𝐌𝐄𝐌𝐎𝐑𝐈𝐄𝐒, 𝗍𝗋𝗎𝖾 𝖻𝖾𝖺𝗎𝗍𝗒

𝗉𝗋𝗈𝗅𝗈𝗀𝗎𝖾

𝗦𝗜𝗡𝗧𝗢 𝗢𝗦 𝗣𝗜𝗡𝗚𝗢𝗦 𝗗𝗘 𝗖𝗛𝗨𝗩𝗔 molharem meus cabelos enquanto olhava para o corpo a minha frente.

Senti meu coração se partindo.
Não era real. Não podia ser.

Seu rosto estava pálido e sua roupa encharcada, mas não era de água. Em meio a todo aquele sangue, eu podia ver a pulseira em seu braço. Ele ficou com ela até o último suspiro.

Até a morte.

Acordo assustada com o barulho do despertador e aos poucos vou entendendo onde estou.

Era real. Foi real.

Maldita memória.

Em meu ver, memórias são o pior tipo de tortura.
Elas ficam vagando em sua mente, te lembrando da dor todos os dias, fazendo com que você nunca à esqueça.

Passo a mão no rosto, logo subindo para a testa tirando os fios de cabelo bagunçados e molhados pelo suor. Respiro fundo antes de finalmente me levantar. O dia de hoje vai ser longo.

Malditas lembranças.

✩

Era começo de março e um clima mais fresco chegava junto com a primavera.
Os alunos se preparavam para o início de um novo semestre e de um novo ano.

Andava em direção ao colégio completamente alheia às coisas ao meu redor. Só pensava em como iria ser voltar assim de repente, depois de um bom tempo.

Quando o coordenador veio falar comigo que tiveram um problema no sistema, por conta de uma transferência e fui colocada na outra sala por engano, eu quase surtei. Eu saí daquele lugar por um motivo e ter que voltar agora estava fora de cogitação.

Praticamente implorei ao homem para não ter que voltar, mas ele insistiu dizendo que daria muito trabalho me mudar de novo e que eu nem iria perceber a mudança. Só um ano. O último ano.

Continuei insistindo, mas vendo que não resultaria em nada acabei aceitando, tentando me convencer de que daria tudo certo.

Mesmo assim ainda estava ansiosa, voltar àquele lugar e ver aquelas pessoas me fazia pensar em coisas que eu prometi não ligar mais, que eu prometi deixar para trás.

Estava lidando bem com seus problemas, mas agora ter que voltar pra lá, trazia tudo atona novamente.

Meu pensamentos são interrompidos ao colidir com alguém.

— Droga, perdão. — Digo ajudando a pessoa, que percebi ser uma garota, a se levantar.

— Sem problemas. — Me responde sorrindo de forma simpática.

Aceno e sigo andando após pedir desculpas mais uma vez.

Assim que chego a antiga, ou nova, sala permaneço um tempo parada em frente a porta.

Lembranças me invadiram, lembranças felizes e tristes ao mesmo tempo. Tantas que senti as coisas ao meu redor começarem a girar.

Sabia que precisava entrar, então com a coragem que não tinha, adentrei o local.

Após o ato, a mesma garota de antes apareceu ao meu lado.

Ela também é dessa sala? Talvez seja nova já que nunca a vi por aqui.

A castanha olhou em minha direção e me lançou um belo sorriso. 

Logo o professor notou nossa presença e pediu que a turma ficasse em silêncio para nos apresentar, mas antes que ele pudesse fazer um discurso, me senti no primeiro lugar que vi. Última carteira da fileira da porta. Tinha uma boa visão da lousa, acho que escolhi bem.

A outra continuou em pé, até o professor a apresentar como aluna nova transferida. Seu nome era Lim jukyung. Sem nem ter tempo de dizer algo, foi aplaudida e enchida de elogios pelo restante da sala.

Realmente ela é linda.

Sr. Han não satisfeito com aquilo decidiu me apresentar, ou melhor, me envergonhar.

— Também temos outra aluna nova, na verdade antiga, por favor. — Fez um sinal para que ficasse em pé e sem muita escolha, obedeci. — Park Yuna acabou sendo transferida para a nossa sala também. Seja bem-vinda de volta.

Fala sério.

Senti vários olhares se voltarem para mim, então permaneci com os olhos fixos no professor mantendo um sorriso falso.

Ficou-se um silêncio estranho por um momento, mas seguindo o homem os alunos começaram a aplaudir.
Ele sorria como se aquilo fosse algo incrível, mas não era, não para mim. Me curvei em agradecimento e sentei, abaixando a cabeça sobre a mesa.

Pelo visto, passar despercebida não funcionou.

𝗇𝖺̃𝗈 𝖾𝗌𝗊𝗎𝖾𝖼̧𝖺𝗆 𝖽𝖾 𝗏𝗈𝗍𝖺𝗋 <3