Capítulo 2

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Há alguns anos atrás.

FLASH BACK
POV MARTINA.

Minha mãe sempre foi uma mulher extremamente simples, não se preocupava em usar maquiagem ou se arrumar. O único modelo de beleza e elegância que eu conhecia era minha madrinha Carmen, mas ela estava sempre enfrentando problemas e viajando, o que me impedia de receber muitos conselhos sobre essas questões femininas.
Eu odiava meu cabelo, odiava como ele caía sobre meus ombros, como ficava frisado à noite e como se arrepiava todo quando eu o cortava. Odeio como ele está agora, odeio o fato de que não fico bonita de coque como as garotas das revistas que minha madrinha manda para mim.
Todos os dias, eu ouvia as garotas da escola rindo quando me sentava no banco para lanchar. Podia ouvir claramente: "Olha o cabelo dela", "Olha as roupas de trapos", seguidos por mais risos.
Maldita hora que minha madrinha conseguiu essa bolsa nesse colégio de gente rica. Ela tinha mania de fazer tudo por mim e pelos meninos Ortega. Era bom por todos os lados, menos pelo ensino médio, em que eu tinha que enfrentar meus maiores demônios todos os dias ao pisar nesse inferno de colégio.
Se fosse só pelas pessoas ali, eu não ligaria tanto. Mas Maya, minha ex-melhor amiga, se é que um dia foi, também caçoava de mim às escondidas. Eu costumava contar tudo para ela, sobre meus medos, meus sentimentos por Peter e sobre tudo. Maya sabia o quanto eu odiava meu cabelo, sabia os mínimos detalhes sobre mim, o quanto eu sempre me senti feia e inferior, o quanto eu queria ser como ela e ter dinheiro para comprar roupas, maquiagens e arrumar meu cabelo. Mas eu venho de uma origem humilde e não tenho condições para tais coisas supérfluas, e mesmo se tivesse não saberia por onde começar.
O fato de que Maya, alguém que um dia foi meu porto seguro, agora se unia aos outros para me humilhar, tornava tudo ainda mais insuportável. Ela conhecia meus segredos, minhas inseguranças mais profundas, e usava isso contra mim. Cada risada dela era como uma facada, lembrando-me do quão longe eu estava de ser como as outras meninas.

Meu padrinho Alejandro disse que eu tenho que parar de ligar para isso, mas é mais fácil falar do que fazer, já que não é ele que convive com essa situação todos os dias na escola. Então percebo que já estou chorando e só tenho que esperar que meus soluços não estejam tão altos para não passar mais vergonha ainda. Dou mais uma mordida na maçã e, em seguida, limpo minha boca na manga do meu casaco de lã.
-Martina? – Uma voz masculina me chama.
Levanto os olhos para encará-lo e vejo Daryl Ortega o garoto do terceiro ano, o único que ainda fala comigo às vezes desde a partida de Matt, mas apenas quando precisa de algo.
– O que houve com você, garota?
- Estou apenas comendo.
Se o destino fez o seu trabalho comigo, acho que senti algumas lágrimas escorrerem pelas minhas bochechas. É evidente que ele não acredita em mim, e os risos da mesa ao lado aumentam quando ele se senta ao meu lado.
-Foram eles?
Eu suspiro, tentando manter a compostura.
– Não importa, Daryl. Não quero falar sobre isso.
Ele franze a testa, claramente insatisfeito com minha resposta evasiva, mas decide não insistir. Em vez disso, ele muda de assunto, tentando me distrair.
-Oi Martina, minha avó pediu para eu entregar este bilhete para você dar a Carmen, parece que Alejandro não está bem.
-Nossa! O que aconteceu com ele? – Pergunto, surpresa.
-Não temos certeza, por favor, entregue o bilhete.
-Claro, Daryl, eu farei isso.
-Ah, Martina, mais uma coisa... Esta noite estou partindo, vou morar em Nova Iorque, meu irmão Matt já está me esperando lá. – Ele diz, tentando mudar de assunto.
