Capítulo 1

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POV DARYL
— Daryl? Daryl... acorda, meu filho, já são quase duas horas da tarde — Carmen diz, me oferecendo seus bolinhos de carne.
— E o que posso fazer nesse lugar além de dormir? Pelo amor de Deus Carmen, estou há meses escutando os barulhos dessas ondas nesse maldito bangalô. Eu não aguento mais! Eu preciso voltar para Nova Iorque, ver minhas filhas só uma vez não adianta.
Carmen anda de um lado para o outro com a feição carregada de preocupação. Ela sabe que eu não vou aguentar ficar aqui por muito mais tempo.
— Daryl, você sabe muito bem o risco que corre com Max à solta. Além de você, Elena e Tatia estão na mesma situação. Ninguém pode saber que você está vivo, além de mim, Alejandro e Martina.
Suspiro profundamente, passando as mãos pelo rosto em um gesto de exaustão.
— Por falar na caipira, por favor, não a traga aqui hoje e nem nos próximos dias. Eu quero ficar sozinho durante o tempo em que você estiver fora.
Carmen para e me olha com um misto de tristeza e determinação.
— Eu entendo sua frustração, meu filho. Sei que é difícil estar longe de tudo e de todos que ama. Mas precisamos garantir sua segurança, e a de Elena e Tatia também. Max ainda está à solta e qualquer passo em falso pode colocar tudo a perder.
Eu sei que ela tem razão, mas é difícil demais. Ver Tatia só uma vez foi pior do que não vê-la.
Carmen se aproxima e coloca uma mão carinhosa no meu ombro.
— Prometo que faremos tudo para resolver isso o mais rápido possível. Só preciso que tenha um pouco mais de paciência. Você é forte, Daryl, e precisamos dessa força agora mais do que nunca. Eu vou encontrar com Alejandro amanhã ele deve vir aqui para falar com você.

Na manhã seguinte fico sentado por um tempo, olhando para o prato dos bolinhos de carne de ontem sem realmente vê-lo. O som das ondas, que antes me trazia alguma paz, agora é um lembrete constante do meu isolamento.
Levanto-me e começo a andar de um lado para o outro, como se o movimento pudesse aliviar a angústia dentro de mim, cada canto desse bangalô parece apertar mais, as paredes parecem se fechar lentamente. Preciso de um plano, preciso fazer algo para poder sair daqui.
Pego o telefone antigo que Alejandro me deu e olho as poucas mensagens que tenho, todas de Carmen ou Alejandro. Sem novas notícias. Mas que tipo de notícia eu ainda espero depois de saber que Elena é filha de Matt e que ele e Olívia estão casados?
A vontade de sair correndo e voltar para Nova Iorque é esmagadora, mas a imagem de Max à solta me segura. Não posso arriscar a segurança das crianças.
Decido sair para uma caminhada. Talvez o ar fresco ajude a clarear minha mente. Abro a porta do bangalô e sou recebido por uma brisa salgada e o som das ondas mais alto ainda. Caminho pela praia deserta, e cada passo afundando na areia úmida, aumenta a minha angustia.
Depois de um tempo, me sento em uma rocha grande, observando o horizonte. A sensação de impotência é avassaladora. Fecho os olhos e tento imaginar Elena e Tatia, suas risadas, seus abraços. Isso me dá um pouco de força. Preciso aguentar por elas.
De repente, sinto uma presença ao meu lado. Abro os olhos e vejo Alejandro. Ele deve ter chegado enquanto eu estava perdido em meus pensamentos.
— Daryl — Ele diz, com a voz grave e séria. — Precisamos conversar.
Assinto, percebendo que ele tem notícias. Boas ou ruins, ainda não sei, mas qualquer coisa é melhor do que essa espera interminável.
Quando chegamos ao bangalô, Alejandro se vira para mim com uma expressão séria, mas também com um brilho de esperança nos olhos.
— Daryl, tenho boas notícias e algumas condições — Ele começa pegando um envelope do bolso. — Conseguimos uma solução temporária. Você pode voltar para Nova Iorque. Eu acho que ainda não era tempo, mas Carmen tem o coração mole, ainda mais tratando-se dos filhos.
Meu coração dispara. A ideia de voltar, mesmo com as condições, parece um alívio enorme.
— Sério? Como isso vai funcionar?
— Já tem um tempo que comprei sua antiga casa de Olívia, caso você voltasse. — Ele continua entregando-me o envelope. — Aqui estão os documentos, estão todos em nome de Enrico para não levantar suspeitas. Mas há um grande "porém". Você não pode aparecer para ninguém. Terá que ficar trancado em casa até resolvermos tudo com Max.
A euforia inicial se dissolve um pouco. A perspectiva de estar de volta em Nova Iorque, mas ainda isolado, é um alívio misturado com frustração.
— Entendo — Digo, tentando absorver as informações. — Mas isso significa que poderei estar mais perto de Tatia, certo? Mesmo que eu não possa vê-la imediatamente?
Alejandro assente e solta um breve suspiro.
— Você precise ter calma, eu estou trabalhando incansavelmente para resolver a situação com Max. Mas você precisa prometer que seguirá todas as regras. Qualquer deslize pode ser fatal, não só para você, mas para todos que amamos.
— Prometo — Digo com firmeza. — Farei o que for necessário.
Alejandro sorri, com um pouco de alívio visível em seu rosto.
— Vamos nos preparar. Partimos amanhã ao amanhecer.
Sei que será difícil, mas estou disposto a enfrentar qualquer coisa para estar mais perto das minhas filhas e eventualmente, retomar minha vida.

