Minha vida era calculada em mínimos detalhes, por ninguém menos que meu marido.
Por ter tido uma perca de memória muito grande e esquecido tudo sobre meu passado, acabei ganhando cuidados especiais. Tomava remédios para memória constantemente, pois ele tinha medo que eu acabasse me esquecendo dos momentos com ele.
Perdi a memória quando caí com a cabeça na quina do balcão da cozinha, quando eu passava pano no chão, ele me encontrou desmaiada com os gatos me cercando e me levou ao hospital as pressas. Fiquei um mês sem acordar, e quando acordei, eu me lembro de cada detalhe explicado por ele.
É isso que eu sei, de acordo com ele.
Por isso, eu nunca posso sair para fora do apartamento sozinha, sempre com sua companhia e apenas ele. Não posso trabalhar ou fazer compras sem sua presença, por precaução caso eu tivesse problemas de memória, ele pudesse me ajudar. Então, nunca saio de casa, raramente vou ao mercado, pois tudo que falta, eu peço e ele me concede nas mãos.
Não vejo como algo ruim, eu tenho meu entretenimento, os gatos, internet, alguns joguinhos de tabuleiro que aprendi a jogar sozinha – ou com o meu adversário chamado de Doongie do outro lado da mesa –, e as vezes, escrever, arrumar a casa também faz parte disso tudo.
Na penteadeira, em frente ao grande espelho com lâmpadas que Minho cuidadosamente decorou com flores postiças pois "combina comigo". Minho penteia meus cabelos, uma tarefa simples que ele insiste em fazer. Pois, de acordo com ele, se sente satisfeito em sentir a textura dos meus fios em seus dedos.
Agora que ele vai ficar em casa pela greve no trabalho, com certeza eu terei mais momentos assim ao decorrer do dia.
— Amor, porque eu não posso sair? Eu nunca vou poder ser independente o suficiente para andar sozinha?
— Bonequinha, eu já lhe falei sobre isso diversas vezes, não que eu não queira, mas é para sua segurança.
— Eu sei, mas tipo, realmente é tão ruim assim se eu perder a memória novamente? – as palavras com certeza foram mal colocadas por mim, vi sua carranca se formar no reflexo ao não entender – Não aconteceu por todos esses anos, talvez, nunca mais aconteça e estamos apenas regredindo meu progresso.
Ele deixa a escova de lado, seus dedos calmamente tocam meu couro cabeludo, massageando com as pontas e quase me fazendo fechar os olhos com a massagem.
— Você é como açúcar, doce, agradável e delicado. Mas com altas temperaturas, pode se tornar caramelo, e se endurecer sem volta. Se adicionar água ao açúcar, ele facilmente resiste e se derrete até ficar pastoso demais. – entendo o que ele queria dizer, sempre gosta de usar metáforas de doceiras para me fazer entender, e estranhamente eu sempre compreendo. – Pode-se dizer que, além da minha bonequinha de porcelana, você é a minha bonequinha de açúcar.
Sorriu doce como sempre, aquela calmaria que me fazia perder todas as perguntas que eu criava apenas com o curvar de seus lindos lábios. Borrifa algum produto em meu cabelo e começa a espalhar, era um pouco frio, mas dava refrescancia.
Aquele cenário, não me era estranho. Eu me sentia a Rapunzel, em um local alto e isolado da sociedade para sua segurança. Mas ao invés de um camaleão, eu adoto felinos, invés de uma janela grande, eu vejo pela varanda os carros passarem por baixo de mim. Como um animal enjaulado.
Todos pareciam tão felizes por aí, andando sem medo de cair, enquanto eu, se batesse o mindinho, Minho aparecia desesperado como uma emergência. Não que reclame de sua proteção, sei que não faz por mal, mas sim, ele apenas zela minha guarda.
Seus dedos delicados seguram pequenas mechas de meu cabelo cuidado por ele, um laço de fita cetim cor-de-rosa bebê é amarrado para segurá-las. Eu poderia me sentir uma boneca cara de linha de brinquedos infantis com certeza.
— De manhã já é linda desse jeito, assim eu me apaixono novamente por essa bela senhorita. – sua mão desliza do meu cabelo para meu maxilar, rodopiando seus dedos em meu queixo – Como eu acreditarei que tamanha beleza desse mundo pertence a mim?
— Sua possessividade as vezes é meio amarga. – brinco com as palavras entre ele, apenas para ver sua falsa expressão de atingido.
— Teremos que polvilhar minha possessão com leves toques de açúcar e mel, pois pretendo continuar com minha ganância. – um sorriso estranho começou a se formar.
Acabei derretendo um pouco do meu sorriso ao perceber sua diferença, aquele seu sorriso antes doce e brincalhão, parecia esconder algo por trás. Algo que eu não conseguia identificar, mas me parecia familiar, muito, mas muito familiar.
— Vou pegar seus remédios, me aguarde aqui, minha bonequinha. – aperta levemente meu lábio inferior com seus dedos entre ele, saiu da sala. Deixando eu e meu reflexo em agonia com os próprios pensamentos.
Eu deveria estar acostumada com esses toques, mas sempre, me sentia como novo, o impacto dele em mim era chocante, como uma primeira vez todos os dias. Talvez, eu realmente estivesse perdendo uma parte da minha memória, a inclusão da familiaridade.
No final, ele sempre irá adicionar mais doce a massa, polvilhar açúcar até transbordar, até que tudo não se torne mais sabor do que uma possessão açucarada.
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Data: 06/07/24
Horário em que foi postado: 23:08
Número de palavras: 893Arrividerci
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Possessão Açucarada - Imagine YANDERE Lee Know
FanfictionS/n, por um caso de perca de memória grave, acaba estando consideravelmente frágil, com o medo crescente que esquecesse de tudo novamente. Mas não está sozinha, seu »confiável« marido, Lee Minho, cuidaria de qualquer detalhe que pudesse atrapalhar s...