Capítulo 5

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POV MATT
Sento-me em um banco de madeira próximo à igreja, observando Elena e Tatia enquanto brincam. As lembranças da minha infância com meu irmão vêm à tona, especialmente quando vejo as duas disputando um pedaço de galho. Havia muitos galhos pelo chão, mas elas queriam exatamente o mesmo. Tatia, sempre mais mandona e difícil de lidar é a imagem perfeita de como Daryl costumava ser. Quando Elena decide ignorar Tatia, como eu costumava fazer com Daryl, Tatia, da mesma forma que meu irmão fazia comigo, tenta chamar a atenção da irmã. Elas logo voltam a brincar sem precisar da minha intervenção, um sorriso se forma no meu rosto ao ver minhas duas princesas se divertindo, e eu desejo do fundo do coração que elas sejam sempre amigas, assim como meu irmão e eu fomos um dia. Penso no filho que está a caminho e me perco nas memórias do passado.
--Iguaizinhas a nós quando éramos pequenos, não é? – Ouço meu irmão gêmeo logo atrás de mim.
Levanto assustado e surpreso com a sua presença, me posiciono ao seu lado continuando a observar as meninas brincarem e não desgrudamos o olhar delas. Uma avalanche emocional toma conta de mim, ainda não tive a chance de abraçar meu irmão, e eu queria dizer o quanto estou feliz por ele estar vivo, mas a insegurança, o medo de perder minha família e todo o egoísmo dele me bloqueiam. Continuo de braços cruzados, fixando o olhar nas meninas, enquanto tento encontrar uma resposta.
--Não sei o que dizer, Daryl. Eu sinto uma vontade imensa de te abraçar e agradecer a Deus por você estar vivo, mas ao mesmo tempo, sinto raiva. Raiva por você ser tão egoísta, por ter roubado Olívia de mim e se casado com ela, mesmo sabendo o quanto eu a amo. Sinto raiva pela forma como trata Carmen, mesmo sabendo que ela escondeu ser nossa mãe para nos proteger e nos dar uma condição melhor. – Daryl se vira e me encara, e eu faço o mesmo, vendo meu próprio reflexo como se estivesse de frente para um espelho. – Mas, ao mesmo tempo, eu... eu nunca deixei de te amar, Daryl, abri mão do amor da minha vida para ver você feliz, meu irmão, e mesmo assim, você não pensou nisso quando voltou. Você voltou decidido a acabar com meu casamento, não é?
-Sim! Acertou! Eu sabia que não iria ficar com ela, e que Olívia te ama como nunca vi alguém amar outra pessoana vida. – Daryl fala sem pausar.
-Se você acha que eu vou desistir da minha família, está muito enganado, irmão, e... – Daryl me interrompe.
-Posso terminar de falar? E fale baixo para minhas filhas não ouvirem seus berros.
-Nossas filhas! – Eu sussurro.
-Sim, nossas filhas. Escuta, Matt... na verdade, esse casamento é um pretexto para eu criar coragem e falar com você. Sei que você não vai me perdoar e que não vamos voltar a ser amigos como antes. Sei que talvez nunca mais tenhamos uma relação de irmãos, mas agora, com minhas... "nossas" filhas, eu penso diferente. Quando vi o rostinho de Elena e percebi o quanto você sofreu com a minha "morte" – Daryl faz um gesto com os dedos. – Eu percebi o quanto sou egoísta, uma criança dessa idade me ensinou que as coisas nem sempre são como queremos. Eu chamo de minha filha porque, desculpe, Matt, mas eu não consigo ver Elena como uma sobrinha, assim como aposto que você não consegue ver Tatia como algo diferente de sua filha, certo?
--Sim, nisso você tem razão. Mas e quanto aos seus sentimentos pela minha esposa? Como posso tentar conviver com você sabendo que sempre estará ao redor dela? Não consigo confiar em você, Daryl! Eu queria, mas simplesmente não consigo.