O amanhecer chega rápido. Alejandro e eu seguimos para o aeroporto, evitando ao máximo sermos notados. A viagem é tensa, mas finalmente, após 4 horas de voo estamos de volta a Nova Iorque.
Quando entro na minha antiga casa, um misto de nostalgia e tristeza me invade. Tudo está igual, mas diferente ao mesmo tempo. Olho ao redor, lembrando dos momentos felizes que passei aqui com Olívia e as meninas, mas agora, preciso transformar este lugar em meu refúgio seguro.
Alejandro me dá um tapinha nas costas.
— Lembre-se, Daryl. Fique aqui. Não arrisque nada. Vamos resolver isso.
Assinto, sentindo a responsabilidade e o peso da situação. Alejandro se despede e sai, deixando-me sozinho e eu fecho a porta, respirando fundo. Agora, estou de volta, mas a verdadeira luta ainda está por vir.

POV CARMEN
As lembranças angustiantes dos meus filhos assombravam minha mente como cenas de um filme de terror. Daryl precisava encontrar seu próprio caminho, compreender que tanto Matt quanto Olívia estavam seguindo seus destinos e que tudo estava desenhado como consequência de seus atos. Mas como eu poderia fazê-lo entender isso?
Antes que eu pudesse formular uma resposta em minha mente, fui interrompida pela minha afilhada Martina, que me esperava ansiosa como sempre quando eu voltava de Nova Iorque
-Madrinha! - Martina veio correndo em minha direção. – Foi tudo bem na viagem? Daryl já está em casa?
-Oi, minha querida! Foi tudo bem, obrigada! - Respondi, tentando esconder as preocupações que me assolavam.
-Oh, desculpe! Venha, madrinha, deixe-me ajudar com suas malas. Acabei de preparar um café fresquinho para a senhora.
-Ótimo, meu bem! Vamos aproveitar enquanto tomo o café para eu te contar as novidades.


