005 - Silêncios desconfortáveis

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  Era mais um dia de aula, desta vez eu e Léo fomos a pé para termos mais tempo para conversarmos no caminho. Chegamos lá um pouco cedo e tivemos um pequeno tempo livre, mas o loiro estava conversando com outras pessoas e eu não estava afim de conversar com pessoas novas.

  Bem, em relação a conversar com pessoas que não conheço, eu não tive muita escolha. Uma garota de cabelos curtos castanhos, olhos escuros e franja, veio até mim e parou na minha frente sorrindo gentilmente.

— Meu nome é Lídia. Não somos da mesma sala mas você parece ser legal e está sozinho. É um crime deixar pessoas legais sozinhas.
  A garota disse com uma voz suave e com um pouco de humor. Eu ri um pouco.

— Sou Remi.
  Eu me apresentei. Não sabia muito o que falar, mas o sinal da escola tocou impedindo que um de nós tente falar qualquer coisa.

— Ah, é melhor irmos para nossas salas. Nos vemos por aí!

— Até!
  Eu falei e fui para minha sala.

  Quando cheguei lá eu me sentei no meu lugar de mapeamento e esperei pelo professor. Vi Léo se sentar no lugar dele, ele olha para mim e eu sorrio gentilmente, logo vejo ele fazer o mesmo antes do professor entrar na sala.

  Depois de algumas aulas chegou o tão esperado intervalo. Desta vez eu me juntei com Léo e fui conversar com o pessoal que ele conheceu.

— Aí eu fui lá e disse que tudo ficou horrível e que não era para ele continuar daquele jeito.
  Uma garota falou meio estressada com a história que contava.

— Mentira! Você nunca teria coragem de falar isso.
  Um garoto respondeu provocando a raiva da garota.

  Eu olhei para meu melhor amigo e um garoto loiro estava zombando dele. Ele falava coisas idiotas e deu um tapa em uma parte meio comprometedora de Léo, que logo ficou irritado.

— Cê tá me zoando? É sério isso?
  Léo disse sem seu humor de sempre, eu estava… querendo rir? Não sei.

— O que? Você gosta, você gosta, marica.

— Você tá me ofendendo. Cala a boca. Volta para o seu grupo de merda!
  O loiro de olhos azuis estava irritado e sem paciência.

— Volta pro seu grupo de merda.
  O garoto imitou Léo com uma voz fina.
— Eu sou Léo e eu sou viado.

  Eu vi ele simplesmente se cansar e voltar a prestar atenção no grupo que estávamos, que no caso, parou para prestar atenção na discussão.

— Viado é quem faz o que ele fez. Não liga não, deixa pra lá.
  Um garoto do grupo fala fazendo Léo sorrir.
  Neste momento o silêncio dominou todos ali, a única comunicação eram os olhares diferentes que ali estavam. Léo me olhou, mas eu desviei o olhar para o lado evitando qualquer erro, ou qualquer sorriso ou risada sem lógica.


  Depois fomos passar por um dos  corredores da escola para nossa aula vaga, que iríamos ficar em sala.

— Olha só, os viadinhos.
  Eu escutei alguém zombar.
— Né? Não tenho paciência, cara. Dois nojentos.

  Eu olhei para Léo com um sorrisinho no rosto. Quando éramos crianças costumávamos levar críticas na brincadeira e zombar, não as levando a sério.

  Minha ideia era começar a irritar essas pessoas chatas com risadas e comentários sarcásticos, mas o loiro de olhos azuis estava com a expressão fechada.
Eu acho que desta vez ele realmente se importou. Então eu desisti e logo meu sorriso desapareceu.

Ao chegar na sala perdi Léo da minha visão por alguns breves minutos. Logo o vi começando uma conversa com outro garoto.
  “Por quê? O que ele queria falar com aquele garoto que não poderia falar para mim?”

  Eu respirei fundo e olhei para o meu redor. Todos estavam conversando e rindo com alguém.

De repente uma garota apareceu, a mesma de mais cedo.

— Oi! Eu disse que iríamos nos ver.
  Ela falou com humor.
— Ah! Este é o Jean. Ele é meio quieto, mas não se espante quando ele começar a endoidar.
  Eu olhei para ele.

— Oi Jean.
  Falei depois de rir um pouco.
— Sou o Remi.

— Oi.
  O garoto baixo, de curtos cabelos castanhos, olhos de mel e voz baixa falou.

  Nós três começamos a conversar, e realmente o Jean não era tão quieto. O tempo passou rápido e quando percebemos já estava na hora de ir embora.

  Eu e Léo começamos a caminhar lado a lado para nosso “porto seguro”, já estávamos querendo ir pra lá há um tempinho e o fato dele ir dormir em minha casa aumentou as chances de irmos.

Não falamos nada durante o caminho, pelo menos para mim, o silêncio era terrível, me matava não ter coragem de falar alguma coisa. O clima estava pesado e nossas expressões não eram boas.

   Eu só queria voltar no tempo e aproveitar nossas brincadeiras juntos por uma última vez.

  Agora estávamos lá, sentados, cada um de um lado em silêncio e olhando para o lado de fora. Eu mexia minha espada de madeira pelo chão tediosamente.

  Já estávamos assim a muito tempo, acho que ele estava se importando com os comentários idiotas um pouco mais do que eu esperava.
  Eu olhei para Léo… Então eu tive uma ideia.

  Olhei para fora e logo me levantei com pressa ficando na “porta” do casebre.

— O que cê tá fazendo?
  O loiro de olhos claros finalmente falou alguma coisa.

— Não tá ouvindo nada? Eu tô ouvindo passos.
  Eu vi um pequeno sorriso no rosto dele. Estava conseguindo!
  Olhei mais um pouco para o campo de flores vazio e me escondo ao lado.
— Se esconde!
  Sussurrei.

— Mas do que? Não tem nada.
  O loiro disse se levantando e parando do meu lado.

— Shhh! Para de fazer barulho.

— Eu não vi nada.
  O garoto continuou persistindo em recusar a brincadeira.

— Shh! Tão lá atrás. Não tá ouvindo?
  E eu continuei insistindo na brincadeira.

— Eles não estão atrás da gente.
   Então Léo foi até a “porta”.
— Vamos voltar pra casa?

  “Por quê?! Por que ele não queria mais brincar e imaginar comigo?”  Me questionei mentalmente.

  Sempre fazíamos isso quando estávamos no nosso “porto seguro”.

  Eu me recusava a aceitar que ele se importava com que os outros pensavam da gente, apenas tinha certeza que o problema estava em mim e eu iria perder ele se não descobrisse o meu erro.

“Talvez minhas demonstrações de amor não sejam "masculinas"... Aí zombam do Léo por minha culpa” Eu pensava.

  No caminho para minha casa tudo foi bem silencioso. Eu comecei a pensar que deveria começar a tentar me acostumar com aquilo.
  Não havia mais sorrisos e nem mesmo risadas.




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