𝄪 Capítulo XI 𝄪

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Horas haviam se passado desde que Mikami saiu. Finalmente havia tomado coragem para me afastar de minha mesa e da visão limitada da janela.

Ao sair do prédio, as estreitas ruas de Suna, com seus tons suaves de terracota e amarelo, exalavam uma atmosfera acolhedora. Diferentemente da atmosfera presente no gabinete.

À medida que caminhava pelas vielas sinuosas, as sombras projetadas pelas casas baixas dançavam no chão de pedra. Não podia facilmente resistir à tentação de se perder na vida cotidiana da vila. As praças se encontravam sempre movimentadas, repletas de vendedores e crianças brincando. Observar a efervescência do comércio local e o riso inocente das crianças me proporcionava uma fuga bem-vinda das complexidades das decisões políticas. Me fazia acreditar que todo o percurso até aqui não havia sido em vão.

No entanto, o peso das responsabilidades que vinham com o título de líder era muitas vezes sufocante. A conexão com as pessoas, tão evidente nas ruas movimentadas, era o que mantinha meu coração aquecido em meio às tantas pressões. Nem tudo se resumia a seriedade e a monotonia do trabalho.

Contemplei a praça em profundo silêncio. Meus olhos varriam o local, buscando respostas nos gestos e nas entrelinhas dos personagens que a povoavam. As expressões nos rostos dos transeuntes refletiam pura curiosidade. Muitos deviam se questionar o porquê do Kazekage se encontrar fora de sua sala.

Me cabia apenas absorver as informações e me entreter com problemas que não eram meus.

― Parece até que foi ontem que estivemos no campo de batalha. ― Murmurei para mim mesmo.

Enquanto as imagens se formavam em minha mente, detalhe por detalhe. Era como se o passado estivesse se desenrolando diante dos meus olhos.

A quarta guerra ninja nos levou ao limite, mas abriu novos horizontes para todos os países. Uma aliança forte entre os cinco grandes países Shinobis que se estendia até hoje. Mas infelizmente ainda faltava muito para alcançar uma paz definitiva.

Após contemplar a praça por mais alguns instantes, decidi voltar ao prédio do gabinete. O sol do fim da tarde continuava a iluminar o caminho enquanto eu me afastava das ruas movimentadas e adentrava o edifício que servia como sede do governo da vila oculta do deserto.

Enquanto caminhava pelos corredores familiares, cumprimentei conhecidos e funcionários com um aceno discreto de cabeça. Era reconfortante sentir o ambiente familiar do lugar.

Contudo, algo dentro de mim ansiava por um momento de tranquilidade, longe das pressões do trabalho. Decidi desviar meu caminho em direção aos jardins internos do prédio. Ali, entre as árvores e as flores cuidadosamente dispostas, eu poderia encontrar um refúgio temporário da agitação do dia a dia.

Ao chegar aos jardins, fui recebido pelo aroma suave das flores e pelo som sereno da água corrente de uma fonte próxima. Encontrei um banco de madeira sob a sombra de uma árvore frondosa e me sentei ali, permitindo-me absorver a paz de meu "oásis particular".

Enquanto observava as folhas das árvores dançando ao ritmo da brisa suave, deixei minha mente vagar para longe das responsabilidades do cargo. Por um instante, permiti-me simplesmente existir, desfrutando da beleza tranquila que o jardim proporcionava.

Contudo, a conversa mais cedo com Mikami invadia meus pensamentos vez ou outra. Não é porque sou jovem que tenho que fazer o que todo jovem faz. Nunca precisei de um interesse romântico antes, nunca sequer tive um! Minha cabeça borbulhava com essas ideias.

Mikami, Temari e Kankuro não foram os primeiros a sugerirem isso e de longe seriam os últimos. Até mesmo os conselheiros de Suna queriam se intrometer nesses assuntos. Ainda bem que nunca fui de aceitar palpite de seu ninguém. Eu ficaria muito melhor sozinho. Estou certo disso.

Não quero ter que ficar maluco com uma garota problema em minha vida. Basta meu irmão. Aqueles dois sempre terminam e voltam. Não ficaria surpreso caso voltassem a ficar juntos de uma hora para outra.

Recordo-me vagamente de quando fui apresentado a Emi. A conheci em um jantar em família. Kankuro nunca foi de apresentar formalmente suas namoradas, mas com ela havia sido diferente. Lembro-me de achá-la uma verdadeira tagarela. Temari, evidentemente, havia a adorado e meu irmão parecia um bobo apaixonado.

Trocamos uma ou duas palavras? Não me recordo tão bem. Contudo, seus olhos grandes e amendoados não saíram da minha mente durante um bom tempo. Ela me pareceu única a seu modo.

Balancei a cabeça tentando tirar esses pensamentos. Fixei meu olhar nas águas cristalinas do lago situado no meio do jardim. Não fazia sentido pensar em Emi dessa forma. Nunca fez. Ela sequer pôs seus olhos em mim.



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