Capítulo 8 (Final)

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(3 meses depois)
POV DARYL
O mar estava um pouco agitado naquele dia e eu me encontrava na parte da praia que mais apreciava, observando as ondas quebrarem na costa. O som relaxante das ondas se misturava com a brisa fresca, trazendo um alívio bem-vindo após um dia cansativo no hotel entre pagamentos e reuniões intermináveis. A sensação de tranquilidade era ainda mais intensa por estar ali com minhas filhas, que estavam passando a semana comigo durante as férias escolares.
De repente, as vozes animadas de Elena e Tatia quebraram o silêncio.
— Papai! Papai! — gritaram em coro, correndo em minha direção. — Olha nossas conchinhas!
Eu olhei para elas com um sorriso caloroso.
— Que lindas princesas! Só não são mais lindas do que vocês duas, não... não... vocês três.
Elena, com um brilho de orgulho nos olhos respondeu:
— Martina que nos ensinou a achar as conchas mais lindas!
— É verdade! — Concordou Tatia, acenando com a cabeça. — Vamos pedir para ela ensinar a pegar peixinhos também?
Elena gritou empolgada:
— Vamos!
As gêmeas correram em direção a Martina, que as recebeu com um abraço cheio de carinho, seu sorriso iluminava o ambiente enquanto ela acenava e me mandava um beijo antes de desaparecer atrás das pedras com as meninas, em busca de novas aventuras. Às vezes, parecia que havia três crianças na praia, o jeito moleca de Martina trazia um frescor único aos meus dias.
Eu sorria em silêncio, refletindo sobre o quanto minha vida havia mudado para melhor. Estava feliz com meus negócios, com a Martina ao meu lado, e com minhas filhas. No entanto, uma sombra de infelicidade ainda pairava sobre mim e de vez em quando, me sentia frustrado com esse resquício de insatisfação.
Foi então que minha reflexão foi interrompida pela voz familiar que me fazia lembrar do motivo desse desconforto.
— Oi, filho!
— Olá Carmen — respondi, enquanto me virava para encarar minha mãe.
Eu observei atentamente o vento brincando com seus cabelos negros e ondulados. Carmen olhava para as ondas que eu havia contemplado pouco antes, sem me dirigir um olhar direto há algum tempo. Talvez a exaustão do desamor que eu havia demonstrado ao longo dos anos a tivesse feito se resignar a apenas ajudar e manter sua presença constante em minha vida. Eu sabia que não podia continuar vivendo assim e para alcançar a felicidade completa, precisava encontrar uma maneira de dizer que a perdoava. Aliás eu precisava que ela me perdoasse.
— Daryl, meu filho — Carmen começou, sua voz carregada de ternura, — estou prestes a embarcar para Nova Iorque. Olívia e Matt precisam da minha ajuda com o bebê, e devo ficar fora por um mês. Vim aqui para ver se você precisa de algo antes de partir.
Eu respirei fundo, sentindo um nó na garganta.
— Sim Carmen, eu preciso de algo.
Ela me olhou com curiosidade, sua expressão se suavizando.
— Então diga, filho. Se estiver ao meu alcance, farei o possível antes de sair, pois daqui a uma hora preciso ir para chegar cedo ao aeroporto.
Com o coração apertado, eu falei as palavras que vinham me atormentando.
— Eu preciso do seu perdão... e de um abraço... minha mãe.
— Oh, Daryl — disse ela suavemente, enquanto se aproximava de mim. — Meu coração sempre esteve aberto para você, mesmo quando você não conseguia ver isso.
Ela estendeu os braços, me envolveu em um abraço acolhedor e eu senti um peso enorme se dissipar. As emoções que há muito estavam guardadas começaram a se libertar.
— Sinto muito por tudo — Murmurei, envolvendo meus braços ao redor dela. — Eu sei que fui distante e ingrato. Mas hoje, eu vejo o quanto você tem feito por mim e pela nossa família.
— Eu sei que a vida foi difícil — Carmen respondeu com sua voz embargada. — E que você passou por muito. Mas estou aqui, e sempre estarei, não importa o que aconteça. Não é tarde para começar de novo, para nós.
— Me perdoe, mãe! — Eu disse de novo, segurando-a em um abraço apertado.
