17 ❁ No meu sangue

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MEXENDO NO MEU CELULAR DE NOVO, ME SENTINDO ANSIOSO. COM MEDO DE FICAR SOZINHO DE NOVO, EU ODEIO ISSO. ESTOU TENTANDO ENCONTRAR UM JEITO DE RELAXAR, NÃO CONSIGO RESPIRAR. SERÁ QUE ALGUÉM PODERIA — SHAWN MENDES, IN MY BLOOD.

Julie Bennett

Piper tinha ficado comigo durante a noite inteira, mas foi só de manhã que o inferno começou. Levantar da cama foi difícil, alcancei as pílulas de remédio que tomo diariamente rezando pra que aquilo fosse menos pior enquanto eu estivesse na escola.

Eu duvidei disso e no fim das contas tive razão. Piper acariciou minhas costas e meus ombros pelo tempo que pode, enquanto meu útero se contorcia em cor e eu vazava sangue feito uma nascente de rio.

A noite chegou tão rápido quanto pude pensar, não ousei arrumar o que tinha de arrumar em casa e já cheguei avisando a Margot que eu ia fazer uma compressa quente. Não se aliviava muito, me fazia relaxar o suficiente pra que conseguisse dormir duas ou três horas. E pela minha sorte não tinha visto Aiden.

Também não sabia o que tinha acontecido na corrida, se ele tinha ganhado, se tinha mesmo corrido. Menos cinco mil dólares pra um adolescente que deve a um ex-presidiário é um ótimo começo, o que eu espero é que ele consiga tirar sua bunda da reta.

Ajoelhei do lado do colchão e gemi a cada movimento conforme arrumava o lençol e o edredom e só aí me deitei com a cabeça encostada no travesseiro e coloquei a compressa de pano sob meu útero inchado. Meu corpo parecia ainda maior quando menstruo.

A injeção bimestral já estava em cima de minha bolsa, pronta para ser injetada. Estava criando coragem pra fazer isso, infelizmente a dor não ia sumir de repente e aplicar uma injeção em mim mesma sempre era insuportável e dolorido.

A porta do quarto se abriu e não abri os olhos, o cheiro dele pairou o quarto inteiro, escuto ele tirar os sapatos e trocar de roupa em silêncio absoluto. Massageio a área da compressa e minutos depois ele pula na cama.

— O que é isso na sua barriga? — a luz do computador era o que iluminava o quarto. Abri os olhos e Jungkook não usava nada além de um short folgado pra dormir, ele se abraçou com o travesseiro e continuou me encarando.

— Eu quero evitar esse tipo de pergunta, por favor — volto a fechar os olhos.

— O que é?

Porra.

— Uma compressa quente — murmuro fazendo pressão contra meu útero.

— Pra que serve? — respiro profundamente. Se eu fosse um dragão teria queimado o teto.

— Maldita curiosidade de macho que não entende nada sobre mulheres — meus olhos pesaram e uma onda de dor passou novamente. Meu corpo estremeceu e fiz uma careta retorcendo minhas pernas.

— Escuta, tá tudo bem? Você tá estremecendo.

— Bem? Bem está você que tem um pau e não uma buceta — encaro ele novamente, um risinho está posto nos lábios e prefiro não encarar seus olhos para saber se o riso tinha chegado até eles. — A compressa serve pra aliviar as dores de cólica.

Meu vizinho mal mexeu do canto.

— Entendi. Por isso que você ficou assim na escola — Jungkook comentou tão baixo que desconfio que foi mais para si do que pra mim, revirei os olhos com a ideia de que ele esteve de olho em mim na escola.

Tirei a compressa com cuidado ignorando os olhar dele sobre cada movimento meu. Larguei o tecido já quase frio no chão e procurei pela luz, eu tinha que dar logo essa injeção e tentar dormir o mínimo que fosse. Jungkook não reclamou da claridade, cobriu todo o corpo com a coberta verde e me observou pegar o aplicador e colocar a agulha. E o remédio.

— Isso é uma injeção? — me apoiei de pé ao lado do colchão e mordi a língua, que tipo de pergunta era essa? Não respondi.

Se ele tava vendo um aplicador na minha mão, uma agulha, ele sabia o que era.

Apalpei minha coxa com o remédio na medida certa, inclinei meu tronco pra ver melhor e apertei a carne aproximando a agulha. Era sempre uma gastura diferente ver uma ponta dessas entrando na minha pele, soltei um resmungo e um xingamento baixo até a agulha entrar por completo e comecei a aplicar o medicamento. Pouco a pouco.

— Pra que isso serve? — a voz dele me interrompeu novamente, fechei os olhos e dei o último aperto esperando dois segundos antes de puxar de volta a agulha.

— Você faz umas perguntas insuportáveis — Guardo na caixa que estava antes, para ser descartado, apago a luz e me sento na beirada do colchão aproveitando o alívio da dor fraca nas pernas. — É só um remédio que tenho que tomar a cada dois meses.

— E o que você tem? Não é todo dia que eu vejo alguém se dando uma injeção — ele nem mesmo disfarçava a curiosidade na ponta da língua, só decido responder porque estou entediada o suficiente para achar a voz dele até agradável. Qualquer coisa é melhor que ignorar essa dor.

— Essa injeção é progesterona, tenho que tomar hormônios pra o tratamento da minha doença.

Doença. Me lembro de quando dizer que eu sou doente era uma abominação, no fim das contas me acostumei tanto a ter uma doença incurável que não me importo mais.

— Você tem uma doença? — certo, isso foi surpresa de verdade.

— Endometriose profunda. Antes que pergunte, é uma doença onde o endometrio deixa o interior do útero e se adere, no meu caso, a parede a parede abdominal. E — gesticulo enquanto me deito, procurando por uma posição confortável. — antes que pergunte, é uma doença sem cura.

— Que bizarro — Jungkook pareceu esquisito, sem saber o que falar. — É, parece dolorido.

Soltei outro xingamento indignada. Homens. Malditos homens que nunca vão saber o que é ter uma cólica menstrual, ou uma dor abdominal por ter endometriose profunda, ou sentir as pernas doerem tanto que ficar de pé é insustentável.

Homens e seu mundinho de homens.

— É dolorido. Quero chorar nesse exato momento porque parece que vou explodir de dor — murmurei fechando os olhos. Puxo minha ciberta para cima de mim até metade da barriga e coloco minha mão por de baixo do short em cima do útero. Jungkook parecia pronto para fazer outra pergunta, ou outro comentário, mas abro a boca antes de deixar que ele me importune. Ele não precisava saber. — A corrida, você ganhou?

Qualquer indício de brincadeirinha ou sorriso perverso que pudesse haver no sorriso dele, embora seus olhos parecessem ter talvez algo banhado de compaixão — mesmo que duvide que ele saiba do significado dessa linda palavra — sumiu no minuto que fiz a pergunta.

Aiden se remexeu inquieto e não me olhou, simplesmente se virou de costas e a luz do computador se apagou como se o tempo de tela tivesse acabado. O escuro inundou o quarto.

— Não. Não ganhei.

Meu coração acelerou e meu corpo foi drenado de tanta adrenalina e medo que esqueci por uns segundos a dor que me dilacerava. Apertei o travesseiro com força e permaneci em silêncio.

Raciocinando.

— A única coisa que você tinha de fazer era pilotar. Porra.

E aí, borboletinha? Até amanhã, não se esqueça de comentar e votar 🦋😈



DOCE TORMENTO • JJKOnde histórias criam vida. Descubra agora