-Calma, Doutora Brinquedo. Eu estava brincando. Não precisa ficar vermelha desse jeito. – Não era hora para isso, mas Triz não se aguentou. Acabava de descobrir que seu esporte favorito era ruborizar Elizabeth. Ela parecia uma criança tímida e era muito engraçado.
A médica limpou a garganta e tentou se organizar em sua postura. Triz cerrou os olhos, seus lábios avermelhados se apertaram. Poderia ser brincadeira de sua parte afim de tirar uma com a médica, mas não mentiu quando disse que ela ficava um "tesão" em sua pose de profissional. Realmente Elizabeth ficou uns terços mais atraente que o normal, se isso fosse possível, pensava Triz. Mais séria, concentrada, humanizada, ela nunca havia percebido antes um ser humano tão dedicado a fazer o bem, como presenciava agora todo cuidado da médica com sua amiga. Seu estado parecia delicado pela forma que Elizabeth havia ficado séria ao examiná-la. Em toda sua forma imponente a quem não conhecesse o jeito inseguro até de abrir a boca. O maxilar tenso, aquela linha bem desenhada da orelha ao queixo, este com um furinho leve característico, os lábios refinados entreabertos que deixavam amostra os dentes perfeitamente brancos com um leve sobressalto dos dentes da frente, como um coelhinho filhote. Ela era charmosa sem esforço, embora seu jeito retraído e quieto.
Rapidamente elas foram guiadas até outra sala mais reservada. Por onde passavam, olhos tortos a seguiam, Triz vez ou outra levantando um dedo do meio e Elizabeth a pegava pelo braço para mantê-la no caminho antes de bater em alguém que passava.
Uma das salas de esperas privativas foi encontrada e para lá as amigas foram com a pobre da colega ainda muito mal. Duas enfermeiras a receptaram na maca e adentraram a sala de atendimento, as impedindo de continuar.
-O que? Eu vou entrar com ela!
-Calma, Triz. Por favor, confie em mim. Ela será bem atendida. – Elizabeth continha Triz pelos ombros com a facilidade de um interceptador de futebol americano.
-Por que eu não posso entrar com ela, Elizabeth? Ela está assustada ali só.
-Infelizmente não pode. É um local só para os médicos, o corpo de enfermeiras e o paciente. Para o bem dela. Por favor, entenda.
-Não, não entendo. Você viu como trataram a gente lá fora. Quem me garante que não vão fazer o mesmo com ela lá dentro?
-Eu garanto. Por favor, Triz- os olhares delas se cruzaram e por um instante Triz teve a sensação de que podia confiar a sua vida aquele olhar mergulhado em serenidade. Se perdeu ali sem perceber, até as palavras sumiram de seus lábios. Levantou a mão por um instante, na linha do olhar de Elizabeth como se fosse lhe dar um cascudo, depois ela caiu com um baque surdo ao lado do corpo. Se odiou pela facilidade que Elizabeth tinha de lhe contrariar, aquilo não estava lhe cheirando nada bem- Estarei lá com ela, ademais. Eu sou médica. Sou cirurgiã. Eu lhe dou meu CRM, minha credencial japonesa e meu registro de Havard, se quiser. Vou garantir que ela retorne bem. Você acha que pode me dar esse voto de confiança?
-ô, filha, há de você se me decepcionar, Cavill mulher.
-Cavill?
-Nunca assistiu Homem de aço? Você parece o Superman.
-Com certeza Henry riria de ouvir você falar isso.
Elizabeth sorriu, nem sabendo por que, mas Triz acompanhou. As duas se olharam sem perceber o tempo passar, cada uma presa na sua possibilidade de porquês, não sabiam como parar. A médica sentia seu coração gelar, como se todo sangue fosse drenado de uma vez só. Triz era pequena de tamanho, porém enorme de presença. Seu queixo estava sempre altivo, os lábios apertando tensos um ao outro. A mão na cintura, as unhas bem feitas e afiadas como a de uma tigresa. Era como se ela estivesse pronta para pular no pescoço de alguém a qualquer momento. O ar de curiosidade encarando Elizabeth, que todo seu inverso, estava quase convulsionando de embaraço.
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A Herdeira (Sáfico)
RomanceElizabeth Lord é herdeira de uma multimilionária do ramo da medicina. Morando no Japão há dez anos, onde estava terminando um PhD, ela tem de voltar pra casa no Brasil, após o pai sofrer um infarto repentino. Ela é dada como a única opção para assum...