ERA OUTRO MUNDO NOVO PRA MIM. EU TE CONHECI QUANDO VOCÊ ESTAVA SUADO. UM GAROTO UM TANTO ESTRANHO. EU DA LUA, VOCÊ DAS ESTRELAS. NOSSAS CONVERSAS ERAM COMO LIÇÕES DE CASA. MELHORES AMIGOS NUM DIA, INIMIGOS EM OUTRO — BTS, Friends.
❁ Julie Bennett ❁
- Eu queria ter coragem pra ir no julgamento dele - encosto minha cabeça nas pernas de minha mãe. Em plena sexta-feira eu e ela estamos sentadas no sofá com uma touca de cetim na cabeça e unhas dos pés secando enquanto passa um programa de culinária na TV.
- Está tudo bem você não ir, imagino como ficou depois de tudo isso. Não sabe o quanto ainda estou mal por saber que enquanto eu viajava e me divertia você foi sequestrada e quase estuprada, Julie!
Não importa quantas vezes eu diga a minha mãe que não passou de um toque. Certo, ainda acordo assustada as vezes, ainda sinto a mão bruta e a pele nada sedosa apertando meu seio e o arrepio me enche toda vez feito uma doença que se agrava.
Coço meu cabelo por cima da touca tentando me livrar da sensação apenas pelos flashes daquela noite terrível, minha mãe agarra minha bochecha me obrigando a olhar pra ela.
— Isso não é necessário — tento falar, minha voz sai entrecortada com o aperto contra minha boca.
— Eu teria voltado se tivesse me falado.
— Você estava estressada aqui, e estava feliz lá. Só consegui pensar no quanto fiquei contente em ver você feliz, já que todos os dias aqui comigo pareciam tediantes — Talia apaga o sorriso e lá está de volta a cara e culpada. — Era assim que eu me sentia mãe, que eu estava atrapalhando sua vida. Eu sei que isso não é fácil, sei que lidar com isso não é fácil e sinceramente as vezes agradeço por saber que tenho dificuldades em engravidar. Antes não engravidar nunca do que engravidar cedo — cuspo as palavras.
— Não engravidei cedo de você — faz uma careta. — Não tão cedo. O que aconteceu é que não esperava que meu relacionamento de mais de dez anos fosse acabar, e saber que seu pai nutriu sentimentos por outra mulher me deixou... eu fiz o que não devia por muito tempo. Vim pra cá e conhecer Mark foi o que me salvou, me tirou daquele poço.
— Sei disso, mãe — respiro fundo sentindo ela puxar minha touca e começar a acariciar meus cabelos passando a unha levemente pelo couro cabeludo. Fazia assim quando eu era criança. — A senhora me via como um motivo, sei que via. Pensava que eu era o motivo pelo qual não podia sair sempre com meu pai, que não tinha mais os grandes momentos a sós. Ter filho é isso, só é preciso administrar esse tempo.
Minha mãe me analisa e escuto uma risada alta.
— Acho o auge eu escutar concelhos de maternidade e casamento de minha própria filha de dezoito anos.
Apesar da minha risada cortar a dela, igualmente alta, igualmente escandalosa. Agarro sua mão pra chamar a sua atenção, porque eu reparei naquilo o bastante. Ano após ano antes de viajarmos para cá.
— Eu precisei estudar o que fez você se tornar assim — murmurei, com medo de falar em voz alta o que sei que magoa uma mãe. — Me tratar dessa forma, ser filho também é difícil. Não parece. Não parece que adolescentes tem problemas, ou sei lá... só... é muito difícil ser filho e não atender as expectativas dos pais. E por muito tempo tentei atender as suas, só porque queria um pouco de você perto de mim.
— Oh, filha — minha mãe me agarra num abraço desengonçado com o tom cortante na garganta. — Me desculpe, eu era tão cega.
— Tá tudo bem mãe, já perdoei você. Só estou me dizendo como me sentia, é esquisito. Nunca falei nada porque é muito mais difícil pra você, porque é uma mulher, mãe solteira, quarenta e poucos anos... sei como a sociedade costuma agir. Aqui não é tão diferente do Brasil — dou os ombros. Certas coisas não mudam em canto algum do mundo.
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DOCE TORMENTO • JJK
FanfictionBully Romance +18 Dark Romance +18 Viver nos Estados Unidos devia ser um conto de fadas, mas para uma brasileira - a única brasileira de todo o colégio - não era exatamente uma coisa boa. Aparentemente todo mundo ali tinha uma visão de mulher brasi...