-Ah... Legal – Respondo, sem muito entusiasmo.

Ele lança um sorriso amarelo, e me dá as costas caminhando em direção aos amigos que claro não perderam a oportunidade de tirar sarro dele, por ter falado comigo. De longe eu ainda percebo as risadas e comentários maldosos. Principalmente de Peter... Eu sempre gostei desse garoto, mas ele nunca teve olhos para mim a não ser quando.... Bem, quando tirou minha virgindade me iludindo da pior forma que poderia existir.
O som irritante ressoa pelos corredores, sinalizando o fim do dia na escola. Quando eu estava prestes a sair pelo portão, Maya se aproxima de mim com um tom de voz peculiar.
-Ei, Martina?
Eu me viro, ajeito uma mecha de cabelo atrás da orelha e olho para ela com um misto de alegria.
-Quero te pedir desculpas pelo que aconteceu mais cedo. Já expliquei para as meninas e elas concordaram em sermos suas amigas.
-Sério, Maya? Que ótimo! Sinto muito a sua falta! - Tento abraçá-la, mas ela me afasta.
Maya me convidou para uma festinha hoje à noite, entregando-me um papel com o endereço.
-Mas eu não tenho roupa apropriada!
-Não se preocupe, é algo simples, nem vou me arrumar. Vista qualquer coisa.
Antes que eu possa agradecer pelo convite, ela se vira e começa a cochichar com as amigas. Dou de ombros e saio animada ao pensar que finalmente terei amigas e não serei mais motivo de piadas.
Ao chegar na festa, vejo várias pessoas da escola bebendo e dançando alegremente. Hesito, sentindo algo ruim no ar e dou um passo para trás, pensando em ir embora. Mais uma vez, sinto-me um peixe fora d'água.
Antes de partir, avisto Maya dançando e puxando Peter pela gola da camiseta, quase o beijando. Quando me vê, ela o larga rapidamente e vem até mim. Estranhamente, as pessoas me cumprimentam pelo caminho, mesmo aquelas que antes caçoavam de mim e apesar de não estar nem perto da beleza das outras garotas ali, todos são gentis comigo de uma forma estranha.
-Martina, podemos conversar? – diz Maya.
-Claro que sim.
Ela me leva para o jardim da casa e pede que eu fique logo abaixo de uma árvore.
-O que foi? – pergunto.
-Martina, você ainda gosta de peixe? – pergunta ela.
-Como assim? – respondo, confusa.
Senti o peso dos baldes cheios de peixe podre caindo sobre mim, o cheiro repugnante misturado com o calor abrasador do constrangimento. As vísceras escorriam pela minha face, obscurecendo minha visão e tornando tudo ao meu redor um borrão nojento e caótico. Enquanto tentava limpar a sujeira de maneira quase automática, as risadas cruéis de alguns dos presentes ecoavam em meus ouvidos como um coro sinistro.
Maya estava ali, seu rosto um misto de desdém e satisfação. A voz dela cortava o ar com uma crueldade calculada.
-Isso é para te mostrar que Peter jamais vai ficar com um lixo de garota como você!
Ela gritava, seus olhos brilhando com uma malícia que eu nunca tinha visto antes.
-Além de feia, agora você fede, garota! Eu nunca fui sua amiga, Martina. Só me aproximei de você porque Peter é amigo de Daryl e vocês moram na mesma rua. Era uma oportunidade de me aproximar, mas agora eu já tenho o que eu quero.
Aquelas palavras se transformaram em facas afiadas, cada uma cortando mais fundo do que a anterior. Eu olhei para Peter, que estava ao lado dela, seu semblante era sério, e senti a amarga verdade se instalar. Algumas pessoas ao redor me observavam com um misto de pena e medo, claramente cientes da popularidade de Maya e sua família, mas nenhuma delas ousava intervir.
