Epílogo

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Any Gabrielly - 13/06/2025

Estou voltando para Los Angeles.
Ainda não entendi como cheguei a essa conclusão, não sei se é realmente bom ou não, mas neste momento é o melhor para mim.
Nova York não é nem parecido com o que imaginei, eu sabia que não seria um conto de fadas mas esteve muito longe do que idealizei, é corrido, é sujo e as pessoas são ignorantes o tempo todo. Durante os três primeiros meses eu chorava pelo menos três vezes na semana pela grosseria das pessoas, depois de um tempo aprendi a me adaptar.
Mesmo com meus avôs paternos a alguns poucos quilômetros de distância, me sentia mais sozinha do que quando perdi meus avós maternos, ainda mais depois que o contato com todos no lado sul ficou mais raso, assim como já tinha previsto. Nas primeiras semanas ainda mantinha contato com todos, Josh e eu estávamos até cogitando o namoro novamente, mas durou apenas o restante do verão e duas ou três semanas após o início das aulas, mas as rotinas agitadas e o fuso horário diferente fizeram as mensagens demorarem horas para ser respondidas, os telefones nunca serem atendidos, e tudo foi diminuindo. 
Achei que conseguiria ver meus amigos no feriado de ação de graças, mas não consegui ir para casa por conta de uma apresentação da turma de teatro musical, não que eu tenha me divertido muito também, porque o talento que todos viviam dizendo que eu tinha não chegava nem aos pés de todos os outros alunos da NYU e eu não consegui nem um papel minimamente relevante, a peça era uma original do professor e quando li o roteiro fiquei maravilhada, mas minha personagem apenas compria elenco nas cenas de dança e tinha uma única fala na peça de uma hora e meia.
Demorei três semanas para confirmar com minhas amigas que estaria com elas no feriado de ano novo, todos ficaram com a família no Natal e tínhamos combinado de passar a virada juntos, fazia quase seis meses que eu não via nenhum deles. Pensei até em ir na casa de Joalin no dia 23 quando cheguei, mas também não queria deixar  de ficar com minha família, que desde que me mudei ainda não tinha visto também.
O problema foi quando, um dia após o Natal, uma das monitoras do meu professor de teatro, que inclusive é um carrasco sem coração que não dá um “bom dia” para ninguém, informou por e-mail que ele tinha passado como trabalho extra, uma peça que rolaria em um off Broadway na noite de virada “atenção: é um evento muito exclusivo, por isso os ingressos serão vendidos apenas presencialmente nos dias 28 e 29/12, mas o teatro não é muito grande, não esperem até dia 29”
Resumindo, arrumei minhas coisas, adiantei minha passagem e enviei uma mensagem informando para minhas amigas que deveria voltar para Nova York no dia seguinte.
Joalin e Olivia vieram até minha casa tentando me fazer desistir, mas eu sabia que se queria ter um papel relevante no próximo espetáculo ou uma nota minimamente razoável no tópico de participação, não poderia desconsiderar essa peça. eu chorei por duas horas quando as garotas foram embora, não consegui ver Sabina pois ela estava no Colorado, tinha ido ver alguns parentes s só estaria em Los Angeles no dia seguinte. Eu e Josh não trocamos mais mensagens a quase dois meses então não me surpreendi com o fato de não termos nos visto, apesar de estar ansiosa para vê-lo.
No final a peça era Macbeth o que me irritou um pouco, não posso dizer que não gosto da obra, mas passa longe de ser uma das minhas favoritas, e nem era um musical. Ainda tive que fazer uma resenha sobre.
Janeiro foi frio e lento, algumas aulas foram adiadas por conta da neve nas ruas, não podia voar para Los Angeles porque não tinham uma previsão de volta as aulas, poderia ocorrer em um dia ou uma semana, estava muito frio para sair e explorar a cidade e podemos dizer que eu não era a pessoa mais fácil de fazer amizade então não tinha muitos amigos com os quais sair pra um brunch ou algo assim.
Em fevereiro a terapia voltou para minha vida, os sonhos da pior noite da minha vida voltaram a se fazer presente, eu não tinha de novo conseguido um bom papel nem para a musicalidade e nem para o drama, o isolamento tomou conta mais uma vez e nem minhas irmãs eu respondia direito, o que deixou meus pais muito preocupados, ocasionando em uma visita repentina em um fim de semana no qual eu não estava muito bem, daquele dia em diante prometi a minha mãe que voltaria a terapia e fiz também a mesma promessa que fiz a Josh, caso não me adaptasse eu iria voltar para Los Angeles.
As coisas não mudaram muito entre fevereiro e maio, mas o estopim da minha volta foi quando Nour foi internada no hospital com muita dor na barriga e voltou para casa cinco dias depois, depois de uma cirurgia para remover uma pedra no rim. Eu não pude visitar minha irmã no hospital por conta das provas finais, mas consegui um voo para o sábado de manhã e passei o fim de semana inteiro ao lado dela na cama.
Eu só percebi como estava com saudades de casa, da minha família e de Los Angeles naquele dia, voltar para Nova York no domingo à noite foi o mais difícil e então decidi que não ficaria mais nenhum semestre longe de casa.
Na segunda feira ainda com o pensamento da transferências, mas com duvida sobre tudo, mandei um e-mail para Steve, meu professor de Teatro do ensino médio, meu conselheiro e quem sujou a mão para conseguir que eu saísse da lista de espera da NYU, ele foi o primeiro a saber sobre minha decisão de voltar. Ele retornou o e-mail com um “Any, quando podemos falar por vídeo?” O que resultou em uma chamada por vídeo quase meia noite, para mim, do mesmo dia.
Steve conversou comigo sobre tudo, e ao contrário do que imaginei, foi super a favor do meu retorno ao lado sul depois de uma hora de ligação. Minha primeira opção era a UCLA, mas os programas de teatro eram muito diferentes dos da NYU e praticamente teria que reiniciar o curso, mas Steve me lembrou do campus da NYU em Los angeles, onde as grades eram as mesmas e talvez me adaptaria melhor, de começo ainda fiquei meio receosa, eu queria estar de volta com minhas amigas, com Josh, mas depois de muita análise e de me juntar com minhas amigas no sábado à noite, para mim era madrugada, e fazer um mapa detalhado dos bares que poderíamos nos encontrar entre uma faculdade e outra, que são a vinte minutos de distância. Decidi que minha transferência seria para o campus da minha universidade em Los Angeles.

