20/07/2024

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Any Gabrielly

Josh vai embora na segunda-feira.
Odeio o termo “bolsa esportiva” e tudo que se refere a ela. Meu namorado terá que ir para UCLA mais cedo, estamos em seu quarto arrumando suas malas e eu não consigo pensar em outra coisa a não ser “daqui pra frente” nós adiamos essa conversa todas as vezes que um dos dois tentava puxar o assunto, mas agora não tem mais o que fazer, estou a quase duas horas tentando falar sobre mas eu travo toda vez que seu nome sai da minha boca, eu sei que de hoje não pode passar, sei que quando um dos dois começar a falar sobre não terá como adiar, sei também que nós dois temos o mesmo pensamento quanto o seguir a partir daqui. E é por isso que não temos coragem de começar a conversa.
– Eu tô com fome… - Josh diz do nada me tirando dos meus pensamentos e percebo que já estou a algum tempo dobrando suas camisetas e colocando na mala no automático, as peças em cima da cama já estão acabando e eu nem percebi.
– Sua mãe disse que deixou sanduíches prontos na geladeira - digo sem o encarar.
– Any, o que foi? Você está em todo canto, menos aqui, acho que já tentei chamar sua atenção umas dez vezes e você continua olhando para um ponto fixo nessa mala.
– Tô arrumando as camisetas - Aponto a mala.
– Olha pra mim! - Ele pede e se senta ao meu lado, eu encaro ele, que continua – Você não me deu um beijo hoje, chegou, me deu um oi super seco, sentou aí e pediu as roupas sem nem olhar na minha cara, porque tá assim?
– Se eu olhar para você, eu vou chorar. - digo simples.
– Amor? - Josh me puxa para um abraço depois de questionar algo que ele sabe muito bem do que se trata.
– Eu achei que seria mais fácil, Josh, nós já sabíamos que ia ser assim a mais de um mês…
– Any, a gente vai dar um jeito.
– Nem você acredita nisso.
– Você acha que devemos terminar? - Josh pergunta e eu então o encaro.
– Você acha que daremos certo a distância?
– Acho que poderíamos tentar, mas a balança pende mais para o lado que não vai dar certo…
– Eu penso o mesmo, e tenho medo do “tentar” desgastar o que temos… A gente já falou sobre isso…
– Não é como se nunca mais fossemos nos ver, a gente pode ter vários remembers nos feriados - Ele brinca.
– Faça o favor de estar solteiro toda vez que eu vir a Los Angeles, ok?
– Pode ter certeza. - Ele me dá um selinho.
– A…a gente conversou sobre, então?...
– Acho que sim…
– Estamos terminando? - Pergunto e o olho do garoto enche de lágrimas.
– Não hoje, espera eu ir embora, quando eu pisar na UCLA nós dois saberemos que acabou…por agora…
– Por agora, a gente ainda tem umas 36 horas juntos - sorrio fraca.
–Eu me recuso a gastar nossas últimas 36 horas arrumando malas. - Ele sorri de lado.
– E o que você tem em mente? - Pergunto no mesmo tom.
– Eu queria na verdade alugar um Airbnb pra gente, no meio do mato, sem sinal, sem roupa, sem nada, só eu e você e nossas últimas 36 horas.
– Sem roupa? - pergunto maliciosa.
– Saiu sem querer - ele brinca e nós rimos.
– Vou sentir tanto a sua falta, Josh.
– Any, a gente ainda pode ser amigo, a gente pode conversar, pode se ver quando tiver saudade, a gente só não vai ficar se cobrando e cobrando o outro pela distância.
– Você precisa me prometer que se você começar a namorar, precisa me bloquear das coisas, Josh, é sério, eu não quero ver foto sua com uma líder de torcida gata da UCLA, ok?
– Any, você acha mesmo que eu vou namorar alguém que não seja você? - Ele me encara sério – Passei 18 anos da minha vida te esperando, agora que eu sei como é incrível ter, você acha que não consigo esperar mais 4?
– Josh, para de graça, tô falando sério.
– Any, você não vai ficar sabendo se eu dormir com alguém, te prometo!
– Ai que nojo, não quero nem imaginar - faço careta.
– Se você preferir eu viro Frei, entro em um celibato. – Ele brinca.
– É, na verdade, eu prefiro sim. – Entro em seu jogo