Senti uma onda de desespero me engolfar. O mundo parecia ter se tornado um lugar insuportável de crueldade e indiferença. Com lágrimas escorrendo pela face e o coração pesado, não tive outra reação a não ser correr para longe dali. Meus pés descalços encontraram a areia fria da praia e em um estado de completa desesperança, comecei a me despir da roupa imunda, deixando as sandálias para trás.
A água do mar me chamou como um alívio, uma fuga do tormento que eu sentia. Deixei que as ondas me envolvessem, determinada a me entregar às águas e desaparecer para sempre.
Mas enquanto a água gelada me envolvia, algo dentro de mim resistiu. Uma pequena centelha de esperança começou a brilhar através da escuridão da minha tristeza. Parei e respirei fundo, olhando para o horizonte. A água estava fria e revigorante, e, à medida que o sal das ondas se misturava com minhas lágrimas, algo se tornou claro. Talvez houvesse uma maneira de enfrentar a dor, uma maneira de seguir em frente, mesmo que o caminho fosse incrivelmente difícil, eu só preciso descobrir como.
Decidi sair do mar e a água fria havia lavado não apenas a sujeira, mas também um pouco da minha dor. Eu sabia que a vida seria uma luta, mas era uma luta que eu não estava disposta a enfrentar e de uma coisa eu tinha certeza... Eu nunca sairia da vila e nunca mais voltaria a aquele colégio.
FIM DO FLASH BACK


TEMPOS ATUAIS
POV OLÍVIA
Acabava de ajeitar o almoço quando Carmen chegou, acompanhada de sua afilhada, Martina. Já sabia pela agitação das meninas que a presença dela era esperada com muita euforia.
— Olívia, minha querida, essa é Martina, te falei lembra? Ela está ajudando o Daryl por um tempo e é praticamente uma filha para mim — disse Carmen, com um sorriso que refletia o carinho que tinha pela afilhada.
As gêmeas, já conheciam Martina e pareciam confortáveis e animadas com sua presença. Observando de perto, percebi que Martina era uma jovem de beleza singular, embora um pouco tímida. Seu charme estava um pouco escondido sob roupas simples e um tanto desgastadas.
Permaneci ali, observando Martina brincar com minhas filhas na cerâmica encerada da cozinha. Seus traços, apesar da simplicidade, revelavam uma beleza extraordinária que parecia brilhar através da modéstia de sua aparência. Ela se movia com uma graça natural, e eu não pude deixar de me impressionar com o contraste entre sua beleza e as roupas humildes que usava.
Certa vez, Carmen me contou que havia tentado ajudar Martina a mudar seu estilo e aparência várias vezes, mas que os esforços haviam sido em vão. Não que essas mudanças fossem estritamente necessárias pois cada uma deve se sentir feliz da maneira que achar melhor, mas Carmen acreditava que poderia ajudar Martina a sentir-se melhor consigo mesma porque era evidente que ela não estava feliz e algo a incomodava profundamente.
Eu havia notado uma tristeza e uma dor em seu olhar distante, uma expressão que parecia contar uma história de angústia e desconforto que ela não compartilhava com ninguém. Sua aparência modesta e a maneira como se fechava para o mundo eram apenas reflexos de uma dor mais profunda, algo que Carmen com toda sua dedicação, ainda não conseguira aliviar.

Logo Liza e Enrico chegaram e nos acomodamos à mesa para o almoço. A conversa fluiu descontraída, com muitas risadas geradas pelas piadas de Matt.
No meio do almoço, Liza retirou uma sacolinha dourada de seu lado e com um sorriso, tirou de dentro alguns convites. Eles eram lindos e de muito bom gosto, como tudo que minha amiga escolhe com tanto carinho.
Ela entregou os convites a mim e a Matt, confirmando que Elena e Tatia seriam daminhas de honra, enquanto nós, junto com Lydia e Gabriel, seríamos padrinhos.
Liza então entregou três convites a Carmen, que os recebeu com um sorriso gentil, mas não pôde deixar de olhar para Liza com uma expressão de dúvida.
— Por que três convites, minha bela? — Carmen perguntou.
