"É difícil perder-se. É tão difícil que provavelmente arrumarei depressa um modo de me achar, mesmo que achar-me seja de novo a mentira de que vivo."
- Clarice Lispector
Cansado do estigma que carrega, Alexei, o "garoto GAY" do Santa Edwiges, de...
"Ter coragem é, sobretudo, ter certeza de que a fascinante aventura da vida não perderá os seus mais atrevidos e sedutores momentos".
- Gabriel Chalita.
Meu coração batia freneticamente e a respiração entrecortada - como um lembrete de que eu estava vivo. - Pierre, totalmente sagaz, corria alguns metros à minha frente.
Ele levava jeito para a coisa, enquanto eu, só tentava entender o papel que iria desempenhar naquele esquema maluco.
- O que o Jotapê fez ano passado? - indaguei, tentando o alcançar.
- Não é o tipo de coisa que eu gostaria de dizer, como também não é o tipo de coisa que você gostaria de ouvir.
Assenti, deixando a questão de lado.
Logo estávamos na seção dos alojamentos (13). Dessa vez, entramos em outro prédio; com dormitórios enumerados do 121 ao 190, foi quando o Pierre diminuiu a velocidade dos passos e pude finalmente o alcançar:
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- Você corre muito rápido! Estou morto! - Disparei, a voz falha devido ao cansaço eminente.
Ele riu consigo mesmo, possivelmente percebendo que teria certo trabalho com o seu "assistente", cuja vida era dada aos hábitos sedentários e excludente com exercícios e prática de esportes no geral.
Ninguém é perfeito.
- Tranquilo, relaxa, temos mesmo que andar normalmente aqui. Tudo é motivo de desconfiança quando alguém da área I pisa na área II. - Pierre confessou, tão baixo que quase não pude ouvir. - Não nos misturamos, tipo água e óleo.
- Que maravilha... - Suspirei, os batimentos cardíacos finalmente se acalmando.
...
- Espera! - Pierre interrompeu meus passos subitamente. - Pra nossa sorte, temos muitos novatos hoje, não devem estranhar nossa presença aqui. Afinal você também é um deles. - pensou consigo mesmo. Dava pra ver as engrenagens da malandragem girando em seu cérebro.
Olhei para os lados discretamente. Mais à frente, via-se alguns grupos de garotos, muito evidentemente novatos também:
- Tá legal, eu vou primeiro. - Disse - Tenho uma cópia da chave comigo. Você conta uns dez segundos após eu entrar e vem logo depois, sacou?
- Entendi. - Respondi.
Minhas mãos estavam gélidas e escorregadias, meu coração sabia que essa era a hora de acelerar os batimentos novamente.
Tarde demais para voltar atrás.
O semblante astuto que Pierre carregava era estranhamente atraente, uma malícia discreta e sorrateira. Tive que inibir tais pensamentos em função do momento.
