• Quando penso em você •

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Nicola

Estou até agora tentando entender por que eu fui até lá. Não havia necessidade. Poderia ter mandado uma mensagem antes de aparecer. Olho para minhas mãos; levei livros e coisas para distraí-lo. Sei que ele adora jogos, até comprei alguns...

— Deveria ter deixado para ele? Não dá para jogar Banco Imobiliário sozinha.

Joguei as coisas em um canto e resolvi ler. Sempre me animo com uma boa leitura. Agora que não posso estar com ele, sinto que tudo está chato. Sempre temos coisas para fazer juntos, e é um tédio ficar sozinha. O que é estranho, porque geralmente eu prefiro a solidão. Eu não sou o tipo de Luke, antissocial, mas odeio ficar muito tempo em evidência... talvez eu seja um pouco como Penélope: não queria ser invisível, mas não gosto de ter toda a atenção.

Agora, em todos os lugares que eu for, haverá fotos minhas por toda a internet. Não poderia fazer nada de errado, nem se quisesse. Meu quarto está uma bagunça. Eu não deixei ninguém entrar; quero manter a aparência de organizada. Sim, eu tenho medo de que digam que sou bagunceira. Vou arrumar antes de deixar qualquer funcionário entrar aqui. Agora Luke deve ter percebido que o que aconteceu foi apenas coisa da cabeça dele.

Eu lembrei de quando nos conhecemos. Foi no dia do primeiro ensaio. Ele deve lembrar melhor do que eu, mas não sabia que ele não era muito de contato físico, e dei um longo abraço nele. Acho que, desde que tiramos um tempo para nos conhecermos melhor, não nos desgrudamos no set. Eu não sei, nossa conexão foi extrema e tínhamos muito o que conversar.

São quase sete horas, e eu estou entediada, mesmo com esse maravilhoso livro de John McGahern, um romance que eu estava ansiosa para ler. Não consigo apreciar um romance neste momento. Minha vida nunca esteve envolvida neste tipo de trama, e eu nem vou falar da diferença entre nós dois. Quando penso que ele ainda é tão jovem, entendo algumas atitudes. Não só pela idade; nossas mentes funcionam de maneiras distintas, e isso poderia ser um fardo.

E eu não estou inventando desculpas. Aceito que Luke mexe comigo de alguma forma, mas isso aconteceria, e acontece, com qualquer mulher que o conhece. Ele é doce, bonito, gentil, e a forma como se porta, sendo um exímio cavalheiro, deixa qualquer mulher minimamente inteligente apaixonada. Não estou dizendo que é o meu caso; afinal, eu não sei o que é sentir algo assim por alguém...

Seria ridículo pesquisar sobre isso na internet? Bom, eu estou sem esperanças, mas não custa nada. Digitei: "quais os sintomas de alguém apaixonado?" Como se fosse uma doença. E lá estavam várias matérias sobre como você pode descobrir. Algumas coisas eram óbvias: taquicardia, excitação e vício! Insônia eu já tenho desde que completei 30 anos; desculpe, Luke, esse mérito é todo meu. Felicidade... sim, Luke me deixa feliz. Quando faz coisas que sabe que eu gosto de fazer, mesmo que eu saiba que ele odeia.

Os outros sintomas são falta de apetite e fixação. Estou sem fome agora e não paro de pensar em Luke já faz algumas horas. Isso significa que estou apaixonada? Não. Só que sou uma boa amiga e não sou esfomeada. Melhor esquecer tudo isso.
Aproveitei que estava de cabeça quente para tomar um banho. A melhor coisa que poderia fazer. Uma hora depois, eu deveria ir jantar e me arrumei para sair. O hotel estava irradiando energia. Sentei-me em uma das mesas que estavam mais afastadas, buscando meu conforto e privacidade. Achei muito atencioso da parte deles me deixarem em um lado mais isolado. Eu não estava mesmo afim de ver ninguém. Queria experimentar um prato que me chamou a atenção. Chamava-se pot-pourri brasileiro. Nem sei o que é, mas o nome era engraçado.

Serviram-me algo que parecia farinha de milho; eu achei que era porque era amarela. Mas era salgado e tinha pedaços de linguiça. O garçom disse que se chama farofa. Eu amei. Havia várias coisas misturadas e estava delicioso. Agora eu entendo o nome.

There is fire - NewghlanOnde histórias criam vida. Descubra agora