Tempero Púrpura

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Meu forte nunca foi cozinhar jantares ou almoços, mas sim as sobremesas. Cobertas de açúcar, chocolate e contimentos diabéticos, essa era a minha especialidade. Nunca descobri o porque, mas nunca precisei ver receitas para fazer qualquer doce, era como se tivesse sido implantado no meu cérebro.

A única vez em que questionei Minho por essa loucura, ele pareceu nervoso demais para o meu gosto. Acho que é de toda mulher, em um determinado momento, desconfiar de algo do marido.

Traição não poderia ser, ele livremente me deixava ter acesso a tudo que ele tinha – menos sair de casa –, a única privacidade que ele priorizava era a minha, sempre estando a vontade do meu lado sempre que eu pedia para olhar em algum armário dele. Deve ser por isso que eu não desconfiei antes.

Mas algo saía dos trilhos, depois de ontem sobre as solas do seu tênis, eu não consegui aquietar a desconfiança com qualquer ação ou palavra que proferia. Talvez fosse o famoso sexto sentido feminino, ou paranóia da minha cabeça, na verdade eu não sabia no que acreditar.

Seus toques pareciam estranhos, não eram falta de afeto, mas um afeto grande e com uma pitada de algo a mais, mentira. Ele parecia mentir algo para mim, eu tinha certeza que não poderia haver nada que ele escondesse do meu entendimento, mas eu não conseguia descobrir então o que me incomodava. Revelar essa desconfiança para ele está fora de questão.

Enquanto ele varria a cozinha – já que está de folga do trabalho, está me ajudando –, eu estava encima de uma cadeira em nosso quarto, tirando as caixas organizadoras de cima do armário e passando um pano úmido por baixo.

Acabei que pegando em minhas mãos uma caixa estranha, de madeira pintada com verniz, eu nunca havia visto daquela caixa. Minho sempre limpava o armário, ele insistia em ter essa tarefa por mim, pois tinha medo que eu subisse na escada e batesse a cabeça novamente ao cair. Pensei que poderia ser trauma do meu acidente, mas aparentemente, não.

Desci com cuidado e me sentei na cama, abri a tampa coberta de poeira, a caixa estava cheia de documentos. Encontrei carteira de trabalho, identidade, e alguns documentos escolares como carteira de estudante. Ele era estranhamente adorável e meio arteiro só pelo rosto, fofo.

Mas porque ele guardava apenas os documentos dele em uma caixa tão reservada, enquanto os meus eram guardados na gaveta sem nenhuma importância? Esse era o documento coreano, me lembro muito bem que ele tirou um documento com seu nome internacional, Rhino. O nome que ele usava com todos aqui no EUA, até mesmo pede para que eu o chame assim quando estivermos fora de casa ou na frente de qualquer pessoa.

O único documento que ele guardava na gaveta junto ao meu, era aquele. Mas porque ele estava escondendo sua identidade coreana? Não era novidade para ninguém que ele era asiático, mas ele nunca contou seu nome verdadeiro para os outros.

— Eu já terminei toda a cozinha, também limpei a geladeira pra você não se preocupar. – sua voz entrou no cômodo, eu estava de costas para ele, e meu silêncio refletia a sua confusão – Há algo errado, boneca?

— Por que os seus documentos originais estão escondidos?

Minha sinceridade direta fez ele estremecer, pude ver quando me virei para ver seus olhos misteriosos.

— Não quero que eles sejam roubados ou perdidos, eles são muito importantes.

— Mas você tem cópias de ambos documentos, porque esconde os dois?

A cada palavra, eu pude ver uma veia saltar de sua mão e o punho levemente se apertar com nervosismo, com certeza ele me esconde algo.

Boneca... – se aproximou em pequenos passos leves, como se estivesse tentando acalmar qualquer hipótese. Se sentou ao meu lado na cama – Eu só não quero que as pessoas me vejam como um rostinho de olhos puxados. Não é como se eu odiasse a minha nacionalidade, mas sabe, sofrer xenofobia pelo meu nome seria muito comum por aqui...

Possessão Açucarada - Imagine YANDERE Lee KnowOnde histórias criam vida. Descubra agora