Josh e Noah ficaram hospedados no apartamento das meninas no primeiro semestre, Josh no quarto que “seria meu” e Noah com Sina, mas os dois entraram para uma fraternidade onde moram os jogadores da universidade em janeiro, as meninas já tinham anunciado o quarto logo após a saída deles, mas por estar no meio do ano letivo e a maioria das pessoas já estarem instaladas e o fato das meninas não “simpatizarem” com ninguém que via o anúncio, o quarto ainda estava vago. Elas encheram meu saco para morar com elas, depois de muita insistência aceitei, mas já estou pensando em quanto de Uber vou gastar para atravessar a Sunset Blvd todos os dias. Talvez fosse a hora de aprender a dirigir de verdade.
No quinto dia de Junho já tinha empacotado todas as minhas coisas e fechado todas as caixas, contratei um caminhão de mudança de porte pequeno e mandei minhas coisas um dia antes da minha viagem de volta de avião. Passei a última noite com meus avós e quando voltei para casa minhas coisas ainda não tinham chegado, mas já estava abrindo espaço para as coisas que não caberiam no novo quarto.
Hoje meu quarto já está arrumado no apartamento das meninas, que fizeram uma festa do pijama para comemorar minha volta à dois dias atrás. Agora estamos nos arrumando para sair, vamos ao Nick’s ouvir o namorado de Sabina e sua banda tocar e já me sinto bem mais em casa, apesar de estar nervosa, ainda não vi Josh desde o dia que cheguei e eu sei que ele sabe que voltei porque Noah foi deixar Sina em casa no dia que estávamos arrumando a mudança e não escondeu a felicidade em saber que tinha voltado, mesmo que para uma faculdade diferente, não acho que ele tenha deixado de comentar com Josh, mas não recebi nenhuma mensagem. As meninas me disseram pouco sobre ele, mas aparentemente ele está solteiro e um tanto mais fechado do que era antes.

Chegamos no Nicks às oito e já estava lotado, alguns alunos da High estavam lá, inclusive minhas irmãs, que já tinham me dito que iam também, nosso camarote ainda era nosso, as meninas falaram sobre como ainda iam muito no nicks quando passavam o fim de semana em Laguna Beach. Ele estava sentado em um dos sofás mexendo no celular, eu o vi antes que ele me visse e dentro de mim uma chama se ascendeu, estava com saudade até de estar no mesmo lugar que ele, então travei, não sabia como falar com ele, como me portar ali.
– Any! - Noah chamou meu nome, mas não tirei os olhos do garoto e pude ver cada segundo de sua reação quando ele levantou a cabeça e seus olhos encontraram os meus, seu sorriso era como aqueles que ele dava quando me encontrava na torcida depois de um touchdown e ali percebi que nós ainda tínhamos chances.
Josh levantou no mesmo segundo e veio em minha direção.
– Eu só preciso que você me diga que está solteira - disse antes de qualquer outra reação, eu ri e confirmei com a cabeça e então meu melhor amigo de de infância que virou um colega irritante, namorado e ex namorado me deu um beijo que carregava toda a saudade que nós dois estávamos sentindo.
Nossos amigos aplaudiam e gritavam nos fazendo passar vergonha, e escutei um “Joalin vai pirar quando souber disso”, terminamos o beijo rindo.
– Você é doido, Beauchamp? - perguntei olhando em seus olhos.
– Doido por você, Gabrielly!
Nesse momento afirmei tudo aquilo que senti ano passado, quando é para ser aquela pessoa, não existe tempo ou distância que não nos faça reconectar, Josh sempre será meu porto seguro, meu refúgio.

Notas

O amor é lindo!
A vida é linda!
Tudo é lindo!

Bem, foi isso, gente!
Espero que vocês tenham gostado da história!
Fui muito bom viver esse ano com vocês!

Hideaway - Beauany StoryOnde histórias criam vida. Descubra agora