27 ♰ Demônios

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QUANDO TODOS OS SEUS SONHOS FRACASSAM. E AQUELES QUE ACLAMAMOS SÃO OS PIORES DE TODOS. E O SANGUE PARA DE CORRER. EU QUERO ESCONDER A VERDADE. EU QUERO PROTEGER VOCÊ. MAS COM A FERA DENTRO DE MIM, NÃO HÁ ONDE NOS ESCONDERMOS — IMAGINE DRAGONS, DEMONS.

Jungkook Matthews

É sábado de manhã e acordo cedo só pra ver Julie antes de sair, tá, não é só isso. De fato eu quis ver ela antes de sair, normalmente ela acorda tão cedo que não consigo ver ela antes de ir pra escola.

Pela primeira vez tinha sido esperto o suficiente, mesmo depois daquela conversa esquisita de ontem a noite.

Eu revelei quase tudo daquele dia, do que aquilo era. Um bendito teste que ela não tinha passado e que se soubesse que me sentiria ainda pior, nunca teria feito.

A maldita pergunta tinha matutado na minha cabeça desde que ela saiu, você não está apaixonado por mim, está? Não me dei conta, obviamente, do porque aquilo tinha me passado pela cabeça tantas vezes e porque a resposta que eu dei estava me incomodando.

Em um mês que Julie dormiu no meu quarto posso dizer que ela não é insuportável e chata, que é alguém que pensa demais e que tem seus próprios demônios. Que guarda tudo pra si mesma e não gosta de falar sobre sua maior insegurança: sua própria aparência. Como alguém linda como aquela garota pode ter insegurança?

Nunca a odiei e isso é fato, assim como é um fato que toda vez que ela retrucava e dizia o mesmo sobre mim eu sentia raiva. Porque parecia conhecer mais sobre mim do que meus próprios amigos, como se me observasse o suficiente pra saber, e ainda sim não sabe de nada.

Como que em um mês tinha mostrado minha cicatrizes a ela? Não todas. Não as que ainda não estão curadas. Mas mostrei aquilo que meu pai faz e metade do colégio, ou quase todo ele, não sabe. O Jungkook poderoso do colégio é um covarde que encolhe os ombros quando escuta uma ameaça do pai por medo de ser inútil mais uma vez.

É possível você ser um inútil desde que nasceu e é possível você ser um inútil a cada dia.

Sinceramente não sei em qual me enquadro.

Me sento na frente do computador e permaneço pelo menos por uma hora olhando o chão, o canto que ficaria vazio pelos próximos dias já que ela nunca mais vai dormir aqui. E, coincidência ou não, foram os dias mais bizarros e rápidos do ano.

Julie não me notou observando de manhã, minha mãe fez um café pra ela de despedida e evitei o aperto no peito quando me lembrei que aquela garota também tinha jogado na minha cara que meus pais me achariam um lixo se soubessem o que eu fiz com ela.

Devia agradecer, seria mais um motivo para estragar a família. O que ainda nos resta.

Ela tinha retirado a capa do travesseiro, dobrado, feito o mesmo com o lençol e o edredom. De joelhos no chão e gemendo baixo com a dor. Não sei se dos joelhos ou se outra coisa. Ela ainda estava… com cólica ou coisa parecida? Sua pele parece ficar mais seca no período, sua boca também.

— Que bom que você está na frente do computador — meu pai entra pela porta já aberta vestindo uma roupa casual, tão casual que parece estranho. Soa estranho. Sua figura é composta sempre com um terno, afinal mostra ainda mais as sua importância.

Diferente de mim. Seu único herdeiro a beira do colapso.

— Precisa de algo? — engulo a seco e me obrigo a ajeitar a postura, o suficiente pra que ele note e cruze os braços. A maldita pose de toda vez. Já espero o que vem.

DOCE TORMENTO • JJKOnde histórias criam vida. Descubra agora