Na semana seguinte...
_ Toma _ Marcus colocou um volume de papeis a minha frente assim que adentrou o meu quarto.
_ Bom dia pra você também, ogro _ abri um sorriso _ o que são esses papéis?
_ Não sou nenhum ogro, Valery. Isso é todo o conteúdo do décimo primeiro ano pra você. Sua mãe disse que você vai precisar passar um mês em casa e estaria perdendo aula. Então, eu dividi as matérias por etapas e relevância pra você estudar. _ disse, como se não fosse nada.
_ Eu podia só repetir mesmo _ dei com os ombros, despreocupada.
_ Não comigo aqui. O que quer que seja que você iria fazer faça agora pois vamos passar a tarde toda estudando. _ avisou colocando a mochila surrada na minha cama e se sentando ao meu lado na escrivaninha.
_ Eu não consigo ficar nem trinta minutos estudando, quem dirá uma tarde inteira _ ri.
_ Para de reclamar _ ele revirou os olhos.
_ Vem cá, você não tinha que trabalhar?
_ Pedi férias. E nem comece com mais uma secção de perguntas que você sabe que eu não irei responder.
_ Chato.
_ Não mais que você.
_ Você tem que sorrir mais, brincar, rir, ser um adolescente de verdade! _ mexi no braço dele _ você malha? Viu, nenhum adolescente malha de verdade _ bati em sua mão inutilmente porque ele pareceu não sentir nenhuma dor.
_ Eu tenho dezenove anos, Valery. Olha a minha cara de quem quer rir. _ me encarou com a cara amarrada.
_ E porquê não está na faculdade ainda? Você repetiu de ano?
_ Entrei na escola tarde. E eu pedi pra parar com as perguntas.
_ Tenho a certeza que no fundo você gosta de receber atenção.
_ Não. Detesto. _ foi curto.
_ Seu ego deve inflar nem que seja um pouquinho quando você ouve as meninas falarem de você na escola.
_ Eu estou completamente nem aí com o que elas dizem.
_ Eu ouvi uma delas dizer que você tem caninos afiados. Posso ver?_ me lembrei do dia em que estava andando pelos corredores e ouvi uma delas dizer que ficaria louca se ele a mordesse com seus caninos.
É claro que a medida ele falava, dava pra perceber. Mas eu queria vê-lo sorrir.
_ Quando foi isso?
_ No início do ano lectivo.
_ E você lembrou disso, mas não lembra como se resolve uma equação do segundo grau no método de vieti? Ah, falando nisso, vamos estudar.
_ Não desvia o assunto, vampiro. Quero ver.
_ Fazemos assim: você pode ver meus caninos. Mas só se conseguir me fazer rir.
_ Ebaaa. _ ergui os braços pra cima em sinal de alegria.
_ Vamos logo estudar _ ele tirou do bolso seu celular e viu as horas.
_ Porquê seu celular está todo ferrado? Porquê não compra outro? Esse é o modelo J7 da samsung? _ perguntei em disparada.
_ Dinheiro não cai das árvores.
_ Ah, fala a verdade. Você brigou com a sua mãe e por isso ela não quer te dar outro celular. _ cruzei os braços.
Ele não respondeu. E nem precisava. O olhar que me lançou foi mais do que suficiente pra eu me calar.
_ Vamos começar pela matéria que você tem mais dificuldade.
_ Ah sim. A matéria que tenho mais dificuldade é...
_ Eu sei que é física. Basta ver suas notas. _ me interrompeu.
_ Como você sabe tanto sobre mim, hein senhor vampiro?
_ Não me chame assim e pare de fazer perguntas, Veneto! _ ele aumentou o tom de voz ao mencionar meu sobrenome. _ você quer repetir de ano?
Achei fofo. Ele estava sempre com a mesma expressão facial e mesmo tom de voz. Saber que estava despertando algo diferente nele me deixou feliz.
_ Estudando ou não estudando não faz qualquer diferença. Eu vou morrer de qualquer jeito. _ dei com os ombros.
_ Não diga isso. Você não vai morrer a menos que seja por velhice. Não vou permitir.
_ Você não tem como impedir. _ abri um leve sorriso.
Ele me analisou firmemente.
_ Como você consegue? _ perguntou desviando o olhar.
_ O quê? _ arqueei a sobrancelha.
Ele olhou no quarto ao seu redor.
Meu quarto transmitia aquilo que eu gostava de sentir o tempo todo. Alegria. As paredes amarelo-vivo, as diversas fotos na parede com meus amigos e familiares, o armário branco, a janela logo na direção da cama, a roupa de cama também amarela com detalhes rosa, me davam motivação pra continuar sorrindo. Sem contar os pôsteres de pessoas que tiveram insuficiência cardíaca e sobreviveram.
_ Ser assim.
_ Feliz?
_ Chata _ ele abriu um sorriso ladino.
_ Você gosta desse meu jeito, pode falar a verdade.
_ Vamos começar, Valery.
{...}
_ Minha cabeça está torrando _ agarrei meus cabelos _ são quase sete horas. Eu não aguento mais!
_ A gente só está estudando faz seis horas, Valery.
_ E isso é pouco pra você? Sinto muito se eu não nasci com o cérebro de um gênio, ok?
Ele me encarou com uma expressão neutra.
_ Vamos terminar amanhã _ começou a arrumar os papéis _ você está cansada. Eu entendo.
O olhei aterrorizada. Podia jurar que ele iria brigar comigo, mas não. Ainda disse que me entendia!
_ Você precisa descansar. Sua mãe me disse que chega as sete. Então, eu recomendo que você se alimente mais uma vez.
_ Ok.
Ele pegou na sua mochila e se levantou da cadeira.
_ Descansa. Não é pra ficar perambulando por aí. É pra descansar. Caso a sua mãe atrase, você tem remédio pra tomar as sete em ponto. Eu vou ligar pra você quando der a hora porque eu sei que você vai se esquecer. Vou ligar em vídeo chamada pra saber se você tomou mesmo. Assim que eu sair pela porta da frente, você só vai levantar pra comer.
_ Tá bom, mamãe _ revirei os olhos
_ Pensando bem...
Ele saiu do quarto e minutos depois voltou com um prato do macarrão cheio de legumes que ele tinha feito mais cedo, um copo de água e outro com suco de beterraba.
_ Quero ver você se levantar agora. _ arqueou a sobrancelha.
_ Eu não gosto de suco de beterraba.
_Eu também não. Ninguém gosta. Mas você precisa disso pra aumentar sua hemoglobina e reduzir as chances de precisar de uma transfusão de sangue. Andei pesquisando e percebi que no seu estado de saúde, levar uma transfusão pode reduzir a sua imunudade.
Eu o encarei. Seu rosto estava neutro. Ele dificilmente esboçava alguma reação além de aborrecimento.
Ele estava cuidando de mim com tanta dedicação. Como se realmente estivesse preocupado comigo. Me perguntei porquê ele estava me tratando tão bem.
Será que minha mãe estava pagando ele?
_ Obrigada por cuidar de mim, Marcus. Não consigo imaginar alguém que não seja a minha mãe ou a Desteny cuidando de mim assim.
Ele me encarou e antes que pudesse dizer qualquer coisa, Desteny adentrou o quarto.
●●♡●●
VOCÊ ESTÁ LENDO
Todo O Sangue Que Meu Coração Não Pôde Bombear
RomanceInsuficiência cardíaca, muitas vezes descrita como insuficiência cardíaca congestiva, é uma condição em que o coração é incapaz de bombear sangue na corrente sanguínea em quantidade suficiente para dar resposta às necessidades do corpo. Desde bem...