Capítulo VII - Ernesto

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O diretor Ravn estava no comando da Penitenciária Meridional de Nova Orleans a cinco anos, um lugar sombrio, repleto de histórias de sofrimentos e violências. Ravn, um criminalista moderno e idealista, está determinado a transformar aquele local em um ambiente de ressocialização e oprtunidades para os detentos.

No entanto, o vigente sistema prisional era como um mostro insaciável, devorando todas as boas intenções e reformas propostas por Ravn. Os guardas corruptos, a super lotação desumana e a falta de recursos tornaram seu trabalho quase impossível. Ravn chamou a secretária:
- Muito bem! Pode manda-lo entrar.

O guarda abriu a porta de sua sala e Leedo entrou. Caminhou calmamente em direção ao diretor Ravn. Seu ar puro contrastava com a beleza de seu rosto que parecia inabalável mesmo vestindo o uniforme da prisão. O diretor Ravn ficou particularmente interessado naquele prisioneiro. Ele era réu primário, não havia matado ninguém e a sentença de 15 anos parecia muito rigorosa para o crime que cometera. O fato de Joseph Bonanno ser o acusador se tornava ainda mais suspeita.
- Sente-se por favor. Estive verificando a sua ficha - começou o diretor - vejo que passará uma longa temporada conosco. Sua sentença é de  15 anos.
- Por favor ... tem que me escutar. Sou inocente. Não pertenço a esse lugar.
- O tribunal considerou-o culpado. O melhor conselho que posso dar é o de tentar fazer com que tudo lhe seja mais fácil aqui. A partir do momento em que aceitar os termos da sua prisão, tudo se tornará mais fácil. Não há relógios na prisão, apenas calendários. Se tiver problemas especiais e eu puder ajudá-lo de alguma forma, quero que venha me procurar.

Mesmo quando falava, Ravn sabia como suas palavras eram inúteis. Leedo era jovem e bonito. Os homossexuais da prisão cairiam em cima dele como animais.
- Com bom comportamento - continuou Ravn falando - você pode ser libertado em 12 ...
- Não! - Leedo entrou em pânico. Estava em pé gritando. O guarda entrou correndo e agarrou-lhe.
- Calma, calma - murmurou o diretor.

Ele ficou observando Leedo ser levado arrastado de sua sala. As lagrimas escorriam pelo rosto de Leedo.

Leedo foi conduzido por muitos corredores, passando por celas cheias de detentos de todos os tipos. Enquanto ele passava todos gritavam. Os gritos não faziam o menor sentindo para Leedo. Foi quando chegou no seu bloco que Leedo compreendeu o que os homens estavam gritando. " Carne fresca".

Leedo foi levado para o bloco C da prisão, onde havia sessenta homens divididos em quinze celas. Enquanto ele passava pelos corredores estreitos, podia sentir os olhares curiosos dos detentos que observavam cada movimento.
- Entre! Vamos logo - insistiu o guarda empurrando Leedo.
Leedo estava em casa.

Havia três homens na cela apertada. Mal cabia as quatro camas, uma mesinha, quatro armários pequenos, um vaso sem tampa no canto. Os companheiros de cela olhavam o fixamente. O homem porto-riquinho com uma cicatriz no rosto rompeu o silêncio.
- Parece que temos um novo colega de cela.
Um mexicano, de meia idade disse:
- Que surte Virte! Prazer em vê-lo. Por que o mandaram para cá?
O terceiro homem era negro. Tinha mais de 1,80 de altura. A cabeça raspada o crânio tinha um brilho negro.
- Sua cama é ali no canto.

Leedo se aproximou-se da cama e o colchão imundo, manchado com dejetos que só Deus sabia de quantos ocupantes anteriores.
- Eu ... não posso dormir neste colchão.
O gordo mexicano sorriu.
- Nem precisa. Pode dormir comigo.
Os três homens observavam-no atentamente fazendo-o sentir-se nu. Ele recuperou a voz.
- Com quem eu posso falar para conseguir um colchão limpo.
- Com Deus - grunhiu o negro - mas ele não tem aparecido por aqui ultimamente.

