VII. Garota de Nova York

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A escola no dia seguinte parecia ainda mais amedrontadora do que nos dias em que eu não conhecia ninguém. A mensagem enigmática da noite passada continuava a pesar em meus pensamentos, deixando-me inquieta e ansiosa.

Perdida nesse turbilhão de preocupações, não percebi que estava batendo meu lápis com força crescente sobre o livro. O som rítmico e insistente do grafite contra o papel finalmente chamou a atenção de alguém. Uma mão suave pousou sobre a minha, silenciando o barulho e me tirando do transe. Ergui os olhos e encontrei um rosto desconhecido, um garoto asiático com um sorriso caloroso

- Algo te incomoda? - ele murmurou baixinho, cuidando para que a professora não ouvisse.

A sala de aula estava silenciosa, exceto pelo suave sussurro de vozes e o ocasional farfalhar de páginas viradas. A luz do sol entrava pelas janelas, criando um contraste quase irônico com o peso de meus pensamentos. O garoto ao meu lado continuava a me olhar com uma expressão de preocupação genuína, esperando minha resposta.

Eu hesitei por um momento, considerando se deveria ou não compartilhar minhas preocupações com um estranho.

- Só estou um pouco distraída - respondi finalmente, tentando manter um tom de voz neutro. - Muitas coisas acontecendo ao mesmo tempo.

Ele acenou compreensivamente, sem pressionar por mais detalhes, e retirou a mão, permitindo-me retornar ao meu espaço pessoal.

- Por sinal, eu sou Bruce, Bruce Yamada - ele apresentou-se com um riso baixinho. - Nunca te vi por aqui antes.

- Eu sou nova - respondi, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha, sentindo um leve rubor subir ao meu rosto. - Vim de Nova York.

Bruce assentiu, o sorriso permanecendo em seu rosto. - Nova York, hein? Deve ter sido uma baita mudança pra cá. E aí, como tá rolando com a galera nova?

Eu ri e dei de ombros. - Eu me viro, sabe como é.

- Saquei, garota sem nome. - ele batucou os dedos no livro, esperando minha resposta.

Soltei uma risada frouxa e molhei os lábios com a língua levemente antes de continuar. - [Nome], prazer, Bruce Yamada. - Estiquei uma das mãos, mas logo percebi que havia oferecido a mão errada, a que ele não podia apertar por estar com o braço quebrado.

Ele riu, um som suave e caloroso que cortou a tensão no ar. - Ops, mal aí - murmurei, trocando de mão e apertando a que ele estendeu com cuidado.

- Prazer em te conhecer, [Nome] - disse Bruce, o sorriso permanecendo no rosto.

De repente, um barulho alto no fundo da sala de aula atraiu nossa atenção, assim como a da professora. Era Vance. Meus olhos percorreram o chão, onde papéis estavam espalhados, até encontrarem o rosto dele. Nossos olhares se cruzaram, e ele parecia visivelmente emburrado com algo.

Assim que meu olhar se encontrou com o dele, o rapaz desviou rapidamente o olhar para a janela, revirando os olhos com uma expressão de frustração que me deixou intrigada.

A professora lançou um olhar severo para Vance, mas ele parecia indiferente, voltando-se para os papéis no chão com uma expressão de irritação. Ela não disse nada, apenas suspirou fundo e pareceu tentar manter a calma.

- Ele sempre é assim? - murmurei para Bruce, tentando parecer casual.

Bruce seguiu meu olhar e suspirou levemente.

- Vance é um cara legal. Crescemos juntos, mas ele é meio introvertido e tem seus altos e baixos.

Levantando-se da cadeira, Bruce recolheu os papéis espalhados pelo chão e os devolveu à mesa de Vance. O loiro, ainda de costas, observava a paisagem pela janela, sem dar um aceno de agradecimento sequer.

Bruce, sem se deixar abalar, balançou a cabeça ligeiramente e voltou para o seu lugar. Ele se acomodou na cadeira, soltando um suspiro quase inaudível.

- Vocês não eram amigos? - perguntei, a curiosidade me impulsionando a entender a dinâmica entre eles.

Bruce me lançou um olhar que misturava tristeza e aceitação.

𝐏𝐨𝐧𝐭𝐨𝐬 𝐝𝐞 𝐕𝐢𝐫𝐚𝐝𝐚 - Vance Hopper x ReaderOnde histórias criam vida. Descubra agora