Dou as costas para ele e sigo em direção às gêmeas. Daryl vem atrás de mim, colocando a mão no meu ombro.
--Espere, meu irmão, por favor. É a última vez que peço que me escute, preciso terminar de falar.

POV DARYL
--Eu não a amo mais. – Declaro com convicção.
Matt vira a cabeça e me encara com um olhar intrigado. Ele franze a testa, reprime os lábios e solta um suspiro, demonstrando claramente sua descrença.
--Daryl, sinceramente? Com esse papinho? Ou você acha que eu vou acreditar que você simplesmente deixa de amar alguém da noite para o dia?
Eu sei que preciso ser convincente e mostrar a verdade a Matt, e quem melhor do que meu próprio irmão para começar?
--Matt, me escuta, e depois, se quiser pode me ignorar.
Ele sinaliza com a cabeça, indicando que eu continue.
-- Eu entendo que pode parecer difícil de acreditar, mas é a verdade. Olívia e eu tivemos momentos maravilhosos, mas depois de tudo que aconteceu, o amor que eu sentia por ela simplesmente mudou. Não foi algo planejado, e pode ter sido da noite para o dia, mas é assim que as coisas aconteceram. – Faço uma pausa, como se procurasse as palavras certas. – A verdade é que, ao ver Elena e Tatia, eu percebi o quanto fui egoísta, não quero mais causar dor a você ou à sua família, eu sei que não posso mudar o passado, mas estou tentando entender e aceitar o que realmente importa agora.
Matt me encara em silêncio, com o olhar ainda cético, mas há um visível esforço em sua expressão para absorver o que estou dizendo. Ele respira fundo, talvez tentando reconciliar as palavras com seus próprios sentimentos.
--Eu estou tentando, Matt. Não estou aqui para roubar nada de você, nem para ser uma fonte de problema, eu só quero encontrar um caminho para lidar com tudo isso, sem que minha presença seja uma constante fonte de dor para você.
A tensão no ar é palpável, eu sinto o peso das palavras e a responsabilidade que vem com elas, sabendo que a confiança, uma vez quebrada, é difícil de reconstruir. Eu espero
que, ao menos, minha sinceridade possa abrir uma porta para alguma forma de entendimento.
Matt continua em silêncio e eu continuo a falar com ele.
--Quando ainda estava em Porto Rico, descobri que vocês estavam casados e que você estava cuidando das minhas filhas, a minha vontade foi de te matar, aliás, de matar vocês dois, pegar as gêmeas e sumir no mundo. Um ódio tão grande tomou conta de mim que eu não conseguia pensar em mais nada. A única pessoa que conseguia me fazer sentir um pouco melhor era Martina, e eu sentia raiva até por isso, queria maltratá-la, e fiz várias vezes, porque não queria parecer fraco diante de tudo. Como eu já te falei, minha intenção era destruir o casamento de vocês, mesmo que Olívia não ficasse comigo. Então, Carmen... nossa mãe trouxe Martina para cá e... isso não vem ao caso.
--Vai me dizer agora que gosta da Martina?
Matt pergunta com sarcasmo, exatamente como eu costumava fazer com ele, sabendo que sempre me envolvi com mulheres de capa de revista.
--Sabe, Matt, às vezes gostamos tanto de um perfume que, quando ele acaba, continuamos guardando o frasco com aquele restinho lá no fundo, só para sentir o aroma familiar, mas um dia, somos presenteados com um perfume novo, de uma fragrância acolhedora. Aos poucos, percebemos que é hora de desapegar do antigo e valorizar o novo, entender que o tempo do perfume antigo acabou e que devemos apreciar o novo aroma, por mais que a embalagem não seja tão atraente. O perfume, no entanto, pode ser encantador.
Matt me analisa com uma surpresa visível, arqueia uma sobrancelha, ainda curioso, mas permanece em silêncio, sem conseguir encontrar palavras.
