51. Memories

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O acidente do Yoongi foi, com certeza, meu maior pesadelo. Eu e o resto do mundo estávamos perdidos, com tanto medo que eu mal conseguia pensar direito. As armys deveriam estar com muito mais medo, só foi anunciado que ele havia sido sofrido um acidente de carro e estava em recuperação no hospital. Mas a verdade era que ele estava em estado crítico, sem perspectiva de acordar.

Preferi deixar que a mãe dele fosse a acompanhante no hospital. Estávamos casados a somente 1 ano, e apesar dela me adorar, eu sei que sendo mãe ela preferia estar ao lado dele 100%. E eu não aguentava ficar em hospitais, me davam agonia.

Cada dia que passava eu tinha menos esperança. Como ele podia simplesmente não acordar?? Por que? Por que estava demorando tanto?

Todo o BTS visitava ele, conversavam, riam. Eu achei que ele acordaria assim que ouvisse seus irmãos, mas não. Comigo também não, nem seus pais. O medo dele nunca mais voltar me consumia a cada noite que eu passava dormindo sozinha nesse colchão frio, sem a presença dele.

Mas ele acordou, graças aos Céus. Só que sem memória....

Lembrava dos amigos, do Bangtan, da fama. Mas não de mim. Doeu tanto, doeu mais do que o medo dele morrer. Cheguei a me sentir culpada por pensar que era melhor ele morto do que sem as lembranças do nosso namoro e casamento. Mas não, era melhor ele vivo, com saúde.

Doía muito ele olhar pra mim e não me reconhecer, nem pelas fotos. Ele pareceu, inclusive, se incomodar vendo a foto do nosso casamento. E isso doeu também. Ele me olhava como se eu fosse uma estranha, uma desconhecida. Não conseguia recordar de todos os nossos momentos.

Os médicos disseram que ele poderia nunca lembrar, ou poderia recuperar a memória em alguns meses ou anos. Eu não queria meses ou anos, queria agora. Que ele lembrasse de mim.

Ele também perdeu uma boa parte da memória sobre a história do BTS. Lembrava dos meninos e tudo o mais, mas tinham coisas que ele havia perdido. Só que não doía tanto nos meninos quanto doía em mim.

Foi difícil pra ele também, eu sei. Todo mundo falava sobre mim, e lá estava eu, uma mera desconhecida, tentando ajudá-lo a se recuperar. Ele era educado e gentil, mas não me chamava mais de "jagi", não sorria pra mim. E eu sei que ele estava enfrentando um verdadeiro inferno.

As armys foram uns amores, fizeram vários vídeos e colagens de fotos nossas, e ele sorria com isso, mas ainda não lembrava de mim. Foi difícil elas me aceitarem, aceitarem nosso casamento, e quando finalmente começaram a me respeitar, ele esquece quem eu sou.

Mas tudo bem. Seria um longo caminho, e eu estaria com ele lado a lado. Caso ele nunca se lembrasse, eu tinha esperanças de que poderíamos recomeçar.

..

_ Esses dois... somos nós?_ Ele perguntou, observando um álbum de fotos que eu tinha a muitos meses. Era uma foto do Halloween, em que fomos de King e Diane, de Nanatsu No Taizai. Foi ideia dele, e eu adorei as fantasias.

_ Sim_ Respondi._ Você insistiu por dias para que a gente fosse vestido assim. Depois que eu aceitei, você me fez assistir o anime todo pra entender a dinâmica deles.

Yoongi sorriu mas não foi o sorriso típico dele, o que só eu conhecia. Eu sentia falta desse sorriso. O sorriso de quem ama e está feliz e satisfeito ao lado da pessoa.

_ E aqui, onde é?_ Ele perguntou. Era uma selfie nossa no telhado de um restaurante.

_ Tailândia_ Respondi._ Quando você gravou Haegum, nós dois fomos pra lá uns dias antes pra curtir antes das gravações.

_ Eu consigo lembrar de estar no avião, mas o resto não. Não lembro da foto, não lembro das gravações_ A voz dele soou bem triste. Eu sei que a barra dele era maior que a minha. Não lembrar de sua vida versus não ser lembrada na vida de alguém...

_ Vamos dar um passeio_ Falei, peguei a chave do carro. Yoongi deixou o álbum no sofá. Estávamos na antiga casa dele, achamos que era melhor ele não vir pra nossa casa justamente por ser um ambiente que ele não lembrava.

