Capítulo XIX

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Postei e saí correndo. 🫣

Durante muitos anos eu vivi a minha vida extremamente focada no trabalho, sem nunca ter alguém de verdade ao meu lado para dividir as dores e cicatrizes que ganhamos ao longo da jornada. Relacionamentos curtos, rasos e sem expectativas de futuro, me deixaram mais frustrada do que me fizeram bem, e depois de tantos fracassos amorosos, parei de tentar. Era frustrante, cansativo e uma perda de tempo. Não acreditava que existisse um amor por ai, esperando por mim, por isso trabalhar era a única coisa que me fazia sentir viva e a única que eu conseguia fazer de melhor, então fechei os olhos para resto do mundo e trabalhei, trabalhei e trabalhei.

Perder a minha avó foi uma dor difícil de conviver, a ausência dela me deixou orfã do amor incondicional e diante de toda a dor, ser a profissional em tempo integral foi a maneira que encontrei de senti-la mais perto de mim, estar presente onde ela se dedicou a maior parte da sua vida, me deu forças para continuar em frente. Depois de tantos anos fazendo isso, se tornou algo habitual.

Os muros de proteção que eu construí e a casca dura que cresceu me protegiam do mundo lá fora, ninguém nunca conseguiu chegar até o meu coração, me fazer flutuar, perder o controle, a razão e me fazer sentir de verdade o coração bater acelerado no peito a ponto de conseguir escuta-lo, nunca conseguiram quebrar as barreiras, não até ela chegar na minha vida e fazer parecer tão fácil.

Kara me olhou com interesse, curiosidade, respeito e paixão. Sua maneira atrapalhada e sem jeito com que se aproximou, a risada gostosa e o sorriso fácil nos lábios, a conversa fluida, descontraída e interessante. Sem perceber, ela foi retirando barreira por barreira e a cada sorriso ela me ganhava um pouco mais, os olhares penetrantes e fixos sobre mim me destruturavam e me resconstruiam de novo. Sem perceber eu era a Lena de anos atrás, muito antes de experimentar a dor da traição, da perda e da solidão. Estava leve, feliz e extremamente animada pela possibilidade de algo novo.

Agora eu estou aqui, na casa dela, de mãos dadas e me permitindo ser guiada até o quarto. Estou tão entregue e tão feliz quanto eu estive naquela noite, se não mais. Não, tenho certeza que é bem mais, pois não consigo controlar o sorriso, meus olhos estão brilhando em ansiedade pra senti-la de novo, o meu coração está mais acelerado, batendo tão forte, tão forte que eu sou capaz de ouvi-lo e é como música, me faz sentir viva. Ela me faz sentir viva.

Ela me abraça quando fecha a porta do quarto e o beijo que se segue é diferente daquela noite, é mais suave e sem pressa, temos todo o tempo do mundo pra aproveitar o momento. Andando abraçadas devagar pelo cômodo escuro eu consigo sentir com mais intensidade suas mãos rodearem por minhas costas, cintura, quadril, nunca parando em lugar nenhum, na ansiedade de me sentir de novo, de me reconhecer de novo. Tenho a mesma necessidade de senti-la, por isso minhas mãos também rodeiam sua cintura, suas costas, sempre puxando-a para mais perto.

Como na primeira vez, ela explora cada canto da minha boca, nossas línguas se entrelaçam e se conectam, brigam pelo controle e pelo desejo de se sentir sempre mais. Puxo seus lábios quando o ar faz falta e sinto a sua respiração se misturar com a minha para logo em seguida seus lábios se curvarem em um sorriso. Ela aperta minha cintura com força deixando transparecer o desejo que sente, me vira de costas pra ela e volta a encostar seu corpo no meu, me pressionando com força e quando olho para cima posso ver o deslumbre do nosso reflexo no espelho de chão, apenas pela luz fraca que vem da rua, invadindo pelas frestas da janela.

Inclino minha cabeça pra trás e à apoio sobre seu ombro, estico meus braços e passo minhas mãos pela sua nuca, segurando-a e arranhando levemente, sinto a eletricidade percorrer por todo o meu corpo ao ouvir o suspiro baixo no meu ouvido e o leve roçar dos lábios dela na minha orelha.

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