— As pessoas erram, meu menino — Ela respondeu com um tom suave, mas firme. — São imperfeitas. Eu errei, mas foi por amor a você e ao seu irmão. Entendi sua mágoa e resolvi respeitar seu tempo. Fazer com que o amor sobreviva depois do perdão é uma decisão de fé na vida. Por isso, obrigada por me perdoar, meu amor.
— Mãe — Eu falei, ainda a abraçando, — eu aprendi que, muitas vezes, além de perdoar os outros, é necessário também perdoar a si mesmo.
Ela se afastou, secou as lágrimas e me convidou para sentar ao lado dela no banco do quiosque logo atrás de nós.
— Daryl, eu estou tão feliz por você e seu irmão. Vocês estão se entendendo cada vez melhor. Matt está tão feliz. Eu sofri tanto com todas as brigas, que quase perdi minha fé. Eu amo tanto vocês dois a ponto de desejar que todas as dores que sentiam fossem transferidas para mim, para que vocês fossem poupados. As suas dores e as de Matt me trituram a alma.
Enquanto olhava Elena e Tatia correndo na areia com Martina, peguei as mãos de minha mãe e a olhei profundamente nos olhos.
— Mãe, eu entendo. Ver a felicidade delas e o alívio que você trouxe para mim só reforça o quanto o nosso amor é forte. Hoje eu entendo que apenas passamos a compreender a atitude de nossos pais, quando temos nossos próprios filhos. Hoje eu sei que você queria nos proteger, mas eu sofri tanto com a dor de não ter pai e mãe que fiquei cego de ódio quando soube a verdade. Eu sempre te amei como uma mãe sem saber da verdade, e eu não quero mais perder nem um segundo se quer sem esses momentos bons com você.
Demos mais um longo abraço e as meninas, ao perceberem a presença da avó, correram para ela, pulando e a abraçando com entusiasmo. A areia se espalhou pelo vestido de Carmen, e eu disse às meninas para não sujarem a avó.
— Deixa, filho — Carmen respondeu com um sorriso caloroso. — Esse abraço tão verdadeiro e carinhoso não tem preço. Eu posso me limpar rapidinho.
Ela deu uma rápida batida nas mãos e no vestido, despedindo-se com um beijo e um aceno antes de embarcar no táxi rumo ao aeroporto. Ruth apareceu logo depois para buscar as gêmeas para o banho, e eu observei Carmen se afastar com um sentimento misto de gratidão e saudade.
Martina se aproximou de mim devagar e ao perceber sua aproximação, a puxei para junto de mim, fazendo-a soltar um leve grito de surpresa.
— Você quer me dizer alguma coisa, boneca? — Perguntei com um sorriso.
— Vi você abraçando sua mãe — Ela respondeu, o orgulho evidente em sua voz. — Estou muito orgulhosa de você, meu amor.
— Ah, é mesmo? — Eu disse, tocando seus lábios com uma série de pequenos selinhos.
— Sim, eu tenho muito orgulho de você, Daryl Ortega! — Martina declarou, passando a mão pelos meus cabelos com aquele carinho que eu tanto adorava.
— Você sabe que é a primeira pessoa que me diz isso? — Perguntei, enquanto colocava uma mecha de seus cabelos atrás de sua orelha.
— Porque é verdade, meu amor. Eu tinha deixado de acreditar no amor, até que reencontrei você. Você me fez entender que posso ter um tipo de amor que eu não sabia que existia, me proporcionando coisas até então desconhecidas para mim. Sabe, eu me acostumei a aceitar pouco, a ter em minhas mãos apenas migalhas. Eu achava que deveria me sentir grata por qualquer pontinho de afeição que tivesse, sem saber que poderia ter mais, que havia alguém disposto a me acompanhar sem impor condições ou pedir algo em troca. Daryl, eu nunca imaginei ser amada dessa maneira, ou encontrar alguém que segurasse minha mão com tanta força e ternura, a ponto de eu não sentir medo de mais nada.
Nossos olhares se cruzaram, e o carinho que compartilhamos naquele momento foi palpável. No entanto, na parte mais deliciosa de nossa troca de carícias, Martina me interrompeu gentilmente, lembrando de seu compromisso diário.
— Preciso ir agora, Daryl — Ela disse com um tom suave, mas decidido. — Não posso me atrasar para a aula.

