Parte 8 - Ausência

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Auditório da Brown University, 2018

O auditório estava repleto, a presença imponente da Professora Lauren Jauregui preenchendo o espaço com uma aura de sabedoria e experiência. Os alunos, ávidos por conhecimento, ouviam atentamente enquanto ela discorria sobre a intersecção entre filosofia e literatura, um tema que lhe era caro e que havia moldado sua carreira acadêmica. Ao abrir o espaço para perguntas, um jovem estudante levantou a mão, sua expressão demonstrando um interesse genuíno e uma curiosidade intensa.

- Professora Jauregui, o que Deleuze dizia sobre a ausência dentro de sua filosofia e como a senhora vê isso refletido na literatura? - perguntou ele, sua voz ecoando no auditório silencioso.

Lauren pausou por um momento, refletindo sobre a profundidade da questão. Seus olhos brilharam com a luz do entendimento, e ela sorriu antes de responder.

- A ausência, dentro da filosofia de Deleuze, é um conceito bastante complexo e multifacetado. Deleuze não via a ausência como uma mera falta ou vazio, mas como uma presença potencial de algo diferente, uma abertura para a criação e transformação. Na obra dele, a ausência não é simplesmente a falta de presença, mas um espaço onde novas possibilidades podem surgir.

Ela fez uma pausa, observando a reação dos alunos, antes de continuar.

- Na literatura, isso se reflete de várias maneiras. Pensem, por exemplo, nas lacunas e silêncios em uma narrativa. Esses espaços não são apenas ausências de palavras ou eventos, mas oportunidades para o leitor preencher com sua própria imaginação e interpretação. A ausência, nesse sentido, é criativa e generativa, convidando o leitor a participar ativamente da construção do significado.

Lauren prosseguiu, sua voz carregada de paixão e conhecimento.

- Um excelente exemplo disso é o trabalho de Virginia Woolf. Em seus romances, especialmente em "Ao Farol", Woolf utiliza a ausência - a passagem do tempo, a morte de personagens - não como meros vazios, mas como momentos carregados de significado e potencial. Esses espaços vazios permitem ao leitor contemplar o fluxo da vida, a impermanência, e a própria natureza da existência. Woolf, assim como Deleuze, nos mostra que a ausência pode ser um ponto de partida para novas percepções e entendimentos.

A professora fez uma pausa, olhando para o auditório com um olhar penetrante.

- Deleuze nos desafia a ver a ausência não como algo a ser temido ou lamentado, mas como uma parte essencial do processo de criação. Na literatura, isso se traduz na capacidade de um texto de ressoar além de suas palavras, de criar significados e emoções no que não é dito, no que é deixado para o leitor descobrir e experimentar.

O auditório estava em silêncio, todos os olhos fixos em Lauren, absorvendo cada palavra. A profundidade de sua explicação parecia tocar algo essencial em todos presentes, uma compreensão mais rica do papel da ausência tanto na filosofia quanto na literatura.

Lauren continuou, com os olhos brilhando ao ver a resposta positiva do público.

- Portanto, a ausência, seja em Deleuze ou na literatura, não é um simples vazio. É um espaço de potencial, uma abertura para a criação e a transformação. E é essa capacidade de transformar ausência em presença, silêncio em significado, que torna a literatura e a filosofia tão profundamente interligadas e infinitamente fascinantes.

Os alunos começaram a aplaudir, reconhecendo não apenas a erudição de Lauren, mas também sua habilidade em tornar conceitos complexos acessíveis e relevantes. A pergunta sobre a ausência havia se transformado em uma aula sobre a essência da criação, um momento de aprendizagem que muitos ali levariam consigo muito além das paredes do auditório.

Enquanto o aplauso diminuía, uma nova mão se levantou no fundo do auditório. Quando Lauren olhou, seu coração quase parou. Era Camila. O tempo parecia desacelerar enquanto ela processava a presença inesperada. Camila, com um olhar determinado e uma leveza que Lauren conhecia bem, fez a pergunta que trouxe de volta uma onda de memórias e emoções.

Dolci RicordiOnde histórias criam vida. Descubra agora