Major Tom

Capítulo 7

Eram dez horas quando o carro de Tom parou na frente de sua garagem. Os minutos se passaram sem que ele descesse do veículo. As palavras não vinham e a falta de certeza de como dar a notícia para sua família o assustava. Então a porta da frente se abriu.

Sua esposa, envolta em um roupão, ficou claramente confusa ao ver seu marido parado dentro do carro sem sair. Tom respirou fundo, buscou no ar a coragem que lhe faltava, fechou os olhos com força e, quando os abriu, não havia medo, receio ou tensão, restava somente o rosto de sua esposa, com um misto de incerteza e carinho:

- Tom? Você não vai sair? Aconteceu alguma coisa?

O major apenas balançou a cabeça, desceu do carro e beijou a esposa, puxando-a pela mão para dentro de casa. Era chegada a hora.

Michelle e Rich estavam ambos sentados no sofá, sem nem imaginar o que Tom poderia contar. O garoto já se preparava para ir dormir, mas a chegada de seu pai, além de tirar o sono do garoto, acabou resultando em uma conversa.

- Eu tenho uma notícia muito importante. Vocês sabem que eu tô morando na base há algum tempo, treinando como astronauta substituto. Então, hoje eu recebi a notícia que vou substituir o meu colega Major Nelson. Eu vou para o espaço no domingo e fico cinco dias lá.

Em momento algum Tom tirou seus olhos de sua família. Acompanhou cada reação deles enquanto falava. Ao final, viu o sorriso de seu filho e uma lágrima que sua esposa correu para enxugar.

- Você vai mesmo pro espaço pai? Eu disse pra todo mundo na sala que você ia, mas ninguém acreditou. Mas eu sempre soube, nunca duvidei de que isso fosse acontecer!

O garoto correu para seu pai e o abraçou. A emoção se traduziu na força daquele aperto. Era orgulho misturado com alegria. Tom nunca tinha sido abraçado assim, era uma sensação nova, porém, uma que ele não iria esquecer.

- Posso ligar pros meus amigos e contar?

- Eu acho melhor deixar pra amanhã Rich. Já é tarde.

- Mas de amanhã não passa, né?

- Prometo que amanhã ligamos para todos! Eu até vou na casa deles se quiser. Só preciso voltar no sábado de manhã. Até lá, sou todo de vocês.

Rich comemorou, mas sua mãe lembrou que já passava da hora de dormir. O garoto subiu e Tom foi atrás para cobrir seu filho. Não se lembrava da última vez que tinha feito isso. Pai e filho ainda conversaram por mais de dez minutos, até que um bocejo do garoto indicou que era hora de encerrar o dia de vez.

Tom foi até seu quarto, já passavam das onze horas. Sua esposa passava seus cremes, sentada à frente do espelho montado na penteadeira do quarto. O astronauta foi direto para o banheiro, estava muito cansado e com os músculos doendo da tensão do dia. As primeiras gotas, sempre geladas, foram como raios nos ombros de Tom. O pequeno choque que sentiu foi suficiente para Tom fazer uma careta. As próximas foram mais quentes, relaxando os músculos. De banho tomado, colocou seu shorts de seda e foi para cama.

Michelle estava lendo um livro. Era clara a forma indiferente com a qual tratava Tom desde que contara a novidade. Ele não conseguia entender. Pensou que sua ida ao espaço iria trazer orgulho para sua esposa também. No tempo que levou para atravessar o quarto e deitar do seu lado da cama, Tom teve vários pensamentos: converso ou não? Discuto ou não? Pergunto ou não? Será o fim ou não? Mas acabou por não fazer nada. Apenas deitou e entregou a Deus a sua sorte. O sono veio e ele se deixou levar pelo cansaço.