– Pois bem, Frei Beauchamp, agora! - Ele diz me empurrando para o lado
– Besta! - Me grudo nele mais uma vez – Você pode ficar com quem quiser, mas eu prefiro não saber, ok?
– Tudo bem, meu bem… Essa conversa é tão estranha. - diz fazendo careta.
– Muito! - concordo. – Vamos parar de falar disso, por favor…
– Vamos descer pra comer os tais sanduíches - ele dá de ombro e se levanta da cama.
Respiro fundo e o sigo até o andar de baixo de sua casa.
Nós deixamos o assunto “término” morrer de verdade pelo resto do dia, comemos os sanduíches que sua mãe tinha deixado para nós, e voltamos a mexer em suas malas, dessa vez com mais agilidade pois decidimos não nos estender até amanhã com essa arrumação.
Por volta das nove da noite nós tínhamos empacotado tudo que Josh achava importante levar para universidade. Pouco depois seus pais e irmão chegaram da rua, não sei ao certo onde os três tinham ido, mas sei que voltaram com várias peças de comida japonesa e isso me alegrou em níveis enormes. Já tinha avisado aos meus pais que dormiria na casa do eu namorado hoje, vamos dizer que eles, le-se meu pai, estão mais flexíveis essas últimas semanas, sabem que é meus últimos momentos com o garoto, acho até que esse compromisso dos Beauchamps também tem haver com nos deixar mais à vontade. Não sei, todos estão agindo meio estranho, inclusive meus amigos, depois que Joalin foi  embora realmente caiu a ficha de que nós não estaremos mais todos juntos e tudo está mudando aos poucos, sempre achei que a loira que morava do outro lado da rua fosse o elo do nosso grupo inteiro, mas nunca percebi o quanto ela era importante para todos.
– Any? - Tia Úrsula me tirou dos devaneios e eu a encarei confusa – Você está brincando com os hashis a uns cinco minutos, tudo bem minha menina?
– Está sim, tia… Só estou pensando que realmente viramos adultos… - dei de ombros.
– O início é bem desafiador, mas tenho que vocês tiraram de letra, agora é tudo até mais fácil, vocês têm as redes sociais para ficarem mais próximos, no nosso tempo não era assim… - O senhor Beauchamp afirmou e Josh e eu nos encaramos ao mesmo tempo. Sei exatamente o que está passando em sua cabeça, pois passou na minha também, mas respirei fundo afastando todos os pensamentos e peguei um temaki na peça, e mordi para ter a desculpa da boca cheia quando não responder a nada.
Quando terminamos de comer me ofereci para tirar a mesa e lavar a louça, Josh logo se prontificou a me ajudar, mas sua mãe lhe expulsou da cozinha dizendo que iria usar esse tempo para que eu ensinasse a ela a receita de um doce brasileiro que vó Clara sempre fazia e ela já tinha tentado algumas vezes mas nunca acertava as medidas ou o ponto.
– Brigadeiro? - questionei depois dos três homens saírem do cômodo.
– Sim, mas não é isso, já cansei de tentar fazer, nunca chega aos pés do de sua avó! - Eu a olhei confusa - Vocês conversaram sobre como vão ficar? - ela perguntou e eu ri fraco.
– Preferia falar sobre brigadeiro, ok? - brinquei começando a lavar a louça que minha sogra já tinha recolhido da mesa. – Não ficaremos. - disse por fim.
– Como assim? - ela me encarou incrédula.
– Úrsula, não vai ser bom pra nenhum dos dois, eu sou insegura e Josh é mulherengo, não vai dar bom se eu achar que toda menina que se aproximar dele é uma potencial traição e eu me conheço, sei que vai acontecer.
– Dele te trair? Any, eu criei…- Ela inicia, mas eu logo a interrompi, explicando.
– Não, não dele me trair, sei que vai acontecer de eu achar que está, e ele pode me provar por A+B que é coisa da minha cabeça, mas eu sei que sempre vou estar desconfiada.
– Vocês pensaram na possibilidade de pelo menos tentar? Você ouviu Ron, é muito fácil manter um relacionamento à distância hoje em dia, vocês podem se falar a qualquer momento.
– Nós pensamos nisso, mas eu tenho muito medo de não dar certo, a gente se desgastar e parar de se gostar..
