003 - Dia calmo

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Quando cheguei em casa, fui direto para o meu quarto. Fechei a porta e me joguei na minha cama. Eu queria gritar, e quebrar tudo pela minha frente, mas obviamente eu não fiz isso. Meu primeiro dia de aula foi terrível, minhas expectativas foram completamente destruídas e isso havia me deixado completamente acabado.

  Depois de um tempo meus pais me chamaram para lanchar. Naquele momento eu juntei algumas forças que ainda tinha e levantei da minha cama.
  Me sentei na mesa com eles e respirei fundo. Meus pais, claro, notaram rapidamente minha expressão de decepção.

— Como foi o primeiro dia de aula, Remi?
  Meu pai perguntou.

— Foi... Normal.
  Eu menti. Peguei alguns biscoitos e coloquei um na boca.

— Tem certeza? E o Léo?
  Minha mãe disse enquanto me servia um suco vermelho.

— O Léo está na mesma sala que eu, isso é bom.
  Bebi um pouco do tal suco. Morango.

  Depois, neste mesmo dia passei o restante do dia inteiro no meu quarto, naquele momento estava saindo para tomar outro banho.

  Nossa amizade nunca foi alvo de zombarias como a daquelas meninas, aquela experiência era nova para nós dois. No começo eu não ligava para aquilo, pensava que era bobo me preocupar com as opiniões dos outros, mas no fundo eu sabia que me importava e não podia negar isso. O que eu tentava parar de pensar mesmo era na reação de Léo, ver o loiro daquele jeito era novo, afinal, juntos sempre estávamos sorrindo e rindo, mas eu deveria achar normal, ele estava apenas se defendendo.

  Entrei no banheiro e meus olhos vão até a navalha de cortar barba do meu pai que estava no chão. Minha mente pensava algumas coisas idiotas naquele momento, mas eu apenas revirei meus olhos para mim mesmo e guardei a navalha junto com as coisas do meu pai.
  Da última vez que cometi um erro assim, nunca mais pude me trancar em nenhum cômodo.

  De noite, eu lutava brutalmente contra a insônia. Fechava meus olhos na esperança do sono surgir e, como uma brisa suave, me levar a uma viagem entre sonhos loucos e divertidos. Mas, obviamente, isso ficou apenas na minha lista de decepções. Minha mente me dominava com pensamentos mais rápidos do que eu poderia explicar, e eu parecia não encontrar conforto suficiente para realmente dormir.

···

  No dia seguinte, já estava saindo a caminho da escola. Estava um pouco cansado por quase não ter dormido na noite anterior, mas já estava meio que acostumado com aquilo. Me despedi da minha mãe e do meu pai e saí de casa. Desde que comecei a ir pra escola sozinho sempre me encontrava com o Léo para irmos juntos, o que não foi diferente naquele dia, pedalei e logo o loiro de olhos claros apareceu com sua bicicleta.
  Ele estava sorrindo, eu logo fiquei aliviado, havia pensado que depois do ocorrido do dia anterior ele iria ficar mais sério.

— Oi!
  Falei sorrindo e me aproximando com minha bicicleta.

— Oi!
  Léo me imitou com seu humor irritante de sempre.
— dormiu bem?

— Uhum…
  Fiz um bico com meus lábios e balancei minha cabeça simbolizando um "mais ou menos".

— Um pouco?
  Ele perguntou e eu concordei com a cabeça. Pelo menos desta vez eu estava falando a metade da verdade. Era doloroso mentir para meu melhor amigo, mas não conseguia ser sincero em relação a esses meus problemas.

— E você? Bastante?
 
— Bastante.
  Ele respondeu fazendo nós dois rimos.

  Nós chegamos na escola e colocamos nossas bicicletas num canto. Havíamos chegado um pouco cedo, então nós dois fomos nos sentar num dos bancos do pátio. Alguns alunos vieram e começaram a conversar com o Léo, o que não é muito surpreendente já que ele era legal e se dava bem com todo mundo.
  Eu me senti um pouco de lado e senti vontade de puxar Léo para longe deles. Eu estava com... Ciúmes? Isso não era certo. Eu deveria ter parado com isso, mas obviamente não consegui parar de pensar em Léo me substituindo, então logo pensei que deveria me acostumar com os ciúmes também.

  Logo deu a hora de ir para a sala. Uma aula calma e sonolenta de história, o professor falava sobre algo que eu tentava prestar atenção. Minha cabeça tinha disparado novamente, com os mesmos pensamentos de sempre. Eu deveria ter tido umas férias, mas minha mente, claro, não aceitaria isso.
  Olhei para Léo e vi alguns garotos jogando bolinhas de papel nele, eu rapidamente olhei para o professor que falava sem parar sem perceber o que estava acontecendo.
“Merda. Aposto que isso é por causa de mim, por causa da nossa amizade "estranhada" pelos outros.”  Eu pensei.

···

  No recreio eu e o Léo nos deitamos na grama do pátio e ficamos lá tomando sol. Era um dia quente, mas ótimo para ficar ao ar livre como fazíamos naquele momento.
  Eu olhei para ele, me aproximei e deitei minha cabeça na barriga dele fazendo dele meu travesseiro.

  Logo começaram as risadas e comentários idiotas ao nosso redor.
— Suspeito.
  Eu ouvi várias risadas de alunos irritantes.
— Que bonitinho, deitadinhos juntos!
— Ah, gente. Esse casal é fofo.
— Fofo? São nojentos.

  Mas eu simplesmente não me importei, estava feliz com meu melhor amigo. Se eu e ele temos a consciência de que somos melhores amigos, os outros não eram nada, não devia explicações inúteis a pessoas sem maturidade.
  Mas de repente eu comecei a escorregar, Léo girou e havia se deitado de bruço.

— Que foi?
  Perguntei. Léo estava esquisito, mas me recusei a pensar que ele se importava com que os outros falavam. Eu tinha certeza que ele se importava mais comigo, então pensei que era outra coisa.
  Então eu apenas deitei nele novamente, fazendo desta vez, as costas do loiro de travesseiro.

— Remi, tô com calor.
  Ouvi Léo reclamar.

— Uhum, eu também.
  Ignorei ele e continuei apoiado nele.

— Tá calor.

— Não, não sai, não.
  Falei rápido tentando o impedir de fazer tal coisa, mas ele se moveu ignorando meus pedidos fazendo eu bater a cabeça na grama.
— Aí.
  Eu reclamei com minhas mãos no local.
 
— Desculpa.
  O de olhos azuis disse se deitando na grama novamente.

  Então eu finalmente desisti e me deitei ao lado dele.

  Depois de um tempo deitados na grama, alguns garotos começaram a jogar bola e logo Léo se juntou a eles.
  Me sentei na grama e permaneci observando eles chutando e gritando para terem o passe. Eu não era bom em futebol, então apenas fiquei olhando o meu melhor amigo se divertir com outras pessoas.

  Naquele dia que seria o meu concerto, eu estava ansioso e nervoso. Sabia que tinha o costume de tocar oboé, mas ainda tinha medo de errar na frente de todo mundo.
“E se eu errar e estragar tudo?!” Eu pensava isso constantemente. Aquilo já não estava mais normal, eu estava ficando realmente apavorado ao pensar nisso.

Remi's visionOnde histórias criam vida. Descubra agora