Capítulo 5

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Na manhã seguinte, Tom foi preparado para se despedir daquela vida. Para ele não havia nada mais importante que sua família e, se não conseguisse transferência para outro posto, pediria dispensa do posto. Por ser o piloto de jato mais experiente de toda a região, acreditava ser possível pleitear um cargo de instrutor de voo. Pediu licença e entrou na sala de Chris.

Seu amigo estava com uma cara horrível: sua palidez era assustadora e embaixo dos olhos se encontravam olheiras horríveis. O susto fez com que ele repensasse se deveria ter aquela conversa, ou qualquer que fosse, para ser mais exato, mas tão logo Chris viu seu amigo, um sorriso tímido nasceu em seus lábios.

- Ainda bem que foi você quem entrou. Eu logo ia te procurar. Precisava estar com um amigo. A noite não foi nada fácil

- Mas o que aconteceu? Ontem quando você me deixou no dormitório você tava ótimo.

- É, mas de madrugada aconteceu uma fatalidade. Eu concedi uma saída para o Nelson visitar a esposa, mas acho que ele não foi vê-la. Ele deve ter ido em algum bar na cidade e encheu a cara. No caminho de volta ele perdeu o controle em uma curva e se espatifou nas árvores. Duas vezes.

Essas palavras acertaram Tom com uma violência inédita para ele. Suas pernas pareciam falhar e procurou refúgio em uma cadeira a frente da mesa de Chris. Tentava reconstituir as palavras de seu amigo, tentando encontrar esperança na sobrevivência de seu colega e, quase sem nenhuma, perguntou:

- Mas ele sobreviveu?

Chris tentou responder, mas não foi capaz. O silêncio tomou conta da sala. Tom respirava mais rápido agora, seu coração apertava em seu peito. Apesar de não ser grande amigo de Nelson, eles conviveram juntos no último ano. Tom até mesmo admirava seu companheiro, sendo ele a escolha certa para pilotar a nave experimental. E foi esse pensamento que trouxe à tona a nova realidade de Tom que, de um momento para o outro, se tornou o candidato principal do programa.

Suas mãos, antes só trêmulas, agora estavam geladas. Uma infinidade de pensamentos atravessou sua cabeça e foi tomado de uma preocupação que não conseguia entender a origem.

Passado um minuto, notou o egoísmo de sua preocupação. Como poderia ele se preocupar com algo tão banal quando uma esposa enviuvava? Será que Nelson tinha filhos? Sua preocupação retornará para a situação que entendia merecer tal atenção. Olhou para seu amigo, as lágrimas lhe lavavam a face. Ficou curioso se sua relação com Nelson era tão próximo quanto a que tinha consigo.

- Eu preciso avisar a esposa dele. Não sei como fazer isso Tom.

Nada mais foi dito quanto ao assunto. Chris se levantou e saiu da sala. Tom permaneceu por mais alguns minutos. Refletiu sobre tudo, sobre a fragilidade da vida. Um homem que treinava incessantemente para sobreviver ao espaço morreu em terra. Quem o matou, contudo, não foi uma árvore ou a chuva, quem roubou Nelson de seu futuro foi uma garrafa. O último pensamento de Tom só podia ser um: "Meu Deus, podia ser eu."

Major TomOnde histórias criam vida. Descubra agora