciava-se mesmo por baixo de toda aquela roupa, o olhar era tão penetrante e circunspecto quanto o de um gavião e a barba fora moldada em um cavanhaque jeitoso.
Parecia ter lá seus quarenta e poucos, mas ainda era um homem e tanto.
Apenas nos encarou por um tempo de modo panorâmico, como se todos ali presente carregasse consigo algum crime ou culpa.
Foi muito intimidador.
- Bom... bem-vindos, calouros. Um novo ano letivo se inicia no Colégio São Vicente e com ele, novos desafios. – Pausa. - Logo verão que aqui o tempo é algo bastante precioso. Pensando nisso, toda pauta não essencial foi descartada, visando um diálogo breve e esclarecedor que espero fixar em cada cabeça aqui presente.
