009 - Tempestades barulhentas

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No dia seguinte eu acordei às oito horas da manhã. Me levantei da cama bastante desanimado para enfrentar o dia e fui para a cozinha, meus pais estavam lá, rapidamente começaram a me dar atenção.

- Sente-se, o café está quase pronto.
Disse minha mãe com sua voz calma e suave. Era como se nada tivesse acontecido no dia anterior, tudo normal... tirando a parte que meus pais estavam sendo melosos e alegres demais, esse jeito de me consolar era meio irritante.

Me sentei na mesa ao lado do meu pai, coloquei meu cotovelo na mesa e apoiei minha cabeça na minha mão.
- Como está se sentindo?
Meu pai perguntou olhando para mim.

- Estou bem, estou bem.
Respondi com a voz baixa e evitando o olhar do meu pai.

No fim terminamos de tomar o café da manhã e meus pais conseguiram me animar com as maluquices deles. Fiquei um pouco melhor. Estava pensando em seguir metade do conselho dos meus pais, o conselho de contar o que estava sentindo para alguém, mas o meu plano não era contar para meus pais, era contar para o Léo, iria contar para ele que não estava bem com nosso afastamento e que podemos ignorar as pessoas desnecessárias da escola. Eu iria fazer isso quando estivéssemos à caminho da escola.

Então, depois do almoço eu terminei de me arrumar para a escola e parti com a minha bicicleta. Estava me preparado para finalmente fazer isso, e estava criando expectativas de que voltaríamos a ser melhores amigos. Eu passei pelo caminho de sempre e sinto a falta de Léo que já deveria estar me acompanhando, então eu preferi parar e esperar um pouco, talvez ele tenha se atrasado.

Eu esperei por alguns minutos, mas logo percebi que não valia mais a pena ficar por lá e comecei a ir para a escola sozinho, pela primeira vez, isso nunca havia acontecido, pelo menos não de propósito, apenas dias em que Léo estava doente.

Mas ao chegar na escola e ver o loiro conversando com outras pessoas me quebrou, mais do que eu já estava. Eu fui até ele, sério e com meus punhos cerrando.

- Onde você estava?
Minha voz era quase irreconhecível, eu não me reconheci, nunca estive tão decepcionado em toda a minha vida.

- O que?
Eu estava fazendo de novo, reprimindo minha raiva numa caixa já cheia.

- Por que a gente não veio junto? Você sabe, como sempre.

- Eu comi mais cedo, aí eu saí mais cedo.
Ele se explicou sério também. Mas eu não conseguia acreditar nele, era algo óbvio, pelo menos na minha cabeça, que ele havia achado alguém melhor.

Fiquei tentando achar algum sinal de mentira nele, alguma coisa que me fizesse ter mais esperança. Enquanto eu fazia isso, o terrível silêncio veio entre nós por alguns segundos.
- Remi, não é nada. Não é nada, tá? Vem se enturmar.

O loiro já ia indo voltar ao grupo dele. "Como ele se atreve?!" Eu pensei e dei um leve tapa no braço dele para ele se virar para mim.

- Você sempre me esperou e agora me abandona?
Minha voz estava meio triste mas por dentro a raiva tentava fugir da caixa que a reprimia.

- Eu te falei, saí mais cedo.

- Não!
Como uma pequena gota do mar, a mais famosa representação de alguém que teve uma derrota na vida, com os olhos brilhantes de mágoa, a lágrima escapa do meu controle e deslizou pelo meu rosto e viajou até cair no chão e desaparecer na grama.

- Remi, não chora.
Léo continuou.
- Não é nada, Remi. Para de chorar, não chora.
"É sério que essa é a tentativa dele de me consolar?! Não chorar?! Ele nem tenta saber o meu ponto de vista da história e quer tentar melhorar as coisas me pedindo para não chorar?" Pensei.

Naquele momento minha raiva explodiu, tudo aquilo que estava tentando não fazer escapou rapidamente com um ódio terrivelmente grande. Eu avancei para cima de Léo querendo o machucar com toda a minha força, queria que ele sentisse na pele o que eu sentia por anos psicologicamente.

- Remi! Remi, para!
Ele tentava me segurar.


Até que eu senti alguém me segurando com força para longe de Léo. Eu não estava satisfeito, eu realmente queria fazer aquilo. Consegui me soltar dos braços da professora que estava me segurando e corri até o loiro de olhos claros, mas fui impedido por Charlie, o irmão de Léo, que me segurou e permitiu que a professora me segurasse novamente.

Eu continuei a tentar escapar ofegante e um pouco fraco enquanto observava eles se afastarem e ouvia a professora tentar me acalmar.

- Acabou, Remi. Acabou.
Ela falou.

Eu fui levado para a diretoria e tiveram que trancar a porta, ficando apenas eu e o diretor na sala.

Meu coração batia aceleradamente, meus braços cruzados e uma expressão facial irritada. O homem parecia não acreditar no que estava acontecendo.

- Ah... Remi, vou ligar para sua mãe vir lhe buscar. Sei que não faria algo assim sem ter seus motivos, mais o senhor terá que cumprir uma detenção no próximo sábado.

Ouvi o diretor falar enquanto ele anotava algumas coisas. Logo ele pegou um telefone e ligou para minha mãe, reconheci instantaneamente sua voz serena e confusa.

A conversa foi um pouco mais longa do que eu esperava. Minha mãe de início pensou que era um engano do diretor, mas depois que viu que estava errada, ela rapidamente saiu do trabalho para ir até a escola. Quando ela chegou rapidamente veio ver se eu estava bem e me deu um abraço.

O carro estava silencioso, havíamos acabado de entrar nele e minha mãe já estava dirigindo para casa. Eu queria sumir dali, sentimentos que até hoje não sei explicar me perseguiam constantemente.

- Remi...
Ouvi a voz da minha mãe e olhei para ela que estava no volante.
- Enquanto estava dirigindo a caminho da escola eu estava conversando com seu pai. Nós dois estamos muito preocupados com você, nunca vimos você agir dessa forma...
Ela falava com cuidado pensando em cada palavra que iria usar, de alguma forma eu sabia que aquilo não era bom, ela estava querendo dizer alguma coisa importante.

- Eu sei! Eu estou sendo uma pessoa terrível, mas isso talvez melhore, eu estou tentando.

Ela respirou profundamente e pensou no que ia dizer.
- Eu entendo, Remi. Mas eu preciso que você me conte o que está acontecendo, por favor.
"Talvez uma segunda chance antes dela trazer a bomba que está tentando me dizer?" Pensei. "Recusarei de braços abertos."

Eu apenas respirei fundo e virei meu olhar para observar o caminho à minha frente através do parabrisa. Então pela primeira vez eu realmente quis que o silêncio dominasse o local, realmente não queria ter que falar sobre o que estava acontecendo com ninguém.

Quando cheguei em casa, tomei banho e fui dormir, mesmo que não estava na hora de dormir, e não estava nem um pouco perto, eu não queria mais conversar com ninguém e estava bem cansado.

Remi's visionOnde histórias criam vida. Descubra agora