Duas Metades

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"Pra falar do amor de verdade

Vou começar pela melhor metade.."


Voltei para a pousada depois de ter chorado toda lágrima que havia no meu corpo. Aproveitei a chuva que lavava meu corpo e lavei também a alma... Mas porque eu continuava sentindo essa mão apertar meu peito. Porque esse bolo de angústia não descia por minha garganta me permitindo respirar em alívio por ter deixado toda aquela história pra trás?

O que ainda me falta pra ser realmente feliz, se eu não tenho dúvidas que coloquei uma pedra no passado?

Não se engane, continuo me sentindo traída de todas as formas, mas não vou mais deixar essa história ser determinante em minha vida... "Que venham todos os fins, eu sei recomeçar!" Agora pelo menos eu sei. Então, porque a sensação de que me falta um pedaço da minha alma?

Entrando em meu quarto comecei a entender um pouco do vazio que me acometia. Alexandre tinha ido embora, levou malas, ternos, e boa parte da alegria que eu havia experimentado durante esses dois dias. Contudo, ele não levou o dinheiro, deixou cada centavo que eu havia pago a ele. E eu me senti completamente desamparada mais uma vez. A mão que apertava meu peito agora estava em minha garganta me sufocando, e eu não conseguia respirar, até ouvir batidas na porta do quarto, me trazendo um resquício de esperança de ser ele, mas era a última pessoa que eu gostaria de ver neste momento...

- Gio, oi! Eu só... só queria te agradecer por não me entregar pro Chay. Eu quero contar tudo a ele, mas não no dia do nosso casamento! Tudo precisa ser perfeito. Pelo menos hoje! - Jade não ousou passar da porta, despejando tudo de um jeito egoísta e mesquinho, porque tudo tem que ser sobre ela no fim das contas.


- Você está coberta de razão! - Jade ousou abrir um sorriso e deu alguns passos em minha direção. - O dia perfeito do seu noivo não pode ser abalado. Faça isso depois que o tiver enganado mais uma vez, e que saiba que você escolheu não contar que transou com o melhor amigo dele por meses, e ele achar que o mundo dele foi uma completa mentira e enganação, e que agora não tem saída já que ele estará casado com você.


- Gio... - Jade soluçava.


- Não se preocupe! Estarei lá daqui algumas horas, dizendo a coisa certa, segurando seu buquê. Mas agora, neste momento, eu não vou fingir que está tudo bem! Dá licença, preciso tomar banho e começar a me arrumar para seu momento perfeito.


Quando Jade saiu resolvi guardar debaixo de todo blush, corretivo e rímel tudo o que estava sentindo e fui encontrar Lavoisier, logo após sair do banho. No quarto reservado para as madrinhas estava concentrado todo frenesi que se pode ter em um dia de casamento... Mulher falando sem parar, taças de champanhe, roupas e mais roupas e claro, olhares questionadores que eu de verdade queria ignorar, mas não pude fugir de todos.

- Eu estou bem, mãe! - Dizia com a melhor cara de derrota que se pode ter.


- Eu. Não. Acredito. Em. Você! - Minha mãe falava pausadamente me olhando pelo espelho.


- Eu juro que estou bem! - Minha voz falhou e eu tomei um gole do champanhe para disfarçar.- Nada que um bom whisky e uma pistola não resolva. - Forcei um sorriso amarelo. Minha mãe me devolveu um sincero que confortou meu coração.

Duas Metades (GN)Onde histórias criam vida. Descubra agora