— Martina! Espere! Tem algo importante que eu quero te falar — Eu chamei, enquanto a via se afastar.
Ela sorriu para mim e franziu a testa, curiosa. Eu, por outro lado, estava empolgado com o que estava prestes a acontecer.
Retirei uma pequena caixa de meu bolso e a entreguei a Martina. Ela hesitou por um momento, mas aceitou a caixa com um sorriso. Com delicadeza, desfez o embrulho, revelando o conteúdo: uma pulseira de ouro adornada com pequenas conchas e brilhantes, feita especialmente para ela.
— Que linda, meu amor! Foi sua ideia? Sabe o quanto eu amo conchas — Ela exclamou, encantada.
— E você se lembra dessas? — Eu perguntei, enquanto prendia o fecho da pulseira e a ajeitava em seu pulso delicado.
Martina fechou os olhos por um instante, refletiu um pouco e, com a voz embargada pela emoção, disse:
— Sim, eu te dei isso na época do bangalô! Não acredito que você guardou, Daryl!
O olhar de surpresa e alegria em seu rosto fez meu coração acelerar. O momento era perfeito, e o gesto parecia selar um capítulo importante da nossa história, um símbolo do nosso amor e das memórias que compartilhamos.
— Guardei sim. Eu nunca consegui jogar fora. Hoje, entendo o motivo. Esse é o presente mais lindo para a pessoa mais linda da minha vida. Tudo faz sentido agora: Max, o acidente, se não fosse por tudo isso, eu nunca teria ficado no bangalô, e nunca teria deixado Carmen te levar para casa. Enfim, a vida conspirou a meu favor e me trouxe você, Martina. Era preciso que eu te amasse, como eu te amo, e aprendesse que o amor se constrói no dia a dia, com pequenos gestos, palavras, gentilezas e dedicação.
— Tudo conspirou a NOSSO favor. Eu te amei desde o dia em que coloquei meus olhos em você no bangalô. Na verdade, talvez eu te amasse desde a época do colégio — Ela finalizou com uma risada graciosa.
— Ah é? Que mentira! Você só tinha olhos para o Peter — Eu disse com um tom de ciúmes brincalhão.
Rimos juntos, e nos beijamos novamente. No entanto, eu interrompi o beijo, tirando outra pequena caixa do bolso. Ajoelhei-me na areia fina e, encarando os lindos olhos verdes e marejados de Martina, abri a caixa devagar. Dentro dela, repousava um pequeno e delicado anel de noivado.
Martina levou as mãos à boca, e as lágrimas começaram a rolar, tomadas pela emoção.
— Martina... Quer se casar comigo?
— Daryl! ... Eu... eu não posso acreditar! Claro que SIM! EU ACEITO!
Com essas palavras, as lágrimas de felicidade escorriam por seu rosto, enquanto ela estendia a mão para que eu colocasse o anel, e eu sabia que, a partir daquele instante, nossa vida juntos seria marcada por um amor ainda mais profundo e eterno.