Ele observava o caminho com atenção, enquanto eu dirigia sentindo as mãos suarem de nervosismo. Eu queria me manter forte, me manter positiva. Mas não estava conseguindo.

_ Que lugar é esse?_ Ele perguntou quando saiu do carro. Um campo de girassóis. Um lugar significativo pra nós.

_ Nosso cantinho_ Respondi._ Nós dois escapávamos pra cá sempre que queríamos um tempo longe, ou só ficar junto. Você escreveu um monte de músicas sentado ali naquele banquinho.

Yoongi deu uma caminhada pelo espaço, observando os girassóis e analisando. Ele parecia neutro, não estava expressando nada em seu rosto, mas ao mesmo tempo estava calmo e sereno.

Eu pensei que trazê-lo aqui fosse despertar alguma coisa. Mas não. Já fazem meses desde que ele acordou, os médicos disseram que poderia demorar ou nunca acontecer dele lembrar, mas poxa. Eu já estava frustrada, agoniada.

_ Ei, está tudo bem?_ Ele perguntou. Nem percebi que comecei a chorar. Yoongi parecia mesmo preocupado, mas mesmo assim, ele não lembrava de mim. De que adianta continuar? De que adianta tentar?

É melhor libertá-lo e deixar com que ele fosse viver a vida dele, se recuperar mais, voltar pro estúdio, pros palcos. Ele estava se esforçando, e eu mais ainda. Mas foi um acidente terrível. Eu não tenho mais esperanças.

Me assustei quando ele me abraçou. Nosso último abraço fora 2 dias antes do acidente, quando ele viajou e depois pegou a estrada, a gente se despediu em casa e eu não imaginei que aquele abraço seria nosso último abraço normal. E como eu senti falta de seu toque, senti falta dele pertinho de mim.

_ Eu só estou cansada_ Falei._ Acho melhor voltarmos e eu ir pra minha casa.

_ Eu sei que você está se esforçando e está tentando me ajudar, me desculpa_ Ele disse.

_ Não tem que se desculpar_ Rebati._ Mas acho que é melhor se nós dois formos pra casa e darmos um tempinho.

_ Você quer se divorciar?_ Yoongi perguntou. Aquilo doeu. Na verdade tudo doía. Será que eu sou fraca demais?

Eu não queria, como eu poderia ser feliz sem o amor da minha vida? Claro que eu não queria mas era melhor pra ele.

_ Não vamos falar disso agora, vamos pra casa_ Respondi. Ele continuou me abraçando, e eu aceitei. Chorei um pouquinho e apertei meus braços em volta dele.

Yoongi aproximou o nariz do meu pescoço, me assustando com o toque. Ele fungou profundamente, me soltando do abraço. Eu estranhei, fiquei encarando ele se afastar de mim e colocar uma mão na cabeça. Ele fez uma expressão de dor, mas eu tive medo de me aproximar, tive receio de falar qualquer coisa.

_ La Vie est Belle_ Ele falou. Eu não entendi. Ele me olhou nos olhos_ La Vie est Belle, Lancôme. Paguei no cartão, comprei escondido no duty-free quando você foi no banheiro do aeroporto. Estávamos indo pra Itália.

Ele me encarou. Meu coração acelerou de um jeito doloroso com um pouco de alívio dentro do peito. As lágrimas vieram triplicadas nos meus olhos, e ele também começou a chorar.

_ Você descobriu antes mesmo de entrar no avião, era pra ser surpresa de aniversário mas eu esqueci que usávamos o cartão juntos e você recebeu a notificação de compra_ Ele continuou._ Eu comprei porque o aroma era delicioso, e você está usando agora.

Eu concordei, porque estava mesmo. Senti um alívio enorme, ele havia lembrado por conta do cheiro que sentiu quando me abraçou. Não era muito, mas era alguma coisa.

_ Jagi_ Yoongi segurou meu rosto com as duas mãos. Choramos juntos por alguns minutos.

Ele havia se lembrado de uma coisinha, e poderia se lembrar muito mais, ou talvez não. Mas eu ainda estaria aqui, sempre ao seu lado, reconstruindo nossa história.

Suga Oneshots (MIN YOONGI FANFIC)Onde histórias criam vida. Descubra agora