Liza sorriu um pouco sem graça e olhou para Matt, que estava brincando com as filhas.
— É que... um é para Daryl. Afinal, ele e Enrico são muito amigos.
Por um instante, o olhar de Matt desviou para o lado e mesmo que breve, eu percebi a tristeza em seu semblante ao ouvir o nome de Daryl e a culpa que eu sentia por dentro parecia crescer a cada momento.
-Eu não sei se é uma boa ideia Daryl aparecer em público. – Carmen diz com preocupação.
-Já pensei nisso. – Diz Liza empolgada. – Daryl e Matt podem ir com o terno da mesma cor e evitar ficar muito perto um do outro. Assim não terá erro!
Matt encara Liza com seriedade, mas não se opõe, ele simplesmente se levanta e chama Enrico para ver algumas fotos do seu novo projeto.
— Martina? É esse seu nome correto? — Liza perguntou, estendendo um convite para a tímida moça. — Este é para você.
Martina ficou um pouco sem graça, mas ao mesmo tempo surpreendida e encantada com o convite. Seu olhar refletia uma mistura de gratidão e uma leve emoção, revelando o impacto que aquele gesto gentil teve sobre ela.
— Para mim? — Martina perguntou, os olhos arregalados de surpresa.
Carmen se virou para ela, com um sorriso esperançoso no rosto, visivelmente animada com a possibilidade de ver sua afilhada se socializando e, quem sabe, encontrando um pouco de felicidade.
— Sim, meu amor, é para você — confirmou Liza com um tom carinhoso.
— Madrinha... — Martina hesitou, olhando para Liza. — Obrigada pelo convite, mas eu... Eu não, melhor não ir. Mas obrigada mesmo assim, Liza.
O silêncio se instalou entre nós, olhei para as expressões de perplexidade e preocupação ao meu redor. O que teria acontecido com essa jovem para ter um olhar tão triste e um medo palpável de estar entre as pessoas?
— Tudo bem, querida, mas espero que mude de ideia — disse Liza, quebrando o gelo com um sorriso encorajador.
Enquanto eu começava a limpar a mesa, meus amigos continuavam a conversar distraídos na sala. Matt veio até a cozinha, trazendo os pratos sujos e os colocando na pia. Em seguida, ele me abraçou, acariciando meu ventre com carinho.
— Estava tudo uma delícia, princesa. Obrigado — disse ele, enquanto me enchia de beijos e carinhos no cabelo.
Encerramos o momento com vários selinhos, um gesto de afeto que sempre amávamos.
Antes que ele voltasse para a sala, eu o puxei pela camiseta, com uma expressão preocupada.
— Matt... Essa menina, a Martina? Quantos anos ela tem?
Ele coçou a cabeça, franzindo a testa enquanto olhava para cima, em um gesto pensativo.
— Acho que ela é uns  quatro anos mais nova do que eu, lembro que quando eu a daryl estávamos no terceiro ano do colegial, ela estava no primeiro, mas nós dois repetimos dois anos por conta do trabalho, então eu acho que é isso. — respondeu ele.
— Humm, Carmen comentou comigo que ela é uma moça um pouco traumatizada — mencionei.
— Sim, sim... — Matt começou a me contar rapidamente sobre a situação de Martina, e eu fiquei horrorizada ao ouvir. A crueldade das pessoas parecia inimaginável, e o fato de Peter se fazer de bonzinho quando visitava a casa de Daryl me deixou ainda mais indignada. Um nó se formou em minha garganta e a vontade de chorar aumentou.
De repente, Martina entrou na cozinha com a última pilha de louças.
— Quer ajuda, Olívia? Acho que você deve estar cansada — ela ofereceu, enquanto colocava uma mecha de cabelo atrás da orelha.
— Imagina, Martina, não precisa não. Esta gravidez está sendo mais tranquila do que a das meninas — respondi, tentando ser gentil.
Ela se aproximou tímida, olhou para minha barriga e sorriu.
— Posso? — Perguntou, esticando a mão em direção à minha barriga.
