Doce Desastre

𝄪 Capítulo XIV 𝄪

O trajeto foi feito em silêncio. Era possível sentir os olhares curiosos de alguns Shinobis, cientes de que algo incomum estava acontecendo. Ao entrarmos em sua sala, senti uma tensão adicional. O ambiente austero contrastava com a descontração da padaria, e eu me via pensando desesperadamente em como poderia explicar essa situação.

O silêncio foi quebrado apenas pelo som dos passos ecoando no chão de pedra enquanto Gaara se dirigia à sua mesa. Ele se sentou com sua expressão séria habitual. Permaneci de pé, sentindo-me como uma criminosa prestes a ser interrogada.

E como explicar a inusitada situação ao meu ex cunhado sem ser devorada viva por seus olhos inquisidores?

— Vamos começar outra vez, você tem uma explicação razoável para estar invadindo o jardim à noite? — Questionou, sua voz mantendo a calma habitual, mas com uma firmeza que lhe era inegável.

Engoli em seco, buscando as palavras certas.

— Gaara-sama, eu sei que parece estranho, mas eu estava procurando ingredientes para uma receita. Eu juro, não era minha intenção causar problemas.

Seus olhos não vacilaram, e eu podia sentir a desconfiança permeando o ar.

— Uma receita? Que envolvia invadir o jardim e danificar flores?

— B-Bem... — Balancei a cabeça, sentindo a urgência de me explicar. — Juro ao senhor que a minha única intenção era apenas pegar algumas pétalas. Eu só estava tentando criar algo especial para trazer de volta um pouco de paz para a padaria depois do incidente.

O Kazekage ficou em silêncio por um momento, processando a informação.

— Por que não esperou amanhecer para pedir autorização? É o que qualquer cidadão normal de Suna faria. — O olhar inquisitivo de Gaara não largava a minha face em momento algum.

Se esses não fossem os protocolos de segurança e de antivandalismo de Suna, eu diria que ele realmente não parecia gostar nem um pouco de mim.

Tossi sem graça.

— É que, a receita pedia que as pétalas fossem recolhidas sob a lua cheia. Penso que por ser muito antiga pedia uma variedade de ingredientes e modos únicos.

Gaara continuou me observando, sem mostrar sinais de compreensão.

— Emi, quando nos conhecemos, não tive a certeza, mas algo me dizia que você era uma 'garota problema'. Gosto muito da padaria Izugawa, seu pai foi um dos poucos que me apoiaram como Kazekage em meu início. É por ele que posso pensar em relevar seus atos de hoje. Mas você precisa entender que suas ações têm consequências. Não só para você, mas para aqueles ao seu redor.

Fiquei sem palavras. As consequências de meus atos batiam em minha cabeça como um martelo.

Os dedos do Kazekage tamborilavam em sua mesa, cortando meu pouco raciocínio. Pensei em dizer alguma coisa, contudo, a vontade de sair dali era bem mais apreciada. Juntei a pouca coragem que me restava para murmurar algumas palavras que me ajudassem a reduzir aquela conversa.

— Eu... sei, Gaara-sama. E realmente sinto muito pelo transtorno que causei. Se houver alguma maneira de consertar isso, farei o que for preciso.

Ele suspirou, parecendo refletir sobre a situação. Permaneci quieta em meu lugar, aguardando uma nova possível bronca. Nunca fui tão próxima de meu ex cunhado para saber o que ele realmente pensava sobre mim, mas após ouvir suas palavras, não preciso de muito para entender que minha imagem em sua mente não é das boas.

— Vou lhe dar apenas uma advertência: qualquer outra ação impulsiva e irresponsável terá consequências mais sérias.

— Entendido. Prometo que serei mais cuidadosa no futuro.

Agradeci, ainda mais pela advertência e pela compreensão relativa. Talvez, de alguma forma, eu pudesse reverter essa situação. Quem sabe, se o doce der certo, ele verá que não menti e que valeu a pena minha pequena invasão.

O Kazekage assentiu uma vez, indicando que a conversa estava encerrada.

— Pode ir agora. Certifique-se de que suas ações futuras não comprometam a reputação da padaria ou causem mais problemas.

Com um suspiro aliviado, deixei o gabinete o mais rápido possível, agradecendo por escapar com apenas uma advertência. No entanto, a verdadeira tarefa agora era saber como lidar com a receita sem causar mais estragos e problemas.