Capítulo 4

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Aquela madrugada foi uma das mais chuvosas dos últimos anos, talvez fosse a mais chuvosa da última década. O motorista do Chevy 67 preto corria como se a pista não visse uma gota de água a semanas, ultrapassando carros e caminhões. A sua frente só havia tartarugas dançando sob o manto de São Pedro.

A cena persistiu por mais vinte ou vinte e cinco quilômetros, ninguém soube ao certo, mas quando alcançou a curva do Km 81, a velocidade somada a falta de aderência da pista fez o motorista perder o controle, acertando em cheio a proteção lateral, a qual se desfez com o impacto.

Os bombeiros levaram quase uma hora para chegar ao local. Este era o terceiro acidente da noite e também creditavam a uma mistura de bebida e velocidade irresponsável. O tenente em comando foi o primeiro a descer a ribanceira. Ela estava muito escorregadia, o que gerou ainda mais atraso na tentativa de salvamento. Ao ver o carro, porém, abriu mão de qualquer esperança que tinha em salvar uma vida.

O corpo havia sido arremessado pelo vidro frontal quando o veículo colidiu com uma árvore, sendo que o motorista se chocou com uma segunda árvore a poucos metros dali. Seu crânio estava aberto ao meio.

O tenente, sendo o homem religioso que era, rezou pela alma que partia deste mundo. Pediu que a sua chegada ao mundo dos espíritos fosse a menos traumática possível e que ele se juntasse a irmãos de bom coração que o guiassem de maneira a encontrar a paz que o ser humano tanto precisa. Com o sinal da cruz, se despediu do estranho.

A escalada de volta não foi mais simples. Mesmo com anos de experiência em escalada – ele gostava de praticar escalada esportiva – não facilitou o percurso. Já cansado quando chegou ao topo, recebeu a ajuda de seus companheiros de equipe para retonar a terra firme.

- Como estão as coisas lá embaixo Tenente?

Se o suspiro não fosse indicativo suficiente, o homem explicou a situação:

- Ele morreu. Atravessou o vidro do carro e se chocou com uma árvore. Temos que esperar a polícia chegar. Enquanto isso, na traseira do carro tinha o adesivo da Base Aérea que fica a alguns quilômetros daqui. Pede pra alguém entrar em contato com eles e vir alguém aqui pra identificar o corpo.

Major TomOnde histórias criam vida. Descubra agora