— Claro que sim — eu disse sorrindo. — E você, Martina, pretende ter filhos algum dia?
Ela hesitou um pouco antes de responder.
— Eu não sei, não penso muito nisso.
— Mas aqui em Nova Iorque, não encontrou ninguém interessante? — perguntei, tentando iniciar uma conversa e estabelecer uma conexão.
Martina olhou para baixo, uma sombra de hesitação cruzando seu rosto.
— Não realmente. — Ela balançou a cabeça lentamente, como se estivesse refletindo sobre algo que não havia considerado muito antes. — Eu tenho me concentrado em ajudar Daryl e seguir em frente. Não tenho pensado muito em outras coisas.
Seu tom era melancólico, e eu percebi que a dor que ela carregava a impedia de se abrir para novas experiências.
— Entendo — disse eu, tentando ser compreensiva. — Às vezes, é difícil pensar no futuro quando o passado é um pouco pesado.
Ela deu um pequeno sorriso, um gesto de gratidão pela compreensão.
— É, às vezes é difícil mesmo — concordou. — Mas estou tentando e ajudar aqui tem sido um bom começo.
Enquanto conversávamos, Matt terminou de limpar os pratos e se aproximou novamente. Ele me deu um olhar de encorajamento, como se quisesse que eu continuasse a oferecer apoio a Martina.
— Você tem feito um trabalho incrível, Martina — disse Matt com um sorriso. — Tenho certeza de que coisas boas vão acontecer com você. – Ele termina indo em direção a sala.
— Você precisa vir mais vezes me visitar, Martina! — eu disse, tentando transmitir o quanto apreciava sua companhia.
— Mesmo? Eu me sinto sozinha às vezes — ela respondeu, um toque de vulnerabilidade em sua voz.
— Infelizmente, eu não posso ir lá porque... bem, você deve saber de toda a minha história — falei, um pouco envergonhada.
Martina largou o pano que usava para secar os pratos e se aproximou de mim com uma delicadeza que eu começava a valorizar. O jeitinho meigo dela e a maneira carinhosa como falava com as pessoas começavam a me cativar.
— Sabe, Olívia, eu nunca vi um amor tão grande quanto o que Daryl sentia por você. Ele sofreu demais.
Sua observação me atingiu profundamente, respirei fundo e me sentei na pequena banqueta perto do balcão, sentindo o peso das palavras de Martina.
— Martina, é tão complicado... Matt é meu grande amor, mas eu não quero que Daryl sofra, eu queria que ele fosse feliz.
O silêncio se estendeu entre nós, carregado de uma tristeza compartilhada. Eu sabia que meu relacionamento com Matt era uma fonte de alegria para mim, mas também me preocupava profundamente com o sofrimento de Daryl. Era um conflito que eu carregava dentro de mim, e as palavras de Martina apenas intensificavam a complexidade dos meus sentimentos.
Martina abaixou a cabeça e eu imediatamente percebi algo que havia passado despercebido até então. Meu Deus! Aquela tristeza em seus olhos e a maneira como falava sobre Daryl revelavam um sentimento profundo por ele. Eu estava realmente surpresa ao perceber que ela estava tão apaixonada que não conseguia nem disfarçar.
— Martina? Você gosta do Daryl? — Perguntei, com um tom de descoberta em minha voz.
— Não! O que é isso, Olívia? — Ela se levantou rapidamente, o rosto corado de uma forma adorável.
Eu me aproximei pegando suas mãos nas minhas e Martina, que até então olhava para o chão, ergueu a cabeça e me encarou com seus belos olhos brilhantes, receosa. Deus! O olhar dela, tão puro e amoroso, era praticamente hipnotizante. A inocência dela me tocava de uma maneira tão profunda que eu sentia vontade de chorar em sua presença.
— Querida, não precisa negar para mim. Eu amo Matt, estamos juntos e prestes a completar nossa família. Pode confiar em mim, eu não sinto amor de mulher por Daryl, apenas um carinho fraternal. Afinal, temos uma filha, quer dizer, duas filhas juntas. Bom, é uma confusão, mas é isso!