POV MARTINA.
À medida que minha madrinha me contava sobre sua estadia na grande cidade, eu ficava sonhando com a possibilidade de um dia conhecer um lugar assim. Imaginava como as pessoas viviam lá, e como seria incrível ver pessoalmente as maravilhas que ela descrevia.
-Martina, Daryl está arrasado por causa de Olívia e das filhas. - Ela disse, tomando o último gole de café já morno que sobrava na xícara. -Ele teve a chance de reencontrar Tatia pela segunda vez, e foi maravilhoso, mas smeu filho ainda não encontrou paz.
-E quanto à outra menina madrinha?
-Ah, sim, Elena? Ela também o viu, mas estamos preocupados que ela conte algo para a Olívia, especialmente agora que ela está grávida do Matt.
Martina arregala os olhos e leva as mãos à boca.
-Madrinha, Daryl deve estar furioso!
-Ele já sabia dessa gravidez antes de voltar, mas eu tenho medo de ele fazer uma besteira, como da vez que foi a Nova Iorque e entrou na festa da Liza. Preciso encontrar alguém de confiança para ficar perto dele na minha ausência, alguém que possa cuidar do meu filho.
-Martina, minha filha, acabei de ter uma ideia. Tenho a pessoa perfeita para isso! Como não pensei nisso antes?
-Sério, madrinha? Quem seria?
-Você querida! Quem melhor para essa tarefa do que você? Tenho certeza que minha comadre Esmeralda não vai se opor, afinal de contas você pode ter um futuro por lá, fazer uma faculdade e até mesmo ter uma profissão.
Nunca imaginei que minha madrinha faria uma proposta assim, e que minha vida mudaria tanto, minha existência pacata e simples estava prestes a sofrer uma grande reviravolta.
-Mas o que exatamente você tem em mente, madrinha? - Perguntei, ainda meio atônita com a proposta.
-Eu gostaria que você fosse morar com Daryl ele está precisando de alguém de confiança e quem melhor do que você? E eu tenho confiança em meu filho, ele vai te tratar muito bem.
A ideia começou a tomar forma na minha mente. A possibilidade de mudar de ares e buscar um futuro melhor era tentadora. Claro, eu amava minha cidade natal, mas a oportunidade de estar perto de Daryl era uma chance que eu não podia deixar passar.
-Madrinha, eu estou... surpresa, mas ao mesmo tempo muito animada! - Respondi, tentando conter a excitação na minha voz.


POV DARYL
O som daquele relógio estava me deixando mais nervoso do que o habitual. Já chequei as horas inúmeras vezes. De que adiantou voltar para Nova Iorque se vou ficar preso nessa casa cheia de lembranças de Olívia e minhas filhas? Pelo menos no Bangalô, eu tinha aquela caipira para conversar e me ajudar a passar o tempo. Decido subir para minha suíte e tomar banho. Preciso sair, dar uma volta nem que seja disfasçado. Ao abrir minha mala feita há mais de uma semana em Porto Rico, reviro as roupas em busca da camisa Armani. Ao tocar algo estranho, encontro as conchas que Martina me deu, como isso veio parar aqui? Sinto um aperto no peito ao lembrar o quanto fui rude com ela, mas também me lembro o quanto sua voz soava irritante nos meus momentos de angústia.
Não consigo parar de pensar em Olívia desde que cheguei e Contei até mil inúmeras vezes para resistir à tentação de procura-la. E se seus sentimentos mudassem ao saber que estou vivo? E se ainda houver uma chance de reconstruir minha família?
Já são 20:00 e não tenho nada para comer na despensa. Um fast food agora parece uma boa ideia, mesmo que minha vida pareça estar repleta de escolhas pouco saudáveis, pelo menos até Carmen voltar e organizar alguém para cuidar da casa. Pego o carro reserva que Alejandro me emprestou, e sigo o caminho em pensamentos sobre minha vida monótona.
Ao chegar ao fast food, estaciono na primeira vaga disponível, coloco meu boné e observo ao redor para verificar se há alguém conhecido. Saio do carro e caminho com a cabeça baixa até a lanchonete. A fila está enorme, e minha aversão por esperar só aumenta. Cruzando os braços, observo as pessoas ao redor, especialmente as famílias e crianças. A saudade das minhas filhas aperta meu peito. Se ao menos pudesse vê-las todos os dias, talvez não me sentisse tão desgostoso com minha vida.
Pago pelo lanche e saio pela porta lateral. Meus olhos se fixam na mulher de cabelos castanhos que caminha lentamente enquanto fala ao telefone. Conforme ela se aproxima, meu corpo inteiro se enrijece. Quando ela alcança a área mais iluminada do estacionamento, confirmo minhas suspeitas e ao notar a pequena saliência em seu ventre, confirmo sua gravidez. Fico parado enquanto ela termina a ligação sem perceber minha presença.
-Tatia... Passe o telefone para o papai. Agora é a vez d'le escolher o que quer comer."
Matt não é o pai da Tatia, eu sou! E também criei Elena por um tempo, como ela ousa me excluir assim da vida das minhas filhas? Uma raiva incontrolável toma conta de mim, e sem pensar, agarro o braço de Olívia com força, fazendo com que ela deixe o telefone cair no chão. Olívia me encara como se visse um fantasma, imóvel e sem conseguir acreditar no que está acontecendo.
-Eu sou o pai dela! Não o Matt! - Eu exclamo, com a voz carregada de desespero e indignação.
Olívia desmaia diante de mim e eu a seguro rapidamente para evitar que se machuque. Fico ali olhando para ela inconsciente, atordoado com minhas próprias ações.
-Meu Deus, o que eu fiz?