Leedo virou-se para olhar novamente o colchão. Diversas baratas cascudas rastejavam por cima dele.
- Siga com a correnteza. Sou Ernesto - ele acenou com a cabeça para o homem com cicatriz - Aquele e Lolo, e de Porto-Rico - E o gordo aqui e Paulito, do México. Quem é você?
- Eu ... sou Leedo.
- De onde você vem? - indagou o gordo.
- Descupa, mas ... não estou com vontade de conversar.

Leedo sentiu-se fraco de mais para ficar de pé. Arriou na beira da cama imunda. Ele ouviu passos se aproximando pelo corredor, era um guarda vestoriando as celas.

A campainha soou.
- Hora do jantar - anunciou Ernesto.
- Ei, hora do grude! - gritou o jovem porto-riquinho.
- Não estou com fome! - disse Leedo quase desmaiando.
- Es llamo. É simples. Não querem saber se você está ou não com fome. Todo mundo tem que ir para o refeitório - falou Paulito o gordo mexicano.

Os presos estavam entrando na fila no corredor lá fora.
- E melhor você ir ou cairão em cima - advertiu Ernesto.

Os companheiros de cela sairam e entraram na fila dupla. Um guarda baixo viu Leedo deitado e gritou:
- Ei, Levante-se imediatamente! Você não ouviu a campainha? Sai logo dai?
- Obrigado, más não estou com fome - respondeu Leedo.
O rosto do guarda ficou vermelho. Ele entrou na cela furioso e se aproximou  de Leedo.
- Que merda você pensa que é? Está esperando pelo serviço de quarto? Entre logo na porra da fila.

Leedo não entendia o que estava acontecendo. Ele deixou a cela arrastado e foi para fila. Ficou ao lado do negro.
- Por que eu?
- Cala a boca - Ernesto resmungou  - não fale na fila.

Os homens foram levados para um enorme refeitório, cheio de mesas grandes e muitas cadeiras. Enquanto andavam em direção ao balcão de serviço comprido com bandejas, pelo qual os presos passavam para pagar comida.  O cardápio do dia: um ensopado de atum aguado, vagens murchas, um creme pálido e a opção entre o café fraco ou um suco artificial. Os reclusos que serviam por trás do balcão a comida de aparência repulsiva, gritavam:
- Todos andando na fila ... o próximo  ... mantenham a fila em movimento  ... o próximo.

Depois que foi servido, Leedo ficou parado, perdido, sem saber para onde ir. Ele avistou Paulito o gordo mexicano e foi para direção e sentou-se do lado. Leedo olhou o que estava no seu prato, depois empurrou para o lado. Paulito bem rapido pegou o prato de Leedo.
- Se não vai comer, então eu fico com isso.
- Ei, e melhor você comer ou não vai durar muito tempo aqui - disse Lolo.
- Se pegarem sem comer, vão manda-lo para geladeira - o mexicano falou.

Lolo fez uma pausa, inclinou-se para frente.
- E a sua primeira vez aqui? Pois vou lhe dar um aviso. Ernesto manda neste lugar. Seja bonzinho com ele e estará tudo bem.

Meia hora depois que os homens entraram no refeitório, soou a campainha e todos se levantaram. Leedo juntou-se com Paulito na fila dupla e os homens começaram a marchar de volta as celas.

Quando Leedo voltou à cela. Ernesto já estava lá.  Leedo se perguntou sem qualquer curiosidade. Onde ele estava?
Ernesto falou:
- Soube que você não comeu nada do seu jantar. Isso é uma estupidez.
- Como posso falar com o diretor?
- Apresenta um pedido por escrito. Os guardas usam para limpar a bunda. Acham que qualquer homem que quer falar com o diretor é um encrenqueiro - Ernesto se aproximou-se de Leedo - Há uma porção de coisas que podem criar problemas para você aqui. O que você  precisa e de um amigo que possa manter você fora de encrencas.

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