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_ Sua caligrafia era quase ilegível _ comentei enquanto folheava o caderno dele do ano passado, enquanto ele estava lendo um livro.

Ou pelomenos tentando, porque ele estava na mesma página faz uns dez minutos.

_ Hum. _ele murmurou simplesmente.

_ O que você tá lendo?

_ A sutil arte de ligar o foda-se _ ele disse. _ não consigo me concentrar. _ ele fechou o livro _ então, achou alguma matéria na qual você tem dificuldade?

Pensei. Na verdade, havia folheado quase nada, então não havia achado nada que não soubesse resolver. Mas aí, eu lembrei da tabela de frequência.

_ Sim. Tabela de frequência.

_ Ok. Eu também demorei uns dias pra entender direito como funciona. Pra resolver, você precisa primeiro selecionar o objecto de estudo. Convenhamos que a gente esteja tentando descobrir percentagem de jovens num determinado lugar. Para isso, precisamos primeiro selecionar quais são as idades e...

Eu gostaria muito de conseguir prestar devida atenção no que ele estava falando, mas desde o nosso quase beijo, eu não consigo prestar atenção em mais nada. Só conseguia prestar atenção no movimento de seus lábios e me condenei por pensar em como seria se eles realmente tivessem se unido aos meus. Não pude evitar sorrir.

_ Entendeu?

_ Ahm? Oque? _ perguntei confusa _ ah sim. Tendi. _ menti.

Ele suspirou.

_ Dessa vez eu vou explicar de novo mas você vai me acompanhar, ok?

_ Sinceramente, não estou conseguindo me concentrar. _  joguei a cabeça na secretária.

Ele suspirou novamente e murmurou um "também não. Pela primeira vez na minha vida".

_ Val _ ele me chamou _ a Destany entende de estatística?

Assenti.

_ Então ela pode te ajudar, certo?

_ Não sei se ela virá hoje. Ela tinha umas responsabilidades a cumprir. Mas vou mandar uma mensagem pra ela _ peguei meu celular.

_ Não. Deixa pra lá. Eu vou pegar uma água, você quer? _ ele se levantou.

_ Não gosto de beber água. Já te disse _ resmunguei.

_ Daqui a pouco vai ter insuficiência renal também _ Marcus revirou os olhos, me fazendo rir.

Ele saiu, indo buscar água pra nós dois e eu aproveitei ler um pouco mais. Até que no final da página, achei um nome que parecia estar no meio de uma frase, só que a mesma foi apagada.

_ Quem é Vinnie? _ perguntei quando Marcus regressou.

Ele imediatamente arregalou os olhos e fechou o caderno.

_ Ninguém _ disse, fingindo beber a água que trouxera.

_ Não parece ser "ninguém"_ sorri _ você sabe que eu não vou te deixar em paz até me falar, não sabe?

Ele revirou os olhos e eu continuei o encarando esperando uma resposta.

Bufando, ele tirou a carteira do bolso e de dentro, tirou um bilhete de identidade. Virou o objecto pra mim com o rosto tomando uma coloração rosada.

Quando encarei o objecto, mal pude acreditar.

_ Seu primeiro nome é Vinnie? _ questionei nem esconder a indignação no meu tom de voz.

_ É.

_ E porquê você não me contou? Todo mundo chama você de Marcus.

_ Porque eu detesto esse nome. É estranho e não combina comigo _ ele explicou _ Vinnie _deu uma risada sarcástica.

_ Mas é lindo. _ sorri _ e engraçado.

_ Exatamente. Não combina comigo.

_ Agora eu só vou te chamar de Vinnie.

_ Por favor, não. _ ele pediu _ eu faço qualquer coisa, mas não me chama desse jeito. Principalmente na frente de outras pessoas.

_ Não há nada que me faça não querer pronunciar esse nome o tempo inteiro _ eu ri e me levantei da cadeira pra alongar _ Vinnie, Vinnie, Vinnie _ cantarolei.

_ Para _ ele pediu dando risadas.

_ Não obrigada, Vinnie. _ provoquei.

_ Se você não parar, eu vou...

_Vai fazer o quê?_ o interrompi e ele começou a correr atrás de mim _ paraaaa. Eu não sei correr _ corri pelo quarto e pulei sobre a cama.

_ Isso explica suas notas à educação física _ ele riu e pulou na cama atrás de mim.

O impulso fez com que eu caísse sentada na cama e ele aproveitou a deixa pra me encher de cócegas.

_ Paraa _ gargalhei, implorando enquanto ele ria da minha cara _ para de graça.

_Vai me chamar de Vinnie de novo?

_ Vou _ disse e ele ameaçou me fazer cócegas novamente _ tô brincando. Não vou não. Prometo.

_ Promete mesmo?

_ Prometo. Eu juro _ exclamei e só assim ele parou.

Encarei seu rosto sorridente enquanto tentava me recuperar da risada e meu coração se encheu de alegria.

Ele estava feliz. Depois de muito tempo ele estava feliz de verdade nem que fossem por esses breves momentos.

Era como se até as olheiras de pura exaustão tivessem sumido de seu rosto. Seus olhos não estavam mais banhados pela escuridão, como se a todo momento desconfiassem de algo. Seus olhos transborfavam de alegria.

Provavelmente ele percebeu que eu estava o analisando, porque seu sorriso foi sumindo e seus olhos que antes estavam fixos nos meus, agora estavam assumindo alternância entre eles e a minha boca entre aberta.

Eu ainda estava deitada quando inclinei meu rosto na direção dele.

_ Val... _ ele sussurrou.

_ Cala a boca, Vinnie _ puxei seu rosto na direção do meu e por poucos segundos eu pude sentir seus lábios nos meus, mas seu celular começou a tocar.

Eu não quis deixa-lo, mas ele tinha que atender.

_ Vai lá _ ele revirou os olhos e ergueu o tronco. Quando olhou o celular, toda a coloração que seu rosto tinha tomado havia rapidamente sumido.

_Eu preciso ir agora._ ele pegou na mochila.

_O quê? O que aconteceu?_ me levantei preocupada.

_Eu realmente preciso ir. Me desculpa. Eu dou um jeito de te explicar a matéria pelo celular ou amanhã antes da sua prova. Fica bem. Não se esqueça da medicação. Tchau._ ele saiu sem antes me dar a chance de responder.

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Todo O Sangue Que Meu Coração Não Pôde BombearOnde histórias criam vida. Descubra agora