POV OLÍVIA
As paredes brancas e os uniformes típicos dos enfermeiros confirmam que estou em um hospital. Abro os olhos lentamente e vejo o rosto de Matt, meu amado. Aos poucos, começo a lembrar o motivo de estar naquela cama, e inicialmente acho tudo insano. Mas conforme Matt me conta, a realidade absurda se revela: Daryl está vivo, meu ex-marido ou talvez meu atual marido, e estou casada e grávida do irmão dele! O que será de nossas vidas? São tantas questões tumultuando minha mente. Choro compulsivamente, e é então que o Dr. Josh entra na sala, pedindo que eu me acalme e foque no bebê que está a caminho. Aproveitando o momento, ele anuncia que Matt e eu seremos pais de um menino. A princípio, essa notícia me deixa feliz, mas a revelação de que Daryl está vivo domina meus pensamentos, obscurecendo qualquer outra emoção.
-Matt! - Olho para ele, ainda sem acreditar no que acabara de me revelar. - Eu chorei por vários dias, minhas filhas sentiram tanto a falta do pai. E agora Daryl está vivo? Ele me olhou com tanto ódio, eu lembro. Precisamos falar com ele! Precisamos explicar. Eu sei que houve culpa dele, mas não consigo sentir ódio. Imagina o sofrimento que ele passou.
-Agora não é o momento, princesa. - Matt responde com calma. - Ele precisa de tempo para tudo, para reorganizar sua vida. Olívia, me desculpe, mas não vou desistir de você e das meninas. Eu sei que ele é o pai legítimo da Tatia e que vocês foram casados, mas desta vez não vou abrir mão da minha felicidade.
Eu me mexo na cama, tentando me ajeitar um pouco.
-Não estou sugerindo isso, Matt! Seria absurdo. - Eu respondo rapidamente. - Você é o amor da minha vida e sempre foi. Mas eu me preocupo com Daryl. Só queria poder conversar com ele.
-Vamos falar com ele, eu prometo. Tudo vai se acertar- Ele assegura com um sorriso gentil. - Agora, descanse, meu amor. Você precisa descansar, e nosso bebê também.

POV DARYL
Mais uma vez eu devo ganhar o título por ser um estúpido, Matt acabara de sair da minha casa furioso, Olívia está no hospital por minha culpa, e mais uma vez o "certinho" está com a razão e eu sou o vilão.
Um barulho na porta dos fundos interrompe meus pensamentos, e eu ouço a voz de Carmen:
- Vamos entre minha filha. – Ela diz para outra pessoa;
Mas quem veio com ela? Eu cruzo meus braços, dou um longo suspiro e reviro meus olhos quando vejo aquela menina patética deslizando suas sandálias praianas pela porcelana cara da cozinha.
-Posso saber o que está acontecendo Carmen? – Eu a questiono.
Ela balança a cabeça e sorri com desdém pelo fato de eu não a chamar de "MÃE".
-Daryl, onde é que você estava com a cabeça? Aparecer para Olívia no estado frágil em que ela se encontra? Nós tínhamos combinado que você esperaria, meu filho! Ainda não é seguro, Max não pode descobrir que você está vivo e em Nova Iorque. Eu só concordei com isso porque você prometeu que não sairia de casa.
Dou de ombros e volto para a sala repetindo minha sequência de exercícios enquanto ela despeja a lição de moral em cima de mim. Mas como não sou de ferro, a retruco:
-Eu não aguentei ouvir ela dizendo ao Matt que ele é o pai de Tatia ok? E eu não fui atrás dela, eu a encontrei por acaso no fast food. Estava com fome! Queria que eu morresse de fome?
Carmem senta ao meu lado, e eu já começo a sentir um remorso por trata-la com estupidez, eu quero maltratar minha mãe por vingança, mas não consigo, esse amor e dedicação dela por mim me deixa vulnerável.
- Por isso eu trouxe Martina meu filho, ela vai passar um tempo aqui e cuidar de você, da casa, comida e tudo mais.
Eu olho para aquela pobre moça, e penso Deus do céu, pelo menos podia ser uma gostosa para eu poder me divertir um pouco, mas olhando bem as roupas esfarrapadas dela nem tenho coragem de pensar em ter qualquer coisa com Martina. E sinceramente? Estou muito cansado para essas brincadeirinhas.
- Ok, pode acomodá-la. – Digo.
Carmem se despede e em seguida vai para a casa do Matt, para ajudar a cuidar de Olívia e das meninas.
- Carmen? Pode trazer minha filha para ficar comigo? Somente ela me faz bem nessa vida.
Essa última frase era uma grande mentira porque além de Tatia, a presença da minha mãe me confortava bastante, mas por orgulho, eu não conseguia admitir isso agora;
- Claro que sim filho.
Me despeço de longe e em seguida subo para trocar de roupa e dar um mergulho na piscina para refrescar o corpo e a mente.

