O sexto dia havia chego. Tom já havia se acostumado com a falta de gravidade, então se movia com naturalidade na espaçonave. O computador havia feito o trabalho perfeitamente e as informações que o controle de solo recebia eram aquelas que eles esperavam. Era chegada a hora de levantar acampamento para o retorno para casa.
Os controles estavam normais, com exceção de uma luz piscante que Tom não se recordava:
- Controle de solo, aqui é o Major Tom.
- Major Tom, aqui é o controle de solo, prossiga.
- Controle de solo, a luz A78 está acesa e piscando. Vocês conseguem verificar?
- Com certeza Major. Só um instante.
O instante levou uma eternidade. Mais de uma hora havia passado sem qualquer retorno. Tom procurou no manual que estava consigo, contudo não houve sorte. Não fosse a indicação do número daquela luz de controle, nem mesmo seria capaz de reportá-la. Após quase duas horas, finalmente veio a resposta:
- Tom, aqui é o Chris. Você tá na escuta?
Por que Chris havia quebrado o protocolo? O coração de Tom acelerava e um frio correu por todo o seu corpo:
- Pode falar Chris.
- A luz que você reportou, nós verificamos que há dois dias ela emite um sinal para nós e por alguma razão houve um delay pra você receber essa informação. Você copiou?
- Eu copiei Chris.
- Certo. Bem, ela indica que há um vazamento no reator nuclear da nave. Nós não temos como auferir a extensão desse vazamento, apenas sabemos que ele existe.
O medo paralisou Tom. Ele estava em contato com radiação há dois dias sem nem mesmo ter ideia. Não sabia o que isso afetaria seu corpo e se ele seria afetado de fato. Seu silêncio foi compreendido por Chris.
- Eu preciso te falar outra coisa Tom. E essa é pior.
- Pode falar.
- Uma reentrada na atmosfera pode ser muito perigosa. Se, por qualquer razão, a nave pegar fogo, existe a grande possibilidade de explosão e o elemento nuclear poderá se espalhar por não sei quantos quilômetros. Isso pode destruir um quarto do planeta, atacando desde a água até seres vivos.
O silêncio no rádio agora era de ambos os lados. Tom havia saído da cabine e ido para o observatório. De lá olhou para a Terra e seu infinito movimento. Ele podia ver as nuvens e os oceanos. De maneira alguma poderia ser responsável por isso.
- Controle de solo, aqui é o Major Tom. É estranha essa sensação. Eu não sei quantos milhares ou milhões de quilômetros eu percorri nessa jornada, mas a sensação que eu tenho é de estar parado. Com as informações que me foram repassadas agora, eu estou entrando com algumas coordenadas que o computador da nave indicou. Aparentemente é um planeta próximo, mas fora do nosso sistema solar, que pode permitir a existência de vida.
Mais um silêncio. Nenhuma das partes se manifestava, A situação era por demais tensa. Aquele homem que havia ido ao espaço por apenas seis dias, não ia mais retornar. Na sala de controle, os analistas apenas se entreolhavam, nenhum falava. Não havia o que ser dito em uma hora dessas. Apenas a compreensão do sacrifício que o Major Tom fazia por todos, por um erro que nem mesmo tinha sido cometido por ele. Então o contato final:
- Controle de solo, aqui é o Major Tom. Alguns dos meus sistemas estão falhando. Nada que comprometa o deslocamento da nave, mas eu vou perder o rádio em alguns instantes. Eu só peço uma coisa. Digam a minha esposa e ao meu filho, que eu os amo muito e que eu olharei por eles eternamente daqui de cima. Controle de solo, aqui é o Major Tom desligando.
A emoção havia dominado a sala de controle. Todos choravam, em especial Chris, que tentou, em vão, um contato:
- Major Tom, aqui é o controle de solo. Os sistemas indicam uma pane no seu sistema. Você pode me ouvir Major Tom? - não houve respostas. - Você pode me ouvir Major Tom?
O analista que estava ao lado de Chris, retirou gentilmente o rádio de suas mãos e o colocou em sua base. Em seguida, abraçou o homem, que, reconhecendo a perda de seu amigo, caiu de joelhos desolado.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Major Tom
Fiksi IlmiahInspirada na música "Space Oddity" do David Bowie, "Major Tom" conta a história de um candidato a astronauta que não gostaria de estar nessa posição, mas se esforça para superar seus demônios internos e se tornar o herói de seu filho.