Martina me olhou com uma mistura de alívio e confusão, como se estivesse tentando processar o que eu havia dito. Seu olhar ainda carregava uma tristeza, mas também uma nova faísca de esperança.
— Olívia, eu... — ela começou, mas as palavras pareciam se perder.
— Não precisa se explicar, Martina — eu disse, apertando suavemente suas mãos. — Apenas saiba que estou aqui para você. E, se precisar de alguém para conversar ou se precisar de uma amiga, pode contar comigo.
Martina sorriu e eu senti que ela estava começando a se abrir para mim, uma sensação de confiança se formando entre nós. Era como se ela estivesse finalmente encontrando alguém em quem pudesse confiar, e isso me tocou profundamente.
Nesse momento, Matt entrou na cozinha, interrompendo nossa conversa. Ele nos surpreendeu ao informar que Carmen estava pronta para ir embora, pois tomaria um voo para Porto Rico ainda hoje.
— Martina, minha mãe está te chamando para irem embora — disse ele.
A jovem secou uma lágrima, o que me causou ainda mais comoção. Agradeceu-me e saiu em direção à porta para encontrar Carmen.
— O que houve? — Matt me perguntou, curioso.
— Matt, Martina... Ela está apaixonada por Daryl!
— O quê? — Ele disse, tentando prender o riso.
Eu o fulminei com o olhar, dei-lhe um cutucão na costela e Matt imediatamente engoliu a tentativa de rir.
— Desculpa, princesa. Eu não estou rindo dela, e sim da situação. Imaginar Daryl com Martina... sei lá, não dá.

Saí da cozinha bufando, determinada a encontrar uma maneira de ajudar Martina. Eu acreditava firmemente que todo mundo pode mudar e estava decidida a fazer a diferença na vida dela. Liza seria a guia perfeita para isso e ainda tínhamos um tempo até o casamento para trabalhar nisso.
Nos despedimos de todos, e eu me aproximei de Carmen para um breve sussurro.
— Carmen, quando você voltar, encontrará uma nova afilhada — prometi com firmeza.
Carmen sorriu para mim com aquele olhar sereno, como se já soubesse das minhas intenções.
— Eu sei, Olívia. Eu já sei disso. Você com certeza é um anjo em nossas vidas. Tem uma luz que é capaz de conseguir o que mais ninguém consegue.
— Carmen, assim você me deixa sem graça. É que eu... Senti algo especial por ela. Quero ajudar. Ela é linda, e as pessoas são injustas. Até mesmo Matt foi... ainda pouco. — Completei, lançando um olhar fulminante na direção de Matt.
— Não foi de propósito, minha querida. Deixe isso para lá, não se indisponha com seu marido no seu estado. Todos ainda vão se surpreender muito, você vai ver.
Dou um sorrisinho meio de lado e concordo que Matt nunca faria isso de propósito. Depois de me despedir de todos, decido chamar Liza para ficar um pouco mais, pois preciso da ajuda dela. Afinal, ela é uma expert em lidar com essas situações.
Vou até o quarto do bebê com Lminha amiga para ajeitar algumas coisas enquanto Enrico e Matt saem para dar uma volta com Elena e Tatia.
— Liza, precisamos ajudar a Martina — digo, com um tom de determinação.
— Concordo, Olívia! Vai dar trabalho, mas será como lapidar uma joia! — Liza diz, dando pulinhos de animação. Ela realmente ama esse tipo de desafio. — Consigo uma horinha nessa fase final de preparativos, combinado?
— Sim! Combinado! — respondo, sorrindo satisfeita.
Enquanto arrumamos o quarto do bebê, sinto uma sensação de alívio e otimismo. Liza está empolgada e sua energia é contagiante. Estamos prestes a começar um trabalho importante e, com a ajuda dela, estou confiante de que podemos fazer a diferença na vida de Martina.

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