POV MARTINA.
O cenário de luxo e distância era completamente estranho para mim, envolvendo-me como um manto de gelo. Cada olhar que Daryl me lançava parecia uma prova da crescente desconexão entre nós e eu sentia que nada poderia aliviar a dor que ele claramente carregava sempre que o nome de Olívia surgia em alguma conversa.
Por volta das cinco da tarde, a chegada da madrinha com Tatia numa mão e Elena na outra trouxe um alívio bem-vindo ao ambiente tenso. Eu sempre tive um carinho especial por crianças, admirando a pureza e a alegria que emanavam delas. Tátia, com seus olhos brilhantes e riso contagiante conseguiu por um breve momento afastar a melancolia que pairava sobre Daryl.

A loirinha correu para os braços dele com a alegria de pronunciar a palavra "papai". Sentaram-se juntos no chão, e agora eu via duas crianças se abraçando. Elena, mais tímida, apertava a mão da madrinha, curiosa ao olhar para sua irmãzinha e seu "tio".
Daryl encarava Elena como se visse Matt ali, mas ela se aproximou com cautela, enquanto Tatia desmanchava o sorriso ainda no colo do pai. Tatia era uma garotinha geniosa, logo cheia de ciúmes.
-Elena, você tem seu pai! Esse é meu!
A garotinha de cabelo castanho claro ignorou sua irmã e continuou se aproximando com determinação e com delicadeza surpreendente para sua pouca idade. Elena puxou a gola da camisa de Daryl, com seus olhos fixos na tatuagem em seu peito e um sorriso tímido iluminando seu rosto quando finalmente falou:
-Agora eu sei quem você é...
Daryl, intrigado, respondeu com um meio sorriso.
-Ah, é? E quem eu sou?
-Você é nosso papai anjo que estava no céu e agora voltou!
A emoção transbordava nos olhos de Daryl enquanto ele encarava aquela pequena criatura, incapaz de conter a surpresa e o carinho que aquelas palavras simples lhe traziam. Nunca antes eu havia visto aquele homem tão afetado, tão vulnerável. Meus próprios olhos ficaram ligeiramente úmidos com a intensidade do momento.
-Nós temos dois pais? - Elena perguntou ingenuamente, quebrando o breve silêncio que se seguiu.
Daryl segurou suavemente a mão de Elena e a colocou em sua outra perna, olhando para as gêmeas com um sorriso leve, agora tingido de ternura e leveza.
- Eu amei vocês desde o momento em que vi seus rostinhos. Matt é meu irmão e seu pai de sangue minha princesa, mas no meu coração você também é minha filha. Eu sempre estarei aqui para vocês.
- Matt não é meu pai... Mas agora eu gosto dele também. – Tatia disse, fazendo manha.
Elena passou sua mão pequenina delicadamente no rosto de Daryl e o fitou com seus belos olhinhos amendoados.
-Não brigue mais com meu papai. Ele fica tão triste!
A madrinha se aproximou intrigada, ajoelhou-se e questionou Elena.
-Como você sabe, minha querida?
-Eu ouvi meu papai chorando e dizendo que sentia muito por tudo, mas que ele e mamãe não tinham culpa. Ele disse umas coisas feias de você, papai anjo, mas depois disse que te ama.
A expressão da madrinha suavizou-se ao compreender as palavras de Elena, enquanto Daryl, emocionado, segurou a mão da menina com gratidão. A complexidade dos sentimentos naquela sala, entre o amor e a dor, entre o passado e o presente, se entrelaçava de uma maneira que ecoava profundamente para todos ali presentes.

