𝄪 Capítulo XVI 𝄪

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— Ela fez o quê?

Vi alguns pássaros voarem assustados da fonte do jardim. Meu irmão parecia incrédulo diante da revelação de que sua ex-namorada, talvez impulsionada por um ressentimento pelo recente término, invadiu uma propriedade em altas horas da noite.

— Se me permite dizer, é realmente uma proeza inacreditável. — Disse Mikami, ao trazer-lhe um copo d'água.

— Não há com o que se preocupar, basta que o Kazekage me dê a ordem e irei pessoalmente pegar a vândala. — Oshiro, por sua vez, permanecia com uma expressão sombria.

Não há dúvidas de que a segurança estava cada vez mais alta, especialmente após as complicações passadas com dois membros em especial da Akatsuki.

— Não vejo necessidade, Oshiro. Esse é um problema que meu irmão deve resolver por si só. — Falei.

Boa parte de mim sentia uma certa preocupação com Emi. Ela parecia um tanto fora de si, falando sobre uma tal receita enquanto massacrava flores. Talvez ela precise realmente de ajuda.

— Gaara, por favor. Peço perdão em nome de Emi. Penso que ela não fez por mal. Deve estar chateada e quer descontar sua raiva. Não leve para o lado pessoal.

Kankuro arregalou seus olhos suplicantes em minha direção. Suspirei pausadamente, fitando os arredores do jardim. Dois cactos enormes marcavam presença na entrada e, ao lado da fonte, um pequeno pássaro assustado procurava molhar o bico.

— Não há com o que se preocupar. Apenas a dei uma advertência. Penso que não acontecerá novamente.

— Ufa! — Ele suspirou tão profundamente que parecia que um elefante havia deixado suas costas. — Isso é ótimo. — Completou.

Me voltei para meu braço direito e auxiliar de escritório, que àquela altura parecia, por algum motivo, receoso.

— Mikami, precisamos nos reunir na biblioteca. Há algumas papeladas que preciso reaver. Fale com o senhor Tatsuo, ainda hoje.

— Sim, senhor. Mas se me permite, gostaria de dizer que talvez fosse melhor ser um pouco mais duro com a garota. Talvez ela não tenha agido por mal, mas se outros virem esse tipo de ação sem consequência nítida, podem se inspirar a fazerem o mesmo, e a situação acabar fora de controle.

— Concordo, senhor. — Ouvi a voz de Oshiro, branda e clara.

Encarei Mikami novamente, que agora parecia nervoso.

— É que... bem, a senhorita Izugawa precisa deixar de ser tão imprudente. E, às vezes, temos que aprender da pior forma. Espero apenas que os anciões não fiquem sabendo.

— Não ficarão! — Bradou meu irmão, claramente chateado.

— Tsc. — Ouvi Oshiro murmurar, como se quisesse expressar algo.

Na tentativa de evitar uma confusão maior, intervi.

— Ponderarei sobre seu pensamento, Mikami. Agradeço. Podem ir agora.

Após uma breve reverência, Oshiro e Mikami seguiram, cada um para seu lado.

Fiquei somente com a presença de Kankuro no jardim, que ainda parecia emburrado, com uma expressão entre o desânimo e a frustração. Eu me aproximei dele, tentando entender melhor o que se passava em sua mente.

— Isso é péssimo. Eu sempre soube que Emi era imprudente, mas assim já é demais.

Ele se apoiou em um dos bancos de madeira. Apesar de nossa confusão, o jardim parecia mais vivo do que nunca. Sempre me encantei com as especiarias da flora que conseguem suportar o clima do deserto.

Curiosamente, Emi havia vindo atrás de uma delas. Isso, se sua história for de alguma forma verdadeira.

— Creio que Emi esteja procurando enfrentar o final do relacionamento de vocês de forma diferente. Cada um se expressa de um jeito. — Ponderei.

Não a conheço muito, mas o pouco que sei e vi, creio que ela tenha um gênio desafiador.

— Mas isso é exagero. Ela teve sorte de ter se topado com você, pois se fosse com Oshiro, Mikami ou qualquer outro, estaria em sérios problemas. — Ele suspirou. — Peço apenas que releve. Pelo menos dessa vez. Não acho que haverá outra.

Assenti, compreensivo.

Kankuro soltou um suspiro pesado, e pude ver como se o peso do mundo estivesse em seus ombros. Seus olhos fixaram-se no chão, perdidos em pensamentos tumultuados.

— Por que será que ainda me importo tanto com ela? — Questionou, mais para si do que para mim.

Coloquei uma mão em seu ombro, oferecendo um gesto de conforto.

Eu não fazia ideia de como funcionava a mente de Emi, a conheço bem mais pelo que Kankuro me diz do que pessoalmente, que seria o jeito correto.

No entanto, apesar de todas as suas rebeldias, ela não me parecia alguém ruim. Era uma garota problema, sem sombra de dúvidas, mas não via maldade ou crueldade emanando de seu ser.

— Você ainda gosta dela. — Constatei o obvio.

Kankuro ergueu o olhar tumultuado para mim. Não havia dúvidas de que Emi ainda mexia com ele. Pergunto-me apenas o porquê dele está sendo tão relutante em voltar com ela.

— Não existe mais nós, Gaara. — Respondeu, como se lesse meus pensamentos mais profundos. — Quero dizer, sei que ainda gosto dela, mas talvez não como antes. É confuso, sabe?

— Sim...

Não! Na verdade não faço sequer ideia. Nunca tive nada assim. Pensei em falar mais alguma coisa, mas o deixei continuar, caso fosse de sua vontade. Sem mais rédeas, ele prosseguiu.

— Nosso relacionamento sempre foi meio conturbado, mas nos últimos dois meses, ficou insuportável. É como se aquela faísca aos poucos fosse se apagando. Não sei bem explicar, mas me sinto assim em relação a ela.

Um nó se formou em minha mente. Como assim? Eu tinha certeza de que relações amorosas seriam complicadas, mas não entendia o quanto.

— Não entendo. — Comecei — Vocês claramente se gostam. Se está confuso, por que não deu apenas um tempo? Não seria mais fácil?

Ele soltou uma risada fraca de minha clara confusão.

— Não há nada fácil quando se está em uma relação com Emi Izugawa. — Brincou, e após ponderar retomou, — vou simplificar, Gaara. Nossa relação esfriou e para mim ficou sem cor. Emi só não percebeu ainda, mas quando perceber... quem sabe, ela deixe de fazer tanta besteira.

Eu devia estar com a cara de tacho mais confusa e ridícula do mundo, pois Kankuro olhava para mim e ria.

— Você vai entender quando chegar a sua hora. Confie em mim. — Disse por fim.

Fiquei em silêncio. Havia alguma coisa naquela história que de certa forma me fazia bem, mas não sabia bem o quê. O clima do deserto, embora quente, reconfortava-nos. Ficamos ali, por um tempo, encantados com a vista do jardim.

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⏰ Última atualização: Aug 04 ⏰

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