– E é melhor se afastar de uma vez? - Ela pergunta e eu rapidamente nego com a cabeça.
– Nós combinamos algo, pelo menos tentaremos ser só amigos, sabe? Talvez a gente perceba que um relacionamento pode dar certo ou apenas confirme o que já estávamos prevendo, mas vamos continuar mantendo algum contato por enquanto.
– Entendi, só não quero que vocês se percam no que tem e no que são, não apenas como um casal, mas também individualmente, vocês dois cresceram muito juntos nesses últimos meses Any.
– Eu também não quero nada disso, eu queria muito que tudo fosse diferente, talvez não ter aberto as outras cartas, ou não ter concordado com uma segunda chance na NYU… - Volto a mexer na louça não a encarando quando declaro.
– Minha linda, nunca diga isso, é o seu sonho, assim com a UCLA é o sonho dele, você não pode se martirizar por seguir seu sonho! - Ela diz e eu a encarei sorrindo fraco – Independente do que acontecer e do que vocês virarem daqui pra frente, não nos distancie novamente, Any, você sempre será uma das minhas pequenas, ok? Eu respeitei seu luto e seu espaço da primeira vez, mas se você nos deixar mais uma vez, serei insistente em mudar.
– Tudo bem, tia, prometo que sempre voltarei para vocês independente do que acontecer.
– E você e meu filho ainda tem muita lenha para queimar, não se preocupe Any, vocês vão se encontrar no momento certo.
– Eu espero muito isso! - desligo a torneira depois de terminar a tarefa e me viro para ela a olhando nos olhos – eu amo seu filho, tia, sei que somos muito novos e que tudo nas nossas vidas pode mudar, mas eu tenho bem poucas certezas na vida, mas a principal delas é que Josh me faz muito bem e eu imagino um futuro pra gente, eu espero mesmo que ele não se apaixone na faculdade.
Úrsula passa a mão em meu rosto e percebo que está secando lágrimas que nem percebi que tinham caído, ela me abraça forte e mesmo sem dizer nenhuma palavra sei que ela entende tudo que se passa na minha cabeça.  
Nós duas ficamos uns cinco minutos abraçadas em silêncio até Josh interromper o momento.
– Mãe, eu sei que minha namorada é a melhor companhia do mundo, mas eu preciso roubar ela por um instantezinho, tem como? - Ele pergunta e ela me solta, me dá um beijo na testa e encara Josh, Úrsula tem essa coisa de conversar sem dizer e sei que ela e Josh estão trocando longas frases nesses míseros segundos que ele a ficou encarando até que eu chegue ao seu lado.
– Tudo bem? - Ele pergunta quando passo por ele, concordo com a cabeça antes de subir as escadas da casa e voltar a seu quarto.
– Josh, você acha que seu pai está certo? - Pergunto assim que o garota fecha a porta atrás de nós
– Sobre ser mais fácil? - Concordo com a cabeça – Não sei Any, talvez…
– Você acha que estamos errados?
– Eu acho que a gente forma uma boa dupla e que vai conseguir passar por esses quatro anos independente de como for, mas nossa ideia é boa e pode dar certo.
– E se a gente ver que talvez dê pra seguir um relacionamento? - pergunto meio desconfiada.
– Ai eu vou até New York só pra te pedir em namoro de novo. - Ele diz e me dá um selinho. – Meu bem, nós combinamos de não falar disso por agora.
– Tudo bem, é que ficou martelando aqui…
– Uhum - Ele concorda e me pega no colo distribuindo vários selinhos por todo meu rosto – Mas agora a gente poderia usar o restinho de tempo que temos pra namorar um pouco, não acha?
– Adoro a ideia - respondo e seguro sua nuca puxando alguns fios de seu cabelo.
Josh me deitou na cama, tirou minha roupa com todo cuidado do mundo, como se eu fosse uma pedra preciosa e me levou ao delírio por horas a fio, chegando ao ponto de eu ter que abafar meus gemidos no travesseiro apenas por suas investidas orais.

Notas

Simplesmente está acabando, de verdade!
Nos vemos na segunda!

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Hideaway - Beauany StoryOnde histórias criam vida. Descubra agora