Consegui captar algo diferente em Daryl depois de todo esse tempo convivendo com a amargura dele. Eu pude perceber que, depois de tanto amor dessas meninas, mas principalmente de Elena que nem era sua filha biológica, finalmente eu via uma claridade em seu ser, e olhando tão frágil dessa maneira e pude perceber que era tarde.
Eu estava apaixonada por Daryl, mas teria que sufocar isso para sempre, ele nunca olharia para mim, não do modo que eu queria que me olhasse, Daryl apenas me olharia como alguém que está ali para servi-lo.

POV POR DARYL
As palavras da pequena Elena mexeram profundamente comigo no dia anterior, de uma forma que eu mesmo não consigo explicar.
Hoje, porém, acordei mais leve, como se uma névoa tivesse se dissipado da minha mente, embora o rancor ainda se fizesse presente dentro de mim.
Apesar de tudo, decidi seguir minha vida com um novo propósito: me dedicar especialmente à minha filha e à minha sobrinha, a quem sempre considerei como minha própria filha. Tomei a decisão de que talvez eu não tenha nascido para ser feliz no amor, mas encontro uma felicidade maior no amor que posso oferecer e receber dessas meninas.
Minha vida será movida por um amor incondicional e um desejo profundo de vê-las crescerem felizes e seguras.
Matt não me negará o amor por Elena, não depois de ter se casado com Olívia. Todos esses pensamentos vêm à tona enquanto tomo uma ducha bem demorada.
Saio do banho com o corpo ainda encharcado, procurando a toalha, mas não a encontro.
— Droga! — Murmuro baixo. — Vou ter que pegar a porra da toalha!
Saio do banheiro e vou até o armário. De repente, a porta do meu quarto se abre, e Martina entra. Ao me ver completamente nu, ela deixa cair a pilha de roupas que carregava.
— Ei, garota! Não sabe bater na porta, não?
A pobre coitada não sabia onde enfiar a cara e eu me diverti com a situação. Acho que ela nunca viu nada parecido na vida.
— Vai ficar aí parada me admirando ou vai me dar uma toalha? — Digo, praticamente rindo dela.

POV MARTINA:
Nunca senti tamanha vergonha na vida. Sem me dar ao trabalho de responder a Daryl, simplesmente juntei as roupas, entreguei a toalha e saí sem emitir palavra. Notei que ele riu de mim. E quem não riria de uma caipira boboca que se envergonha de tudo?
Eram quase 12:30, e eu havia preparado o almoço do jeito que ele gostava. Daryl desceu as escadas, falando alegremente ao telefone. Sentou-se à mesa e almoçou enquanto continuava a conversa animada. Parecia mais feliz hoje e como mencionei antes, algo mudou nele desde que viu as filhas ontem.
Após terminar o almoço, Daryl veio até a cozinha para pegar mais suco. Eu nem olhei para ele, ainda morrendo de vergonha pela cena patética que havia acabado de protagonizar.
-Martina? - Ele chamou, com um tom de voz indiferente.
-Sim? - Virei-me para responder às suas palavras.
-Estou indo treinar lá fora. Por favor, arrume o salão e as bebidas que vão chegar, vou receber algumas pessoas para uma festa íntima hoje.
-Mas a madrinha disse que... bem, não era para outras pessoas virem aqui.
-São pessoas de confiança... Isso é uma ordem! E não diga nada para Carmen!
- Sim claro, como quiser. – Eu digo me virando para terminar de lavar a louça.
- Ótimo, obrigado! Amanhã pode tirar o dia de folga.
Pela primeira vez, ouvi um "obrigado" sair da boca de Daryl, e isso me fez feliz, mesmo sendo um simples agradecimento.
O resto da tarde foi um martírio, assombrada pelos pensamentos que tive de Daryl desde que o vi nu. Aquela imagem não saía da minha cabeça... de que ele era o homem mais perfeito do mundo.
Terminei de arrumar tudo do jeito que Daryl queria e estava saindo do salão quando ouvi vozes se aproximando. Homens e mulheres elegantíssimos passaram por mim sem sequer notar minha presença. Eu observava aquelas mulheres com seus sapatos de salto alto e vestidos requintados, tão curtos, e percebi que esse era o tipo de mulher que Daryl apreciava. Olhei meu reflexo no vidro da porta, sentindo-me ainda mais desanimada. Meu coração se partiu, eu sabia que nunca seria como elas, pois nem mesmo sabia andar de salto.
Tentei afastar esses pensamentos da minha mente, concentrando-me nos afazeres e em fazer tudo o mais perfeito possível.
Era tarde da noite e o sono começava a tomar conta de mim. Decidi ir até o salão para verificar se tudo estava em ordem antes de me recolher. Deixar a vergonha de lado para aparecer diante daquelas pessoas estava sendo um desafio e tanto para mim. Coloquei copos limpos na bandeja e andei devagar pelo lado da piscina, sentindo calafrios cada vez que ouvia as risadas estrondosas das pessoas.
Comecei a recolher os copos sujos para dar lugar aos limpos e percebi que todos ali estavam embriagados, eles riam alto e se vangloriavam acompanhados por mulheres deslumbrantes que os bajulavam o tempo todo.

