Peguei minha bicicleta e pedalei sozinho até a escola. Eu tinha plena consciência de que deveria ficar em casa, mas me recusava ter que ficar em casa depois daquilo.Estava vestindo uma blusa de mangas compridas, estava meio frio e elas me ajudaram a esconder você sabe o quê.
Na escola eu fiquei conversando com Lídia e Jean, já que Léo...
A conversa estava boa e eu usava a mesma máscara de sempre para que não vissem quem eu realmente era. Não queria preocupar as pessoas ao meu redor, eu pensava que o que eu sentia não era importante para elas.- Naquele dia eu quase morri. Vocês têm ideia?! Lá era muito alto!
Jean falava de forma meio exagerada querendo nos impressionar com sua sobrevivência. Eu ria, ele era bem engraçado.- Não exagere, Jean! Aquela parede não é tão alta assim, você não ia morrer.
Lídia o corrigiu com sarcasmo e implicância.- Bem, talvez você apenas quebraria alguns ossos, o que seria bem terrível...
Falei com um pouco de humor, pelo menos tentei. Logo percebi alguns olhares meio desconfortáveis vindo deles, que logo fazeram eu abaixar minha cabeça."Que merda, Remi! Por que tem que ser tão estranho?!" Eu pensei querendo desaparecer.
- Mas enfim, eu estou vivo e inteiro.
O garoto de cabelos escuros riu um pouco.Depois daquele momento Lídia e Jean começaram uma discussão sobre cores de cada matéria. Eu tentava falar alguma coisa mas um deles sempre me interrompia para implicar com o outro.
Me sentia invisível e queria me levantar e ir embora, mas não fiz isso por vergonha. Então, olhei para Léo. Ele estava rindo e parecia bem feliz com os novos amigos dele do outro lado do pátio.
Aquilo me matava, sentia meu coração ser despedaçado em várias partes. Eu queria ser um deles, queria estar com ele, queria que ele voltasse a seu o meu melhor amigo.
O sinal tocou e fui para minha sala sem me despedir dos dois brigões que ainda se implicavam. Hoje era dia de prova, estava tentando me acalmar, mas isso era bem inútil. Recebi a prova e logo notei que estava ferrado. Eu não sabia nenhuma questão, mas até que consegui me virar depois de um tempo.
- Léo, olha para sua prova.
Escutei o professor repreender o loiro.Olhei para ele e o vi já olhando para sua prova.
"Será? Não. Ele parece não sentir falta de mim. É óbvio que ele deve estar apenas distraído."
Eu presumi, tentando não criar esperanças que futuramente seriam mais decepções.
Não só aquele dia mas todos os meus dias, eu estava vivendo no piloto automático, havia me perdido em uma imensidão de frustrações e outras diversas coisas. Com tantas expectativas abaladas, nada mais era interessante, nada era o suficiente para me fazer mudar de ideia. Estava me sentindo um robô, que foi programado para fazer as mesmas coisas todos os dias.Eu não tinha mais o meu melhor amigo, ele havia me substituído e aparentava estar muito mais feliz. Ao contrário de mim que precisava dele para sobreviver, ele era a luz da minha escuridão.
Meus pais, eu amava eles. Me sentia terrível em fazer eles sofrerem daquele jeito. Odiava ver minha mãe desesperada junto comigo nos dias em que eu surtava.
Então quando eu cheguei em casa, eu estava sozinho, as aulas terminaram cedo. Com todas aquelas coisas na minha cabeça, eu enlouqueci, na verdade já estava louco há muito tempo.
Joguei minha mochila com força no chão e com determinação, fui ao banheiro, automaticamente trancando a porta.
Logo, brilhantes lágrimas salgadas como o mar e mais profundas que a imensidão do mesmo, viajavam pelo meu rosto rapidamente, que num piscar de olhos já haviam caído, dando passagem para outras diversas.
Tranquei a porta do banheiro e me perguntei se aquilo era mesmo a melhor coisa a se fazer.
Todas as minhas memórias mais felizes rodavam como um filme na minha mente. Todas as risadas, brincadeiras, viagens e outras. Haviam três pessoas pela qual eram mais frequentes nessas memórias: Meu pai, minha mãe e Léo. As três pessoas que foram mais importantes para mim na minha jornada.
Foi nesse dia que tomei A decisão.
Eu comecei a agir. Procurei pelo banheiro por algo... Esse era o impacto. Meus olhos vão até a banheira que logo comecei a encher. Enquanto esperava a água subir eu pensava, pensava e pensava. "Isso é a melhor coisa a se fazer." Eu pensava com minhas unhas apertando meu braço com força "Qual é o sentido da minha vida? Eu preciso fazer isso."
Então, a banheira finalmente se encheu. Respirei fundo e entrei nela, sentindo a água gelada nas minhas pernas. Minhas mãos entraram nos bolsos da minha bermuda, respirei profundamente e mergulhei todo o meu corpo de barriga para baixo.
Nos primeiros segundos, prendi minha respiração, algo automático. Depois, meu corpo começou a agir sozinho, como se tomasse o controle de mim. Nesse momento, meu corpo estava à procura de oxigênio e tentou puxar o ar, mas apenas água foi o que entrou.
Enquanto eu queria morrer, meu corpo tentava me salvar. Era uma batalha épica. Me contorcia, quase levantando, mas consegui resistir e permaneci embaixo da água.
Depois de algum tempo, tudo se acalmou de repente. A última coisa que notei foram os meus olhos se fechando.
Então tudo escureceu rapidamente.
°°°
- E essa foi a história da minha morte.
Eu terminei de contar.Queridos pais e Léo.
Eu queria que pudessem realmente receber esta carta, mas como não será possível, apenas escreverei por ignorância da minha parte.
Eu estou bem aqui. É um lugar calmo e finalmente me sinto em paz.
Peço desculpas por tudo que fiz vocês passarem, eu realmente era um peso grande na vida de vocês. Fico feliz em aliviar a barra para vocês também.
Eu quero que saibam que já estive pensando neste pavoroso fim a bastante tempo, mas alguns fatores ajudaram isso realmente acontecer.
Mãe e pai, peço desculpas por todas as situações que coloquei vocês durante aquelas crises terríveis. Tenho certeza que estão melhor sem isso.
Léo, eu tinha raiva de você por deixar nossa amizade de lado por causa das outras pessoas, mas eu hoje entendo você, e te perdoo por isso. Não se culpe! Por favor. Eu já estava quebrado a muito tempo. De um jeito, ou de outro, esse talvez fosse o meu destino.
Apenas queria que soubessem que eu amava vocês, e ainda amo.
Então é assim que finalizo esta carta inútil.Com carinho Remi.
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Fim!!!
Esse foi o último capítulo de Close na Visão do Remi.
Se não entenderam uma explicação: Se repararam escrevi tudo no passado, é como se o Remi estivesse contando para alguém a história de como ele morreu. Ele foi o narrador.
Bem, eu espero que vocês tenham gostado. Quero deixar claro que escrevi mais ou menos como eu imagino, se discorda de alguma coisa, eu entendo!!
💞

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Remi's vision
Random"Eu dei todos os meus sinais, mas ninguém os entendeu. Implorei por ajuda, mas eu estava preso num quarto pequeno e escuro. Eu não deveria ter te deixado, mas você me deixou antes que eu pudesse pensar em outra alternativa." Com lágrimas salgadas e...