Bolo de Caneca

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Amanheceu e não comi nada, acordei antes de Minho pois dormi nervosa demais e tive um sono incomodado com ele ao meu lado. Como ele havia dito, a comida estava na geladeira, aqueles malditos bolinhos chineses da noite passada, não gosto de desperdicio, mas levantei a lata de lixo e joguei fora. Me recuso a engolir isso depois do que vi.

Joguei um pouco de papel higiênico por cima para esconder os alimentos. E voltei a cozinha, peguei ingredientes e comecei a misturar todos em uma caneca, era isso, eu vou comer bolo de caneca de café da manhã e depois pegar no sono.

Me sentei em um banquinho da cozinha enquanto encarava o microondas, perdida em pensamentos que eu não podia controlar. Nosso apartamento sempre era colocado como refúgio para mim, mas agora, temo que eu não queira saber o que ele está escondendo de mim. O que poderia ser, afinal?

— Bom dia, minha bonequinha. – meu corpo congelou ao ouvir sua voz rouca, sonolenta após acordar – Já acordou bem cedinho hoje, e nem me chamou.

— Não queria te incomodar. – mentira, eu só quero distância – Apenas estou fazendo um pequeno mimo pra mim, depois dos nikumans, é claro!

— Que bom que gostou deles, seria um desperdício se você não comesse.
Engulo seco, de fato toda a culinária dele jogada fora era um desperdício, mas não, hoje eu não consigo engolir essa desculpa.

— Estavam uma delícia, as vezes até parece que você coloca um ingrediente a mais. – disse sorrindo, disfarçando meu nervosismo.

— Curioso, não é? Talvez eu seja um mágico da cozinha e você não saiba. – está mais para um mentiroso manipulador – E você, a doceira louquinha por chocolate.

Deu um pequeno beijo no meu nariz. Mas dessa vez, foi diferente, eu me senti diferente. Meu coração tá apertando e doendo com ele chegando perto de mim, eu nunca me senti assim, sempre fui a vontade com ele por qualquer coisa, porque agora que eu me incomodo com seus toques?

Para escapar da situação, peguei uma colher na gaveta e o bolo do microondas,  liguei o aquecedor e me sentei no sofá quente, não demorando para ser cercada de gatos enquanto eu comia.

— Olha só que fofo, meu quatro amores no sofá logo pela manhã! – exclamou me assustando novamente, ele parecia me perseguir por todo lado na casa. Se aproximou do sofá onde eu estava meio deitada e meio sentada, se moveu com cuidado para não atrapalhar os seus pequenos felinos e se inclinou para perto de mim, afastando as minhas pernas para dar mais proximidade – Não vai nem oferecer um pedacinho pra mim?

— Pensei que o 'mágico da cozinha' poderia cozinhar para si mesmo.

— As vezes um mágico precisa aprender a controlar sua magia, guardar ela pra mais tarde e desfrutar da habilidade dos outros. – sorriu sarcástico, tentando tirar a caneca da minha mão – Agora vem, eu quero um pouquinho.

— Nem vem, eu fiz pra mim. – afastei o braço de perto dele, colocando uma mão em seu peito para afastá-lo.

— Qual é, não vai nem compartilhar um pouquinho dessa delícia? – se rastejou um pouco e pegou meu pulso com seu braço mais forte que o meu, ele conseguiu – Peguei!

— Minho, devolve a minha caneca! – se afastou um pouco e deixou na mesinha de centro da sala, colocando um braço em meu busto para que eu não escapasse.

— E quem disse que eu quero comer o seu bolo de caneca?

Seu olhar voltou ao meu rosto, com aquele par de olhos escuros e penetrantes que cortavam afiadamente qualquer barreira existente entre nós.

— Não quando tem essa gostosura aqui disponível... – voltou a deixar o seu corpo encima do meu, seus braços me encurralando enquanto ele fazia pressão no meio das minhas pernas abertas.

Atacou meus lábios com seus convidativos e avermelhados, chupando entre pequenas mordidas suaves que deixariam eles inchados por um tempinho, sua língua rápida não hesitando em querer explorar cada canto dentro da minha boca. Suas mãos deixaram apertos firmes em minha cintura enquanto passeava para dentro da minha camisa, apertando e massageando as minhas costas.

Se fosse como qualquer outro dia, talvez eu tivesse outro sentimento. Eu sentia prazer nisso, sim, mas algo estava me angustiando. Uma bola de choro se formava em minha garganta e ao invés de prazer entregue, uma sensação estranha percorreu pelas as minhas veias e vasos sanguíneos. A sensação... Era como se...

Era como se estivesse me estuprando.

Não sei de onde apareceu essa sensação de medo com isso e a falta de vontade, mas lágrimas começaram a escorrer do meu rosto sem parar e nenhum controle. Ele sentiu o gosto salgado das gotas que caíram para a minha boca, e seu toque afrouxou quando ele se afastou para ver meu rosto vermelho de choro e marcado de desespero.

— Eu... Eu fiz algo errado? – estava desconcertado e confuso, olhando para toda a minha face destruída. Não suportei reprimir aquela sensação e empurrei ele de cima de mim e corri para o quarto, trancando a porta e me derramando em lágrimas no chão.

Meus joelhos fracos estavam no chão, eu não sei de onde veio essa sensação, como ela nasceu, ou o porque. Eu não... Eu não sei de mais nada.

Meu peito estava doendo e era como agulhas enfiadas em minhas costas, o peso do mundo caiu sobre mim como se alguém tivesse me violado. Eu nunca senti isso antes em qualquer relação sexual com Minho, então porque isso aparecia agora?!

Ele parecia estranho para mim, um estranho indesejado que eu não quero que toque em meu corpo. Me enrolei em uma coberta encima da cama enquanto continuava a chorar de tristeza, sem sem saber pelo qual eu choro.

Boneca, desculpa. – ele falava por trás da porta, sua voz fraca e chorosa – E-eu não sei o que eu fiz de errado, eu posso ao menos saber o que é? – o eco de seus joelhos caindo no chão da porta foram claramente ouvidos – Eu quero te ajudar...

— Vai embora, eu quero ficar sozinha... – mesmo não querendo ser grossa, acabei optando por acidentalmente soar.

— Tudo bem... – me cortou um pouco do meu coração ter que responder dessa forma, de qualquer jeito, toda a afinidade dele comigo por todos esses anos havia me afetado – Fique bem, por favor. E novamente, me desculpa.

Nesses últimos dois dias, eu tenho estado péssima com ele e comigo mesma, eu não sei mais o que pensar. Eu só quero que tudo volte ao normal.

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Data: 08/07/24
Horário: 19:16
Número de Palavras: 1087

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Possessão Açucarada - Imagine YANDERE Lee KnowOnde histórias criam vida. Descubra agora