Pego o ultimo copo sujo de cima da mesa contendo um resto de bebida, e quando ouço a risada alta de Daryl meu coração gela. Sinto meu mundo desabando e meus sentimentos se estilhaçando quando observo a mulher que está sentada em seu colo o beijando.
Fico parada feito uma estátua olhando aquilo, me sinto uma completa idiota, aquelas outras risadas aleatórias e a música quase que desaparecem diante daquela visão que me destruía por dentro. A bela loura levanta do colo dele para se servir de uma dose, eu sinto o copo escorregando aos poucos de minha mão, acordo daquele transe ouvindo o barulho de estilhaços de vidro e desperto por completo com os gritos da acompanhante de Daryl.
- Sua Estúpida! Olha o que você fez! Meus sapatos!
Ela me fulmina com o olhar e eu fico sem saber o que fazer, um dos amigos de Daryl se expressa de longe com um comentário totalmente inoportuno.
- Acho que a caipira quis se vingar do patrão.
Daryl se levanta e pergunta:
-Você está doido? Tirem a bebida do Peter! – Daryl diz entre risos.
Todos se olham, em seguida direcionam seu olhar para mim e riem. Eu não consigo acreditar em tal constrangimento, e na mesma hora me arrependi de ter saído do meu país, perdendo o encanto por tudo que sonhei em Nova Iorque.
A bela mulher, cujos sapatos eu havia encharcado, me olhou com um misto de ódio e sarcasmo.
-Jamais ele trocará Gucci por esse lixo, né? - Ela disse, pegando meus fios de cabelo como se fossem repulsivos. - Olha só esses trapos e esse cabelo horrível.
Todos riram, mas Daryl permaneceu sério, porém sem dizer uma palavra para me defender. Com os olhos marejados, abaixei a cabeça e comecei a recolher os cacos de vidro. As pessoas logo se dispersaram, esquecendo-se de mim.
Ao sair do salão, olhei para trás e vi uma cena que doeu mais do que as risadas e ofensas daquela mulher arrogante. Daryl a beijava enquanto suas mãos deslizavam pela silhueta dela. Engoli minhas lágrimas e entrei na mansão decidida a ligar para minha madrinha e voltar para meu país, o lugar de onde eu jamais deveria ter saído.
Com as mãos trêmulas, peguei o telefone e disquei o número de Carmen. Ela atendeu após alguns toques, e eu mal consegui conter as lágrimas ao desabafar sobre tudo que havia acontecido.

POV DARYL
Mal conseguia me concentrar em beijar aquela mulher, os pensamentos sobre o que havia acontecido com Martina me atormentavam profundamente. Um remorso avassalador tomou conta de mim, e percebi de repente que não queria mais estar ali com aquelas pessoas. Não queria mais esse vazio e superficialidade. No fundo, sabia que não era assim que eu queria me sentir completo.
Os tempos haviam mudado, e as sensações já não eram as mesmas. A imagem do rosto envergonhado e dos olhos marejados de Martina não saíam da minha mente. Interrompi os beijos abruptamente e pedi que todos fossem embora.
Precisava me desculpar por permitir que Martina fosse humilhada daquela forma. Ela não merecia aquilo; eu sabia que ela era uma pessoa gentil e sensível, incapaz de machucar alguém.
Depois de uma desculpa esfarrapada e todos irem embora, desci até a ala dos empregados e pude ouvir os soluços de Martina enquanto caminhava pelo corredor. Andei devagar até parar em frente à porta entreaberta e observando-a pela fresta, não tive coragem de bater.
Martina estava sentada na beirada da cama prendendo o cabelo que as lágrimas haviam grudado em seu rosto. Meus olhos se fixaram em seu pescoço fino e delicado. Olhando mais atentamente, percebi que ela era uma jovem bonita, e foi injusto o que aconteceu hoje.

