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CHAPTER TEN

Uma visita nada agradável.

LIZ COOPER

Recebo uma mensagem e verifico. É Ashtray, curto e direto: "Fez quer falar contigo".

Ignoro e volto para minha leitura.
Mais duas notificações chegam e depois os barulhinhos irritantes cessam.
Não acredito que eles realmente vão se intrometer.

Continuo folheando meu livro.
Aquela mensagem não vai ser visualizada tão cedo.

Ontem, Ashtray teve a brilhante ideia de aparecer na minha casa para verificar como estou.
Não me leve a mal, achei legal da parte dele se preocupar comigo, mas... Qual é!
Foi um sufoco explicar pra minha mãe a situação. Constrangedor. Imagine só o que ela estava pensando... Eu sozinha com um garoto dentro de casa.

E então, como se tivesse um poder de telepatia e pudesse ter acesso livre a minha mente, Ashtray faz uma ligação.
É... Agora não tem escapatória.

Largo o livro e atendo a chamada, levando o celular ao ouvido.
— Oi?
— Fez quer falar contigo.
— E precisava me ligar, só pra dizer isso?
— Sim, precisava. Você ia fingir que não viu minhas mensagens.

Será que ele realmente lê mentes?

— Quem disse? — protesto.
— Eu disse.
— Não respondi porque estou ocupada.
— Ah, ocupada é? Fazendo o quê?
— Estou lendo.
— Você e essas suas fontes chatas de entretenimento... — ele zomba — Agora para de desviar do assunto. Fez quer falar contigo.

Resmungo, me deitando na cama.
— Você contou pra ele?
— Óbvio que sim.
— Quanto você contou?
— Tudo que eu sei.
— Ashtray...
— Vai vir ou não? Ele quer falar com você hoje.

Suspiro dramaticamente.
— Não sei. Não quero que vocês se metam nisso.
— Tarde demais — ele solta uma risadinha sem graça do outro lado da linha. — Vai vir ou não?
— Não.
— Então a gente vai aí hoje.
— Nem pensar! Ficou maluco?
— Então é melhor você vir.

Penso por um momento. Se a resposta for "Ok, eu vou" ele me deixa em paz, mas aí vamos ter um problema. E, se a resposta for "não", também vamos ter um problema.
Ele percebe meu silêncio e começa a cantarolar "tic tac" do outro lado da linha.

— Você escolhe. — ele diz — Ou você vem, ou nós vamos.
— Ok. Eu vou.
— Ótimo.
— Agora posso ler meu livro em paz?
— É claro. Divirta-se.

(...)

Dou três toques na madeira e a porta se abre.
Ashtray está com seu clássico conjunto de moletom cinza.
— Olha só quem apareceu, Fezco — ele diz, abrindo espaço para eu passar.

Quando entro, encontro o ruivo sentado no sofá, os braços cruzados em frente ao peito. Está vestindo um moletom branco simples com calça preta. Ele me acompanha com o olhar até que eu me sente no sofá. Ashtray logo ao meu lado.

— Eaí, Liz.
— Oi, Fez.
— Ashtray falou sobre seu pai.

Um nó se forma em minha garganta. Os dois me encaram, atentos.
— Ele faz mais alguma coisa, Liz? — ele pergunta. Seu olhar preocupado, me analisando — Abuso sexual? Algo do tipo?
— Não. Nunca.
— Tem certeza?
— Sim.

Ele assente, ainda desconfiado.
— E com que frequência isso acontece?

Não adianta mentir. Então... Já que ele sabe, vamos abrir o jogo.
— Toda semana... Uma vez. Ou duas. Depende.
— Depende do quê?
— Do quanto ele bebeu. Do quanto está estressado... Depende de muitas coisas.

𝒀𝒐𝒖 // ᴀsʜᴛʀᴀʏOnde histórias criam vida. Descubra agora