"É difícil perder-se. É tão difícil que provavelmente arrumarei depressa um modo de me achar, mesmo que achar-me seja de novo a mentira de que vivo."
- Clarice Lispector
Cansado do estigma que carrega, Alexei, o "garoto GAY" do Santa Edwiges, de...
" Considera com indulgência os que bebem até a embriaguez. Lembra-te de que tens defeitos maiores."
- Omar Khayyám.
Até então eu não havia entrado no banheiro - este que mantinha a mesma simplicidade coletiva do dormitório. - Um pequeno vão retangular, com ladrilhos nas paredes e cerâmica no chão.
Ao que se podia ver, basicamente eram um boxe com chuveiro, uma pia e um vaso sanitário estrategicamente distribuídos no espaço diminuto.
Já dá pra ilustrar fielmente.
Jotapê havia molhado todo o banheiro durante o banho. Algo que notei logo que entrei e pisei o chão escorregadio. O xinguei mentalmente - nem mesmo o meu pai deixava o banheiro naquelas condições! - Então pendurei a toalha no suporte e comecei a me despir.
As maravilhas de se viver em coletividade...
Ao me abaixar pra apanhar a calça, notei algo no chão. Era a samba canção que JOTAPÊ havia usado enquanto dormia, largada a esmo ali mesmo.
Um desejo carnal e libidinoso assolou meus pensamentos; eu precisava sentir o cheiro dele. Sim, alguns poderiam julgar anti-higiênico e até repulsivo da minha parte - que fosse! - não dei espaço a tais pensamentos.
Com a cueca em mãos (e após hesitar alguns segundos), aproximei do rosto e dei uma fungada profunda, inspirando fundo e me deixando guiar pela sensação...
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Era uma misto de suor, urina e um cheiro indefinível de pênis, tudo muito agradável e excitante. Após alguns segundos cheirando (algo que me deixou bastante excitado), depositei a cueca no cesto de roupas sujas (por que ele próprio não o fez?) e entrei no boxe, pensando no quanto alguns garotos são irremediavelmente bagunceiros - e o quanto aquela atitude bagunceira havia me beneficiado.
Era perdoável.
Liguei o chuveiro e me assustei quando o jato congelante atingiu meu corpo, me alertando de que diferentemente de casa, aqui não tínhamos chuveiro elétrico. Passado o susto, me acostumei com a temperatura da água e relaxei, desejando que Pierre também deixasse as cuecas jogadas ao chão após o banho. Assim, poderia fazer aquilo mais e mais vezes.
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