Martina pegou o celular antiquado que ganhara de Carmen e com o choro agora mais leve, começou a contar o que havia acontecido. Cada palavra que saía de sua boca penetrou em meus ouvidos como farpas, apertando meu peito e fazendo-me sentir um completo fracasso, um homem desprezível.

<<<INÍCIO DA LIGAÇÃO>>>
MARTINA: Madrinha?? Está aí?
CARMEN: Si mi amor.
MARTINA: Então eu posso ir embora? A senhora vem me buscar?
CARMEN: Só posso ir na próxima semana minha bela, eu tenho afazeres importantes com sua mãe.
MARTINA: Tudo bem madrinha, eu me sinto tão só e depois do que houve hoje, não quero mais ficar aqui.
CARMEN: Vou falar com Olívia e Matt, eles vão te acolher por esses dias. Deixe com Daryl eu me entendo, não posso acreditar que depois de tudo que conversamos ele recebeu pessoas aí, estamos correndo perigo.
MARTINA: Tudo bem, eu vou ligar.

Enquanto eu ouvia suas palavras através da porta entreaberta, uma mistura de culpa e compaixão me invadiu. Eu me senti um verdadeiro canalha por tê-la tratado daquela forma. Martina não merecia aquilo.
Decidi que precisava enfrentar a situação. Respirei fundo e, finalmente, invadi o quarto tomando o telefone das mãos dela.

DARYL: Oi Carmen!
CARMEN: Filho?? O que está acontecendo? Você prometeu que não ia nos colocar em risco
DARYL: Eu não fiz nada, foi tudo uma brincadeira tonta e egoísta de meus amigos, mas já está tudo bem. Martina vai ficar e já está tudo bem ok? Ninguém vai contar sobre mim, eu já cuidei disso.
CARMEN: Daryl se você maltratar essa garota eu juro que...
DARYL: Dou minha palavra Carmen!
CARMEN: Tudo bem! Mas de qualquer maneira eu vou para aí semana que vem, até porque Liza quer falar comigo.
DARYL: Ok, faça como quiser.
<<<<FIM DA LIGAÇÃO>>>>

Martina me olhava incrédula diante da minha impulsividade e loucura.
-Por que você fez isso, Daryl? - Ela perguntou com a voz embargada.
-Porque fui um idiota ao permitir que as pessoas rissem de você. Quando cheguei aqui, passei pelo mesmo. As pessoas zombavam de mim e do Matt por sermos garotos simples, como você. Eu jurei que nunca permitiria que isso acontecesse com outra pessoa, e me sinto um lixo por ter permitido isso com você. Por favor, aceite minhas sinceras desculpas.

POV MARTINA.
Aquelas palavras de Daryl Ortega tocaram meu coração de uma maneira profunda. Meu amor por ele acabara de se tornar a maior coisa que já senti na vida.
Troquei algumas mensagens com minha madrinha e com Olívia. Não seria má ideia ter outra mulher por perto, afinal, as pessoas falavam tão bem dela. Agora, depois de tudo revelado, eu teria que buscar as gêmeas para visitar o pai uma vez por semana.
Apesar do estresse, acabei tendo uma boa noite de sono e acordei no meu horário habitual para colocar o café de Daryl na mesa.
Ao abrir a porta do quarto, fui envolvida pelo delicioso aroma de café. Segui aquele perfume que me elevava e ao descer as escadas, deparei-me com uma mesa de café da manhã perfeita, com tudo que se pode desejar.
Daryl apareceu distraído da cozinha, e eu o vi como um verdadeiro anjo: cabelos molhados, cheiro de pós-barba que eu tanto adorava, e um sorriso genuíno que nunca tinha visto antes. Sorri timidamente e arqueei as sobrancelhas, tentando assimilar aquela cena.
Ele puxou a cadeira para mim e estendeu a mão em um gesto extremamente gentil.
-Eu realmente quero me redimir com você, Martina, e por isso preparei esta surpresa. Aceita minhas desculpas?

Meu amor no seu MundoOnde histórias criam vida. Descubra agora