--Olha, irmão... Nunca pensei que diria algo assim, porque isso parece mais com você do que comigo. No começo, me aproximei de Olívia para te provocar, mas acabei me apaixonando por ela, e por um bom tempo. Mas quando você voltou, acho que era mais uma questão de orgulho, não gosto de perder nada e sempre quero ser melhor em tudo, mas o amor não é assim, Matt. O amor não é egoísta, ele faz com que você deseje a felicidade da pessoa, independente da sua. Eu queria Olívia ao meu lado, não importava se ela estava feliz ou não, eu queria estar com ela como seu homem e hoje eu vejo que isso não é amor, entende? Hoje eu entendo que o amor é destinado para as pessoas fortes, não para os fracos como eu era, eu pensava que era forte, e não, eu não era. Aprendi que cair dói, que falhar sangra, que recomeçar exige muito empenho e que repensar toda uma vida e mudar não é fácil. – Olho para minhas filhas brincando e um sorriso surge em meu rosto. – Hoje, sim, hoje eu sei que sou forte e a cada dia me torno mais forte. Descobri que fui modificado Matt, aos poucos, fui moldado pelas novas paisagens, pelos novos encontros e pelo novo momento. Sabe, irmão, devagar, bem devagar, deixei minhas antigas manias para trás e assumi um Daryl mais autêntico, muito mais coerente com meu coração e descobri que aquilo que queremos de verdade tem a capacidade de nos transformar.
Matt continua com o olhar baixo, fixo em seus pés e eu começo a me perguntar se ele realmente está me ouvindo. Mas, mesmo assim, decido prosseguir, pois expressar tudo isso me traz um alívio imenso.
--Matt... Percebi que tudo mudou. O que antes me afetava tanto, agora já não tem o mesmo impacto. Quando revejo as fotografias das gêmeas com Olívia, a lembrança não é mais dolorosa. Eu aprecio muito mais a realidade que vivo hoje do que as coisas que deixei para trás. Sabe, irmão, você percebe que está transformado quando a dor associada a uma pessoa já não causa mágoa. Aceitei meus novos passos, reconheço as alegrias que tive, mas não tenho mais desejo de voltar. Não tenho mais vontade de viver aquela vida falsa, esgotada e carregada de memórias desbotadas. Quero ser feliz, com ou sem alguém.
Matt já não tem mais aquela carranca e desconfiança estampadas no rosto. Ele levanta a cabeça devagar e me olha com os olhos marejados e eu fico aliviado, tão aliviado, que ao encará-lo, as palavras restantes escapam de mim sem controle.
--Não posso imaginar que aquilo que dividimos há tanto tempo me traga o mesmo apaziguamento que nossas memórias. Eu ainda me vejo lá, na memória dos velhos pijamas de dormir e da voz suave da vovó contando histórias para explicar a vida e justificar o amor, sempre achei isso uma besteira, mas hoje consigo ver o quanto você é importante para mim e não posso voltar a morar em Porto Rico sem antes dizer... Me perdoa, irmão.
Matt sorri, um sorriso leve e cheio de sinceridade como ele sempre foi, e como eu sempre deveria ter sido. Eu peço um abraço e Matt consente com um gesto de cabeça. A emoção toma conta de mim, e percebo que agora me sinto bem, como sempre quis, em paz comigo mesmo.
Elena e Tátia percebem a minha presença e correm em nossa direção. Tátia pula no meu colo rapidamente, cobrindo-me de beijos.
-Papaizinho, que saudade! – Ela exclama.
-Eu também, meu docinho! – Respondo, em um abraço apertado.
-Papai, assim você me esmaga! – ela ri, tentando se soltar.
-Elena encara Matt e começa a rir, enchendo-o de beijos.
-Você também teve saudades de mim, papai? – pergunta Elena para Matt, com um sorriso radiante.
-Claro, princesa! Eu sempre tenho saudade de vocês! – Matt diz, enchendo-a de cócegas.

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