(Um ano e meio após a união de Daryl e Martina)

POV DARYL
Diego dorme como um anjo em seu berço. Meu garotinho acaba de completar 6 meses, e eu estou completamente apaixonado por esse pequeno ser tão especial.
— Filho? — ouvi a voz de Carmen sussurrando na porta. — Como está meu netinho?
— Cada dia mais gordo! — Eu respondi, segurando o riso. — Esse garoto não tem fim, come e mama a toda hora.
— Igual a você quando era pequeno — Carmen riu, olhando para o garotão.
Depois de um breve olhar carinhoso para Diego, saímos do quarto abraçados.
— E a Martina? — Ela perguntou.
— Já deve estar chegando — eu disse, olhando no celular. — Saiu de casa chorando, com dó de deixar o Diego. Ela voltou ao curso hoje; daqui a alguns meses se forma como guia turística. Não vou deixar ela desistir. Venha, mãe. A empregada já foi embora, mas vou te servir um café. Estou de férias, e já não aguento mais ficar sem fazer nada. Sorte que as meninas chegam hoje!
Carmen sorriu e aceitou o convite, enquanto nos dirigíamos para a cozinha, ela pega seu celular da bolsa nervosa.

— Claro! Como pude esquecer? Vou ficar dois dias com meu outro neto, Miguel, para que Olívia e Matt possam ir até uma pousada aqui perto.
— Não se preocupe, eles acabaram de chegar — Eu disse, enquanto uma mensagem de Matt pingava no meu celular. Ouvi a voz do meu irmão pedindo para as crianças não correrem, e logo Olívia e Martina entraram conversando animadas. As pequenas mocinhas correram em minha direção, ansiosas para me abraçar.
— Oi, princesas! Que saudades! — Eu exclamei, pegando uma em cada braço com alguma dificuldade, já que elas estavam grandinhas. Elas me abraçaram com alegria, e eu percebi o olhar um pouco enciumado de Matt, que segurava Miguel no colo.
— Ei, Matt, não fique com ciúmes! Não tenho culpa de ser o preferido! — Eu disse, soltando uma gargalhada.
— Pare de ser idiota! Elas convivem muito mais comigo e não preferem você! — Matt respondeu com um sorriso, apesar do tom brincalhão.
— Nós amamos vocês dois! — Gritaram as meninas em coro, com sorrisos radiantes.
Nós rimos alto, e Diego acorda com o barulho. Martina corre para buscá-lo e o traz em seu colo, dirigindo-se em nossa direção com um sorriso radiante. Meu garoto é sempre tão sorridente que, ao vê-lo assim, sinto uma alegria que é difícil de descrever.
Nos reunimos ao redor de Diego, babando e admirando o pequeno. Eu me sinto orgulhoso de ver todos juntos, e me pergunto como eu poderia ter imaginado que seria tão feliz um dia, com essas coisas simples e preciosas.
Enquanto Elena e Tatia vão se trocar para entrar na piscina, e claro, Diego e Miguel também vão querer fazer parte da diversão neste dia insuportável de calor, eu tenho uma ideia para deixar as mulheres mais à vontade.
— Matt, hoje tem futebol no campo do Antonio. O que acha? — Eu pergunto, dando-lhe um cutucão. — Vamos? Como nos velhos tempos? Estou com saudade de tomar uma cerveja bem forte, daquelas que só ele sabe fazer.
Matt olhou para Olívia e para Miguel, aguardando que ela falasse algo.
— Pode ir, amor — Disse Olívia, com um sorriso. — Nós vamos conversar um pouco. Temos Carmen e Ruth para nos ajudar, e Liza e Enrico também estão a caminho. Estou ansiosa para ver a barriguinha dela; nossa princesinha Ana deve chegar logo.
— Falando em futebol, irmão — Matt brincou, — cuidado com essa segunda lua de mel. Daqui a pouco você vai montar um time inteiro para jogar no campo do Antônio.
Nós rimos juntos, e eu respondi:
— Só não esqueça que estamos empatados. E, aliás, você me deu uma grande ideia. Vou montar um time e ficar rico!
Matt fez uma careta engraçada e olhou para Olívia com um olhar desafiador.
— Ano que vem! — disse Carmen, com um tom enigmático.
— Vou ficar rico? — Matt perguntou, rindo.
— Não, ano que vem vejo bebês a caminho — respondeu Carmen, com um sorriso malicioso.
Contivemos o riso, e então nos olhamos com um pouco de seriedade.
— Você mesmo, meu filho — Disse Carmen, apontando para mim.
Balançando a cabeça, levei a brincadeira na esportiva, e fui até ela, a abraçando e quebrando o clima tenso.
— ÊÊ Dona Carmen, chega de filhos! Martina está se cuidando. Haja dinheiro para bancar tanta fralda, roupas e mamadeiras!
— Eu que o diga! — Concordou Matt.
Carmen sorriu, arqueando uma sobrancelha, um gesto típico dela quando se sentia contrariada. Mas eu a beijei carinhosamente e desfiz a carranca.
Bati no ombro de meu irmão, chamando-o:
— Bora lá? Vem pela garagem, quero te mostrar meu novo brinquedinho.
— Então, o que acha? — perguntei, puxando a capa para revelar o carro esportivo que eu havia comprado na semana passada.
Matt olhou para o carro com um brilho nos olhos e um sorriso de aprovação.
— Uau, Daryl, ele é incrível! — Exclamou, batendo nas laterais do carro com admiração. — Esse carro é um verdadeiro sonho!
— Pois é, meu irmão. — Eu disse, com um sorriso satisfeito. — Pensei que seria uma boa maneira de dar um toque especial aos nossos momentos juntos.
— E você estava certo! — Matt concordou. — Não vejo a hora de dar uma volta com ele. Mas, antes, vamos aproveitar o futebol. Estou ansioso para relembrar os velhos tempos e, claro, para ver quem joga melhor
Voltamos para a área onde todos estavam reunidos porque eu tinha esquecido as chaves. As meninas estavam animadas para começar a diversão na piscina. Carmen e Olívia conversavam, enquanto Ruth ajudava a preparar tudo para as crianças. Diego estava no Colo de Martina, babando e sorrindo para todos ao seu redor.
Carmen me deu um aceno e um sorriso caloroso, e eu voltei para a garagem com Matt seguindo ao meu lado. A Lamborghini Sian estava brilhando sob a luz, e eu me senti empolgado por compartilhar aquele momento com meu irmão, especialmente depois de tudo o que passamos.
A tarde prometia ser repleta de boas lembranças, entre risadas, futebol e uma volta de carro que nos levaria a um lugar onde a simplicidade e a felicidade se encontravam, como sempre deveria ser.



POV CARMEM.
Olho para Daryl e sinto um sorriso bobo surgir no meu rosto. Ah, Daryl, meu filho rebelde, encontrou o amor e a paz ao lado de um anjo chamado Martina. Eles estão ali, felizes, com Diego nos braços, e eu vejo Daryl beijar a testa da esposa e fazer graça para o bebê antes de se despedir dos dois. Aprendi com meu filho que a vida é feita de escolhas que semeiam dor ou amor, e estou imensamente feliz com a escolha que ele fez.
Olívia está brincando animadamente com as gêmeas, enquanto eu e Ruth estamos com Miguel. Matt se despede de Olívia com um beijo apaixonado e, pelo que pude ler em seus lábios, dizendo que a ama.
Meus filhos estão caminhando devagar para recuperar a amizade que tiveram na infância, e eu tenho certeza de que isso acontecerá em breve.

FIM

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